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Serafina

Diretor da MTV Brasil lembra erros e acertos do canal

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Em 2004, no VMB, a premiação anual da MTV Brasil, a gente levou uma bronca, ao vivo, em cadeia nacional.

Logo no começo de um dos números musicais da noite, uma dobradinha de Caetano Veloso e David Byrne, o som falhou escandalosamente.

A microfonia irritou Caetano, que deu piti: "MTV, vergonha na cara! Vamos botar essa porra pra funcionar direito!"

Até descobrir o que acontecia passamos momentos de pânico. Tivemos que ir para o intervalo, consternados com algo inédito em nossas transmissões ao vivo (a MTV sempre cuidou com zelo da qualidade da imagem e do som em seus eventos).

No fim, solucionado o problema, tudo correu bem. Mas as opiniões se dividiram nos bastidores: alguns queriam cortar das reprises o deslize e a bronca; o pessoal do comercial vibrava, pois tivemos que entregar um "break" a mais. E a garotada responsável pelas vinhetas e pelo visual do canal só pensava em usar o chilique como slogan.

E assim fizemos. As chamadas para a reprise (na íntegra, com erro e tudo) tinham Caetano e seu brado. Usamos anos a fio a bendita (e bem dita) frase, que se tornou um mote para seguirmos em frente. Virou um emblema do canal que debochou de tudo e sobretudo de si mesmo. E que, a partir de 1º de outubro, deixa o sinal aberto e passa a ser feito por uma outra equipe, na TV paga.

A MTV Brasil foi fruto de um encontro de pessoas apaixonadas pelo que faziam, mesmo sem ter muita noção do que estavam fazendo. E, talvez por isso, fizemos uma revolução. Era um canal de TV, só que não.

Tinha que fazer diferente. Transgrediu a linguagem, abusou da estética, arriscou formatos.

Foi a verdadeira Casa do Artista. Cuidou bem da música e dos músicos. Aqui, eles se misturavam no VMB e se desplugavam no "Acústico". Jogavam bola no "Rockgol", cozinhavam com a Astrid e brigavam com o João Gordo. Respondiam ao Zeca, ao Massari, conversavam com o Gastão. Tocavam, cantavam e se aproximavam de seu público.

E o público também se sentia em casa. Era íntimo do Thunder, da Sabrina, do Cazé, do Adnet e da Tatá. Era chegado ao D2, ao Samuel, ao Nando e ao Chorão. E juntos também choramos a Cássia, o Frommer e o Chico. Interagíamos, antes e depois da internet. A garotada pedia clipes, encontrava seus ídolos, beijava na boca, nos xingava, nos amava.

Cuidamos direitinho desse jovem público também: exigimos usar camisinha, pedimos para não ter preconceito nem apelar para a violência. Sugerimos desconfiar dos políticos e cuidar do planeta. Mandamos desligar a TV e ler um livro...

A MTV Brasil falou sério sem nunca se levar a sério. Inspirou, incomodou, apresentou o novo, filtrou o que era bom. Divertiu, revelou, "trollou".

SEM VERGONHA

Experimentou sem medo de errar –e, quando errou, errou gostoso. Foi celeiro de talentos, laboratório de ideias (algumas de jerico, é verdade).

Fez o primeiro reality show do Brasil. Mostrou, sem vergonha, o primeiro beijo gay da nossa TV. Falou de amor e sexo, de futebol e política. Tocou clipe, premiou clipe, riu do clipe, cansou do clipe. Fez mais do que 15 minutos de um humor gordo, vesgo, "trash" e sem noção. Fez comédia improvisada, gravada e ao vivo. Fez com amor cada programa, como se fosse o último programa do mundo.

Não teve medo da internet e fez na TV aquilo que hoje se faz online.

Amanhã se encerra esse belo capítulo da televisão no Brasil. Um viva à velha MTV Brasil. Longa vida à nova MTV que começa.

Ah, ia esquecendo: chupa, Caetano! A gente botou essa porra pra funcionar direito, sim.

Zico Góes é advogado formado pela USP e trabalhou na MTV Brasil de 1991 a 2008. Em 2011, assumiu a direção de conteúdo e programação do canal que encerra suas atividades e sobre o qual ele escreve aqui

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