Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
Publicidade

Serafina

Cineasta cearense se inspira em Chico Buarque para retratar mulher comum

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

O cineasta Karim Aïnouz adora aeroportos. Nascido em Fortaleza e morador de Berlim, na Alemanha, vai e volta da Europa várias vezes por ano. É autor de uma obra respeitada, que inclui os longas "Madame Satã" (2002) e o "Céu de Suely" (2006), entre outros.

Agora, prepara o lançamento de "O Abismo Prateado", que se passa no Rio de Janeiro e foi inspirado na canção "Olhos nos Olhos" (1976), de Chico Buarque. Alessandra Negrini é a protagonista, no papel de Violeta, uma mulher de classe média abandonada pelo marido.

Karim, 47, já trabalha na montagem de seu próximo filme, "Praia do Futuro", rodado no Ceará e na Alemanha, com Wagner Moura e Jesuita Barbosa.

"OLHOS NOS OLHOS"

"Nos meus trabalhos anteriores, a música tinha uma importância muito grande, mas entrava de uma forma meio intuitiva. Aí decidi fazer o contrário, criar um filme em cima de uma canção.
E 'Olhos nos Olhos' é uma verdadeira 'love song'. Comecei a imaginar quem seria a protagonista da música e aí surgiu a personagem da Violeta. Minha história é baseada em uma carta de amor que virou uma canção com o Chico, e a Violeta seria a autora da carta. O filme não conta a história da música, se passa antes dela."

RIO DE JANEIRO

"Foi a primeira vez que filmei no Rio. Foi incrível, tem umas intersecções muito únicas lá. Pode ser assustador, não porque tem gente que te assalta, mas porque a geografia é assustadora. Já fiz filme rural, mas não é muito a minha. Adoro cidades, jamais conseguiria viver em um lugar que não fosse uma cidade grande."

UMA MULHER COMUM

"Violeta não é especial. Eu queria um personagem para falar da classe média, não da exceção. Ela é isso, tem 40 anos, acabou de se mudar, tem filho e um consultório. A graça é conseguir fazer um filme onde exista certa originalidade em como as experiências comuns são contadas. No exterior, você vê bons filmes que não têm nada de excepcional, com personagens comuns. A gente também pode fazer isso, acho que o nosso cinema tem que recuperar esses territórios."

ABANDONO x COVARDIA

"A vida vai passando e parece que todo filme que eu faço fala do mesmo assunto. O abandono é um ato que permite que você se reinvente, e não que se torne vítima dele. Ele não é uma experiência paralisante, permite que o personagem se transforme.

Já a questão da covardia é uma coisa engraçada. 'O Abismo' tem muito isso, acredito que seja um traço da masculinidade medrosa. Mas, ao mesmo tempo que ser abandonado não te faz vítima, abandonar também não te faz vilão. A covardia está ligada ao masculino nos meus filmes, mas não ao masculino como vilão, não quero dividir o mundo entre o bem e o mal."

ABISMOS DE CLASSES

"Sempre tive dificuldade em fazer uma história de amor no Brasil por causa da diferença de classes. Minha geração achava que falar de elite e classe média era coisa de novela, cinema deveria abordar o 'real'.

'Abismo' se passa no universo dos versos do Chico, aquela classe média de Copacabana. É um universo que não está presente nos meus outros filmes, e era um mundo que eu via muito pouco no cinema brasileiro e com o qual eu tinha uma vontade muito grande de trabalhar."

VIAGENS

"Minha mãe vivia viajando, e meu pai, argelino, também. A primeira redação que fiz na escola foi contando uma viagem imaginária ao redor do mundo. Acho que fui criado para virar mundo.

Chamar Karim no Ceará não era fácil, ninguém sabia escrever meu nome, então é uma inquietação que eu tenho desde pequeno e que me dá prazer. Além disso gosto de viajar, acho um tesão."

BRASIL

"Talvez eu me sinta à vontade demais no meu país. Gosto de me sentir menos à vontade, de me sentar num lugar que não seja minha casa, de me sentir meio estrangeiro, não falar completamente a língua e não entender completamente os códigos."

CINEMA BRASILEIRO

"O Brasil é dos poucos lugares no mundo em que é difícil falar de cinema sem falar de TV. É dos países com mais monitores de TV, o que é bom por um lado, porque possibilita uma
alfabetização audiovisual bacana, mas deixa o nosso cinema com uma cara não tão cinematográfica quanto deveria ser.

Sinto falta de ser surpreendido pelo cinema brasileiro. Ao mesmo tempo acho que tem uma geração incrível vindo aí para mudar isso. Não essa geração com mais de 40 anos, mas uma garotada com uma sofisticação visual que vai reinventar nosso cinema. Você vê que não sou um cara pessimista."

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua notícia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página