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Serafina

Rio de Janeiro

Ex-trompetista da Orquestra Imperial faz móveis com restos de madeira

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Ele sai pelas ruas do Rio farejando as caçambas de lixo. Em vez de catar latinhas de metal, procura madeira. Já encontrou pedaços de árvores raras. Os troncos mortos que a Fundação Parques e Jardins, órgão ambiental da prefeitura, retira das praças e parques viraram a matéria-prima do ex-trompetista da Orquestra Imperial –e agora marceneiro– Max Sette, 34.

"Não entra na minha cabeça comprar material. Só trabalho com madeira reciclada. As árvores que estão caídas por aí são preciosidades. Imagina a quantidade que a Fundação Parques e Jardins corta todos os dias e joga no lixo?"

Lucas Bori
Max Sette, ex-trompetista da orquestra imperial, faz móveis com o que acha no lixo
Max Sette, ex-trompetista da orquestra imperial, faz móveis com o que acha no lixo

O que para o órgão público é detrito, para ele é obsessão: "Sou apaixonado. Adoro encontrar um tronco, seja no lixo, seja na natureza, passar a motosserra e descobrir as texturas. Vem um amarelo, um roxo, um goiaba... É um tesão. Tenho uma relação física com as madeiras".

Há pouco mais de um ano, Max, que já dividiu o palco com músicos como Seu Jorge, Caetano Veloso, Marisa Monte, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos e Beth Carvalho, trabalha como marceneiro da descolada loja de design Poeira, com filiais no Rio, São Paulo, Lisboa e Maputo.

Os clientes babam –e não só pelo que é de madeira. "Foi engraçado. Toca a campainha e entra um marceneiro gato, com uns óculos incríveis, com uma ginga própria. Achei o rosto conhecido, mas não liguei as coisas na hora", conta a roteirista e escritora Antonia Pellegrino, para quem Max fez uma cozinha.

De músico a marceneiro, Max viveu uma epopeia. Começou a tocar trompete aos 12 anos em bandas de Carnaval. Aos 20, tocava com Nando Reis e Marcelo D2. Aos 23, entrou para a Orquestra Imperial, que tinha uma chusma de novos talentos: Moreno Veloso, Domenico, Pedro Sá, Kassin, Nina Becker... "A banda era festa: uma turma de mais de 20 pessoas, uma caixa de cerveja no meio do palco e todo mundo tocando. Um dia, publicaram uma foto grandona minha tocando ao lado do Caetano. Eu nunca tinha saído no jornal. Olhei aquilo e pensei: 'Ué, estou famoso?'"

DOIS ANOS DE SOLIDÃO

Veio o sucesso, Max ganhou dinheiro com comerciais de TV, namorou a atriz Helena Ranaldi e gravou um CD solo, "Parábolas ao Vento", com música título de Jorge Mautner. O álbum, que foi disponibilizado pela internet, teve 100 mil downloads em uma semana.

Em 2008, o vento virou. Max perdeu a mãe, terminou o namoro, saiu da Orquestra e entrou num "buraco profundo", como o próprio diz.

Foi então que ele deu uma guinada: subiu a serra, instalou-se num sítio em Bocaina de Minas (MG) e redescobriu um grande prazer esquecido: a marcenaria. Nos tempos áureos da Orquestra, ele havia montado uma marcenaria experimental com amigos num espaço no Jardim Botânico, onde usava a madeira morta do parque.

"A Bocaina é linda. Eu virei um andarilho. Tinha dias em que andava 40 quilômetros. Fiquei lá dois anos. Não falava com ninguém. Só me relacionava com as madeiras. Acabei resolvendo fazer umas tábuas para queijos e vinhos com um jacarandá que achei caído na estrada."

Mais de 200 peças acabaram vendidas. A chef Roberta Ciasca comprou algumas: "São as tábuas da minha casa, que uso para cozinhar para os amigos. Elas são lindas, sólidas".

Em 2011, depois de dois anos de isolamento –e do sucesso das tábuas–, o músico-marceneiro retornou de vez à civilização. "Estou começando a viver essa experiência da marcenaria profissional. Eu trabalho a textura, as cores. Vou fazendo igual eu faço música. Acho que a arte é isso, é orgânica."

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