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Serafina

"Ronaldo" do turfe, cavalo ganhou R$ 33 milhões em corridas e espera estreia de filhos

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O campeão mundial se aposentou, voltou ao Brasil montado em milhões de dólares e ganhou 100 kg em três anos. Poderia ser a história de Ronaldo Nazário, mas é a de outro fenômeno, Glória de Campeão.

O puro-sangue inglês castanho escuro chega aos dez anos de idade com o maior ganho que um cavalo brasileiro já conseguiu acumular em prêmios de corrida: R$ 33 milhões.

Theo Marques
Cavalo Glória de Campeão hoje vive no Haras Estrela Energia, em Tijucas do Sul (PR), e é um dos reprodutores mais bem pagos do mundo
Cavalo Glória de Campeão hoje vive no Haras Estrela Energia, em Tijucas do Sul (PR), e é um dos reprodutores mais bem pagos do mundo

A fortuna foi amealhada em lugares tão distantes quanto Dubai, Cingapura, França, Estados Unidos e Rio de Janeiro. Glória agora aquietou e firmou as patas no chão. Faz dois anos que não sai de Tijucas do Sul, cidade rural uma hora de carro ao interior de Curitiba.

Desde que deixou as pistas, no fim de 2010, inverteu a lógica: ninguém mais monta nele, é ele quem monta. Virou reprodutor. Em sua primeira temporada de procriação, que compreende a primavera e o verão, esteve com 85 éguas.

No total, passaram pela sua coxia umas 200 potrancas até agora. A maior parte delas saiu "cheia" de Glória, jargão do mundo do turfe para prenhas.

Há dois pacotes de Campeão à venda: o primeiro se chama garantia de prenhez, e envolve quantas tardes de amor forem necessárias até a égua ficar grávida. O segundo, mais barato, leva o título de todo risco. A fêmea ganha dois encontros com o garanhão e o resultado deles não é nada certo, apesar do investimento de R$ 10 mil.

Uma terceira opção, muito comum nos EUA, é só pagar depois que o potro vier à luz e der sua primeira mamada. Esse método chega a custar R$ 220 mil, mas Glória não trabalha com ele. Ainda.

Não existe romance no namoro completamente profissional do galã de pelo lustroso. A égua é conduzida até a fazenda (para se ter certeza de que o material genético vem mesmo do campeão) e é posta num canto em que ele foi condicionado a associar com o "vuco-vuco".

VIDA MANSA

Quando não está procriando, a vida de Glória é prosaica. Acorda com as galinhas, anda pelo cercado, dormita em pé.

Se avista um chão de areia, começa a rolar que nem cachorro. "É fácil lidar com ele", diz Elias da Costa, que administra o haras e pode ser considerado o jóquei da fase atual do campeão.

Não faz mais questão de correr nem exige maiores cuidados estéticos.

As regalias param na segurança: o garanhão vive rodeado de cerca elétrica e um segurança zela por ele à noite.

Das cinco da manhã em diante, ele é só um cavalo com nome de égua, num haras com 35 delas. É escovado uma vez por dia, come sete quilos de alfafa em três refeições e, vez ou outra, uma cenoura. Não come açúcar.

A dieta saudável mais a vida mansa fizeram os 470 kg da fase áurea do atleta saltarem aos atuais 570 kg.

A estreia de sua prole, no ano que vem, pode fazer o preço de seu esperma galopar e, consequentemente, a procura por suas células reprodutivas.

"É possível colocar ele para reproduzir uma vez de manhã e outra à tarde, se houver procura. Por enquanto, não há", diz o veterinário Flávio Carneiro, que viaja do Rio ao interior do Paraná duas vezes por mês para ter com Glória.

Foi ele quem negociou a compra do atleta. O haras Santarém, onde ele nasceu, pedia R$ 40 mil. Os interessados submeteram o potro a batelada de exames. De cavalo comprado se olham os dentes –e o trato respiratório por endoscopia mais raios-X de articulações, para achar possíveis patas de Aquiles.

Depois de alguma pechincha, o haras Stud Estrela Energia, do empresário sueco do petróleo Stefan Friborg, acabou levando a cria por R$ 30 mil.

Foi um investimento maravilhoso, mas não tínhamos como saber antes que ele seria tão excepcional", diz Flávio.

DE FAMÍLIA

Nem olhando para a frondosa árvore familiar os técnicos conseguiriam prever, ainda que seja um cavalo de família. Glória de Campeão é filho do argentino Impression com a égua brasileira Audacity, filha de Clackson, tido no meio como o melhor avô materno nacional.

O nome pode parecer premonitório, mas é comum dar identidades grandiloquentes, ou só engraçadas mesmo, para corredores de quatro patas.

Há registrados no Stud Book brasileiro, espécie de cartório para registro de equinos, nomes do tipo Agente 007, Kamikaze, As Good As it Gets (melhor não fica) e Melhor do Mundo. O nome fica por conta do haras onde nasce o potro. Se o dono quiser, pode mudar o apelido antes da estreia profissional nas pistas.

A de Glória foi em 2006, com dois anos. No total, ele trabalhou por menos de cinco anos: um ano e meio de campanha nacional mais três anos no além-mar.

Em 2009 chegou em segundo lugar na Dubai World Cup. No mesmo ano, venceu o Cingapura Airlines International e conquistou seu primeiro milhão.

Mas 2010 foi o ano do cavalo. Campeão tornou a competir em Dubai, mas sob novos termos. Era a temporada de inauguração de Meydan, complexo com 285 quartos de hotel cinco estrelas dispostos ao longo da pista. O xeque oferecia R$ 65 milhões em prêmios. Glória abocanhou US$ 23 milhões ganhando a corrida principal por um nariz.

"Foi surpresa para todo mundo. Tanto que o treinador francês dele avaliou que ele estava só 60% antes da corrida, mas decidimos ir mesmo assim", diz Flávio.

Os adversários dizem que essa corrida de cavalos deu é zebra. "Bookies" ingleses pagavam R$ 58 para cada um apostado em Glória.

Mas o animal, montado pelo jóquei gaúcho Tiago Josué Pereira, saiu na dianteira e não a perdeu por um segundo. "Ele é um foguete difícil de domar", avalia o jóquei Paulo Bini.

"Ele corre na carreira, dá tudo de si o tempo todo", avalia o especialista em turfe José Carmon. "Mas não dá para afirmar que seja um dom hereditário."

A ver: Energia Glorinha, potra da primeira égua que ele emprenhou, deve entrar no páreo em 2014. "Aí vamos ver se a glória se repete", diz seu Elias.

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