Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
Publicidade

Serafina

Colunista enfrenta 12 horas de fila e de frio para tomar lendária cerveja dos EUA

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Há lendas e lendas. Ronaldo Gorducho e a CBF venderam a final da Copa de 1998. Elvis Presley não morreu e vende miçanga na Bahia. O Obama estaria pegando a Beyoncé. Crocodilos gigantes no Tietê. Políticos honestos. 

Uma lenda eu decidi descobrir ser verdadeira ou não. Na pequena cidade de Santa Rosa, a sete horas de carro de Los Angeles, no norte da Califórnia, seria produzida a que muitos consideram a melhor cerveja dos EUA -mas que poucos conseguem experimentar. 

A tal cerveja chama-se Pliny the Younger. É produzida pela Russian River Brewing Co. durante apenas duas semanas por ano, sempre na primeira sexta-feira de fevereiro. Ela não é engarrafada, o cliente não pode beber fora do local da fabricação e nem adianta levar um garrafão, porque eles não o enchem com a bendita. Após o lançamento, a Russian River até envia raros barris para o sul da Califórnia e, pronto, acabou. Pelo menos, por mais um ano. 

No negócio há dez anos, Vinnie Cilurzo e sua mulher, Natalie, compraram a cervejaria, então quebrada, de uma empresa de vinhos e champanhes da qual eram empregados. Lapidaram a arte de maturar cerveja em barris de vinho, investiram no lúpulo de alta qualidade e viraram o negócio do avesso -hoje, possuem 60 empregados. 

O negócio de cerveja artesanal rende ao condado de Sonoma, que abriga a Russian River e mais 17 cervejarias, cerca de US$ 120 milhões anuais –US$ 2,4 milhões só com a Pliny the Younger. A cervejaria tem apenas 135 lugares em seu bar/restaurante. E eles não expulsam ninguém para aumentar a rotatividade. Há um limite de três canecas da Younger por cliente, mas o sujeito pode ficar bebendo outras (ótimas) cervejas. Por causa disso, os donos avisam, no site, que a fila pode durar oito horas. 

Eu estava preparado psicologicamente para essa espera. Mas foram 12 horas embaixo da maior tempestade a assolar o norte da Califórnia no ano. 

Cheguei ao local às 11h do sábado, hora da abertura dos portões, e a fila terminava exatamente nas costas da cervejaria, do outro lado do quarteirão.

Corta para 11h... da noite. O desespero e a vontade de mandar tudo para o inferno vinham em ondas cada vez mais frequentes. As costas doíam, não sentia mais os pés de tanto frio. É um sofrimento único. E olhe que já fiquei na fila de muitos shows do U2 e do Radiohead. 

Doze horas e dez minutos depois, finalmente consigo entrar. O clima muda quando a primeira caneca desce goela abaixo. Quem estava na fila calado, e meio estressado com alguns furões (sim, isso existe por aqui), ficou amigável. Um casal de "amigos" não queria me deixar pagar nada. Paguei uma rodada. O resto foi por conta dos dois, produtores de cerveja e entendedores do ofício. 

Daft Punk toca alto e o serviço é de primeira, mesmo no dia mais estressante do ano para a cervejaria. Você pensa: "a danada deve ser a coisa mais cara do mundo". Mas cada caneca sai por menos de US$ 5, uns R$ 12.

A Pliny, The Younger vale todo o sofrimento? Essa é a pergunta do milhão. Eu achei a melhor cerveja que tomei na minha vida. Mas, depois de 12 horas de ralação, eu diria que ela é a melhor do mundo mesmo se não fosse. 

A Younger é uma cerveja do estilo "triple IPA", que usa mais lúpulo que as tradicionais e, por isso, fica mais amarga -tradição da escola americana. Tem coloração âmbar e nenhum colarinho. No meio de uma porrada de 10,5% de teor alcoólico, ela desce fácil e o amargor é equilibrado com o sabor cítrico. Para quem adora cerveja, sacrifício válido. 

No fim, você pode fazer inveja, escrever uma coluna e dizer: "Experimentei uma lenda. E quatro rodadas dela com estômago vazio dão uma ressaca das brabas".

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua notícia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página