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Serafina

Artista que faz "cortinas" de parede e fósseis pessoais vem ao Brasil

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A parede, drapeada como a cortina de um teatro, parece se abrir e, detrás dela, sai Daniel Arsham. A cena, vista recentemente numa galeria em Nova York, resume o trabalho do multiartista: Arsham faz arquitetura, artes plásticas e cenografia a um só tempo.

"Fazer arquitetura é somar: você coloca paredes, teto e chão. Eu faço o contrário, subtraio do que existe. Por isso é arte", explica-se à Serafina.

A equação de menos é feita enchendo cômodos de materiais como isopor e espuma e os escavando até que pareçam uma forma impossível de se conseguir com concreto, como cortina pétreas ou crateras lunares no chão.

"Umas duas dezenas" dessas arquiteturas artísticas estarão em mostra inédita, de 15 de fevereiro a 29 de março na Baró Galeria, em São Paulo.

É terminando de despachar as peças, de Nova York para o Brasil, que Arsham fala. A voz calma e pausada do artista de 33 anos orna com o rosto juvenil, sempre escondido por óculos redondos como os de um Harry Potter crescido.

"Eu gosto muito do Brasil. Passei um tempo aí, porque um tio morava no Rio de Janeiro quando era jovem."

Do país, guarda só algumas fotos. O que é uma pena, já que souvenires são seu segundo objeto de trabalho.

Além de brincar com a arquitetura de prédios, Arsham também bole com as lembranças de seu passado recente.

Pega coisas prosaicas como bolas de basquete, computadores obsoletos e telefones fixos e os reproduz em pedra vulcânica ou em cristal, criando objetos que parecem ser de pedra esfacelada.

Um caso recente foi a parceria com o produtor e cantor Pharrell Williams (a voz de "Get Lucky", hit do verão, do Daft Punk). Um teclado da Casio que Pharrell usou para gravar sua primeira música foi jogado em cinzas vulcânicas, se erodiu e saiu com cor de pedra, parecendo um fóssil contemporâneo.

"Nos dois casos, de arquitetura e de fósseis, eu discuto as possibilidades de construção e de destruição", afirma.

Em um dos trabalhos, ele se cobriu de cristais, fez uma crosta com sua forma e a deixou na galeria, exposta.

Também trabalhou com arquitetura no palco: faz cenografia desde 2005, quando o dançarino Merce Cunningham, então com 85 anos, convidou um Arsham de 24 anos para conceber figurino, cenografia e iluminação do seu espetáculo "EyeSpace", que estreou em 2007.

"E continuei colaborando com ele até 2009, quando morreu." Desde então, cenografou também outros espetáculos de dança e butiques da Dior. E tudo para ele não passa de arquitetura.

ZONA DE CINZAS

"No fim, as coisas todas se misturam, arte e arquitetura, por exemplo. Eu moro nessa zona cinza e estou confortável."

Ainda mais no Brasil, país que para ele tem uma relação ímpar com seus prédios. "Ao contrário de muitos outros lugares, o país tem uma relação particular com a arquitetura. Todo mundo sabe quem é o Niemeyer. Nos EUA, a maioria da população não faz ideia de quem seja um arquiteto."

Divulgação
Obra de Daniel Arsham
Obra de Daniel Arsham

O mesmo tio que morava no Rio se mudará para Brasília a partir do meio do ano. "Quem sabe não é a oportunidade de eu conhecer essa cidade incrível?"

Mas mais para a frente, que por enquanto ele trabalha como nunca.

"No começo, precisava de ajuda de outros profissionais para fazer escavações ou as formas que queria. Com o tempo, ganhei autonomia, e hoje consigo chegar ao meu objetivo sozinho."
Além de trabalhar muito na solidão, Arsham toca vários projetos ao mesmo tempo. Enquanto estiver com a exposição paulistana, ele terminará de dar à luz a outra mostra individual, em Los Angeles.

"Essa outra não vai tratar muito de arquitetura, e sim do espírito de ser americano." Mas existe um fio só ligando a Miami em que cresceu e a Nova York em que recebeu sua formação? "Não acho que exista uma unicidade, não. São cidades completamente diferentes. Mas há algo unindo as duas. Um espírito."

O mesmo espírito que ele diz permear as lembranças que usa para fazer arte. Lidar com tanto passado não acaba trazendo melancolia para sua vida? "Acho que não, pelo contrário. É de lembranças que se vive, afinal."

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