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Serafina

Artista búlgaro Christo planeja a maior escultura da história

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Nas areias do Oriente Médio, Christo planeja um projeto à altura de seu nome, "a maior obra de arte de todos os tempos". Aos 78 anos, o artista búlgaro-americano trabalha sem descanso (domingos incluídos) com a intenção de erigir o monumento mais grandioso já realizado pelo homem. "Será bem maior do que a pirâmide de Quéops, no Egito. A base dela terá o mesmo formato da praça de São Pedro, no Vaticano. Será um projeto mais complexo do que a Torre Eiffel", gaba-se.

Não convém duvidar de Christo. Um dos grandes astros da arte contemporânea dos últimos 50 anos, ele já empacotou o prédio do Parlamento alemão, em Berlim, embrulhou um museu na Suíça e "amarrou" um trecho da costa australiana, com 56 km de corda e 93 km2 de tecido, entre outras embalagens. E não foi tudo. "Muita gente acha que nosso trabalho se resume a embrulhar coisas", diz

Christo, num tom quase indignado. "A última vez que Jeanne-Claude e eu tivemos a ideia de embrulhar algo foi em 1975, quando criamos o projeto da Pont-Neuf, em Paris". Mas todos esses projetos demoram décadas até serem concluídos. O da ponte, por exemplo, acabou saindo antes do Parlamento alemão, de 1995, o "último embrulho" de fato. "Hoje, não embrulhamos mais nada", complementa o artista, em entrevista por telefone, de seu estúdio, no Soho, em Nova York, onde vive e trabalha há 50 anos.

A Jeanne-Claude em questão formava com ele uma "dupla dinâmica". Os dois nasceram no mesmo dia 13 de junho de 1935. A francesa o conheceu em Paris, no final dos anos 1950, e pouco depois virou sua mulher e parceira profissional.

Trabalhou com Christo até 2009, quando morreu. Todos os projetos deles passaram a ser assinados com o nome Christo e Jeanne-Claude a partir de 1994. A esta época, a parceria já tinha décadas. O primeiro trabalho em dupla foi feito em 1961. A instalação era composta de uma pilha de barris de aço que interrompia o fluxo da pequena rua Visconti, em Paris. Para tal, usaram quase uma centena de tonéis.

"Mastaba", nome da "maior escultura do planeta", deverá ser realizada com 410 mil barris coloridos. Eles serão empilhados em formato de trapézio, num deserto nos Emirados Árabes, a 160 km ao sul de Abu Dhabi. Sobre essas areias deverá ficar a única grande obra permanente dele, já que todas as 22 maiores empreitadas realizadas pela dupla tinham caráter temporário.

AS MÃOS E A OBRA

A editora alemã Taschen, que já lançou 11 livros sobre o casal, publicou recentemente um volume só sobre a empreitada, chamado "The Mastaba, Project for Abu Dhabi" (R$ 134, 176 págs.). Os desenhos preparatórios para o projeto, que começou a ser idealizado há 35 anos, também aparecem em um livro recém-lançado na Alemanha, pela editora Hatje Cantz. O volume "Prints and Objects" ("Impressos e Objetos", R$ 118, 224 págs.) vai além: compila todas as esculturas e obras gráficas da dupla, até as do início de 2013.

Além de servirem para orientar a execução das obras, os desenhos e estudos feitos pessoalmente por Christo são usados para financiar as instalações. O modelo de negócio desenvolvido pela dupla virou objeto de estudo na Escola de Negócios de Harvard, nos Estados Unidos, que publicou em 2006, em sua revista, uma pesquisa de mais de 20 páginas sobre o tema. "Nunca aceitamos encomendas de ninguém: governo, museu ou patrocinador", conta Christo. "Saí da Bulgária para ter liberdade e sempre lutamos para continuar a tê-la."

O artista parece converter-se num executivo ao explicar suas estratégias financeiras para continuar proprietário de seu nariz. "Abri uma empresa chamada CVG Corporation, nos Estados Unidos, que funciona como uma holding. Para cada projeto grande, abria uma empresa subsidiária e corria atrás de uma linha de crédito", diz.

Desenhos, gravuras, maquetes e esculturas relacionados a cada empreitada eram então vendidos para saldar os empréstimos. "Colecionadores, museus e galeristas são maus pagadores. Demoram meses. Como nossos projetos envolvem muitos trabalhadores, não podemos chegar para o operário e dizer: 'Veja bem, não posso pagar porque o sr. Spitz ainda não nos depositou'."

"Preciso ter fluxo de caixa", diz ele, em economês fluente. "Por isso, sempre bati nas portas de bancos como o Deutsche Bank, o Credit Suisse ou o Citibank." Como garantia, Christo e Jeanne-Claude ofereciam um depósito "abarrotado de obras de arte" em Basileia, na Suíça.

Mais complicado do que levantar o dinheiro é conseguir autorizações governamentais, seja para espetar milhares de guarda-chuvas de seis metros de altura nas margens de estradas, seja para cercar com tecido cor-de-rosa 11 ilhas, seja para embrulhar a ponte mais antiga da cidade. Christo calcula que 37 grandes projetos naufragaram por falta de permissão oficial.

Ele está justamente empenhado em conseguir os "alvarás" das suas duas empreitadas atuais. Ainda não tem sinal verde dos Emirados Árabes. Mas seu outro projeto em curso, chamado "Over the River" ("sobre o rio"), está mais avançado. O governo Obama já deu ok, mas instâncias regionais querem embargar a obra, segundo ele, por razões políticas.
Nesse projeto, que deverá custar mais de R$ 110 milhões e que vem sendo desenvolvido desde 1992, Christo pretende cobrir um trecho de 68 quilômetros do rio Arkansas, no Colorado, com um tecido translúcido. "Não é um embrulho do rio", apressa-se em dizer.

Advogados, engenheiros e outros tipos de profissionais de três Estados americanos trabalham na instalação. Já para "Mastaba", há uma equipe atuando em cinco países. E qual deles vai ficar pronto antes, Christo? (nunca chame Christo de senhor, ele pede textualmente em seu site). "Não sei, mas sempre tivemos toda a paciência do mundo. Não é o mundo que precisa de nossos trabalhos. Somos nós que precisamos deles. Todo o meu tempo está dedicado a terminar esses projetos, que talvez sejam os últimos."

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