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Serafina

Parceiro de Tom Jobim e Milton Nascimento, Herbie Hancock faz três shows no Brasil

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Herbie Hancock estava em lua de mel no Rio, em 1968, quando ligou para Eumir Deodato, compositor e arranjador que havia conhecido em Nova York. Eumir atendeu animado, estava no estúdio gravando com um novo cantor e perguntou por que ele não dava uma passada lá? "Minha mulher quer sair para jantar. Por que vocês não passam no hotel depois?", perguntou Herbie.

Horas depois, batiam na porta da suíte, no Copacabana Palace, Eumir e seu pupilo, abraçado ao violão. "Quando Milton Nascimento sentou na beira na cama e começou a tocar 'Travessia', fiquei louco", diz Herbie, 73, ao telefone. "Peguei meu gravador. Que belas harmonias e melodias! Agora me pergunta se eu sei onde está essa fita?" Provavelmente o maior pianista de jazz em atividade, com 14 Grammys na bagagem, Herbie faz três shows no Brasil em agosto (dia 22, no Credicard Hall, em São Paulo; dia 23, no Festival Mimo, em Paraty; e dia 24, no Citibank Hall no Rio).

E ainda não faz ideia do que vai tocar. Vem com seu trio de piano, baixo e bateria e uma surpresa: as tablas (instrumento hindu de percussão) do indiano Zakir Hussain. "Fizemos alguns ensaios, mas ainda preciso pensar nos arranjos da turnê." Antes, eles tocam no Peru, Chile, Uruguai e Argentina.

Recentemente, o americano reviveu aquele encontro casual no Rio de 1968. Foi no dia internacional do jazz, 30 de abril. Juntos em Istambul, ele, que é embaixador da Unesco, seu melhor amigo, o saxofonista Wayne Shorter, Milton e a contrabaixista americana Esperanza Spalding tocaram justamente "Travessia", como se convidassem as pessoas a desfazer as fronteiras entre Ocidente e Oriente. "Toquei com Milton várias vezes", diz. "Ele é muito especial, sua voz vem direto do coração."

A experiência no Brasil, ao lado da mulher, Gigi, com quem vive até hoje, veio também num momento de travessia em sua carreira. Tinha acabado de deixar o quinteto de jazz liderado por Miles Davis (1926-1991), com o qual havia gravado sete discos e feito inúmeros shows, de 1963 a 1968. Voltariam a tocar juntos mais tarde.

MENINO PRODÍGIO

Ainda que já tivesse uma carreira solo de sucesso –basta pensar nas tão sampleadas "Watermelon Man" (1962) e "Cantaloupe Island" (1964)–, era a hora de formar seu próprio grupo. "Miles sempre dizia que nos pagava para trazermos coisas que nunca tinham sido feitas e que nos desafiassem. Logo que voltei do Brasil, juntei uma banda e pensei num disco único, usando poucos metais [instrumentos de sopro], pois sabia que a gravadora não iria bancar uma orquestra", lembra.

"Achava que deveria usar cinco metais. Aí, pensei: se consigo com cinco, devo conseguir com quatro. Aí, outra voz dentro de mim disse: por que não três? Mas era impossível. E, se era impossível, era o que eu precisava." Para explicar melhor, ele imita os sons dos instrumentos, solfeja frases inteiras.

O disco em questão é "Speak Like a Child" (1968), hoje um clássico. Herbie Hancock é um verdadeiro camaleão. Aprendeu piano aos sete anos e aos 11 já tocava com a Filarmônica de Chicago, cidade em que nasceu, em 1940. No inicio dos 1960, já contratado pela gravadora de jazz Blue Note, aceitou o convite para fazer parte do grupo de Miles Davis, o que não o impediu de gravar discos solo históricos, como "Maiden Voyage" (1964). No fim daquela década, abraçou a causa "black power" e adotou, como todos em sua banda, um nome africano, Mwandishi, que em suahili quer dizer "o compositor".

Teve uma fase funk, nos anos 1970, quando cruzou as fronteiras de gênero e passou a atingir um público mais jovem, com o sensacional "Head Hunters" (1973), sempre bem cotado entre os melhores discos de todos os tempos. Chegou a gravar (e cantar!) música disco (para muitos, sua pior fase) e até hip-hop -a canção "Rockit", de 1983, chegou ao primeiro lugar da parada e venceu o principal prêmio da MTV.

Em 1987, ganhou um Oscar pela trilha de "Por Volta da Meia-Noite", do cineasta francês Bertrand Tavernier. De lá para cá, variou bastante, indo de Gershwin a R&B e pop. Se os puristas se incomodaram, ele não está nem aí.

"River: The Joni Letters" (2007), seu álbum com músicas da amiga Joni Mitchell, ganhou o Grammy de melhor do ano, feito que o jazz só tinha atingido uma única vez, em 1965, com "Getz/Gilberto", dueto de João Gilberto com o americano Stan Getz (1927-1991). "Apesar de meus últimos discos não serem jazz no sentido tradicional, eles só poderiam ter sido feitos por músicos de jazz, porque têm esse espírito de improvisação, de descoberta espontânea", explica.

Ultimamente, tem gravado com cantores pop, como Norah Jones, Joss Stone e Christina Aguilera. No álbum mais recente, "The Image Project" (2010), gravou "Tempo de Amor" com os brasileiros Curumin e Céu, para quem reserva elogios: "Céu é incrível, seu fraseado é como o do Miles. Pura mágica. E também é muito sexy".

São muitas as ligações com o Brasil. Gravou e tocou com Tom Jobim, para quem produziu, ao lado de Oscar Castro Neves, um show em 1993, com Ron Carter, Joe Henderson e Gal Costa, entre outros. Gravou também com a cantora e pianista brasileira radicada nos EUA Eliana Elias ("Solos and Duets", 1995).

Veja vídeo

ELIS REGINA

Muitos anos antes, ficou perto de gravar com outra cantora brasileira. Seria um disco inteiro. Afinal, ela era um mito, tão grande quanto ele mesmo: "Elis [1945-1982] tinha vindo para os Estados Unidos e estava hospedada na casa do Wayne [Shorter]. Ela era tão doce e tinha um enorme talento, mas infelizmente nunca pudemos tocar juntos", diz. "Pouco depois de voltar ao Brasil, ela morreu. Talvez Wayne tenha gravado alguma coisa com ela, não sei."

Herbie está escrevendo um livro de memórias para ser lançado no ano que vem, em que talvez conte esse e outros episódios com mais detalhes. "São minhas histórias, lições que aprendi ao longo do caminho e que quero dividir com as pessoas. Sou budista, sabe?" "O budismo afetou o jeito com que eu vejo o mundo à minha volta. Agora, meu objetivo com a música não é simplesmente me expressar artisticamente, mas encorajar as pessoas de diferentes áreas a trabalhar juntas e construir algo novo. É uma maneira perfeita para promover a paz."

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