Serafina
Set de filmagem no deserto vira palco para shows de Pixies e Arctic Monkeys
Uma das minhas diversões é encontrar locais inusitados com bons shows nas cidades que visito. Vi Radiohead nos jardins de um castelo na Irlanda, Wilco em um ex-cabaré na Louisiana, Coldplay em um estúdio de cinema.
Em Los Angeles, o primeiro teste foi um cemitério. O Hollywood Forever tem enterrados em seu terreno nomes como os músicos Johnny Ramone e o cineasta John Huston. Todas as semanas, o salão maçônico do local recebe shows com ingressos que se esgotam em minutos. Em vez de velórios, as cadeiras de ferro, os vitrais e o pequeno palco servem para artistas apresentarem versões mais despidas de suas canções. Tudo muito lindo, mas não dá para ver rock sentado entre os mortos.
Manuela Eichner | ||
Arte para coluna "L.Á. Cidade Cinematográfica", da Serafina |
Duas semanas depois, parti para o deserto para o primeiro show da turnê do Afghan Whigs, possivelmente a banda mais soul que saiu do grunge. O show era em Pioneertown, um local inesperado para abrigar uma noite de barulho de guitarras, no meio do deserto.
Explico: Pioneertown é um ex-set de filmagem que fica a duas horas de Los Angeles, fundado em 1946 por três amigos de Hollywood, entre eles o ator e cantor Roy Rogers. A ideia era reproduzir uma cidade do Velho Oeste para servir de cenário para produções do estilo. O projeto sustentou-se por alguns anos, mas, com o tempo, a brincadeira foi minada. O sonho de uma cidade cenográfica ativa virou uma cidade fantasma.
A cantina da comunidade, especializada em comida mexicana e ponto de encontro de motoqueiros barbudos no deserto californiano, não escapou da crise. Em 1980, foi herdada por Harriett, que, ao lado do marido, Pappy, rebatizou-a de Pappy and Harriet's Pioneertown Palace. Ponto turístico sem grandes ambições artísticas, o local continuou com o casal até a morte de Pappy, em 1992.
Em 2003, as amigas Robyn Celia e Linda Krantz compraram o "palácio", abrindo um segundo espaço, ao ar livre, para shows. Os boatos sobre um palco sob as estrelas do deserto e com boa música logo se espalharam. O rol de artistas em shows únicos aumentou: Arctic Monkeys, Robert Plant, Pixies e, claro, Queens of the Stone Age, já que a casa/estúdio de Josh Homme, líder da banda, fica a 15 minutos do local.
O clima lá é de camaradagem. Uma grelha abriga churrascos e quem chegar cedo pode andar na rua principal de Pioneertown, tirar fotos na cadeia local ou conversar com o índio que manda na loja de artigos equestres.
Nesse ambiente, o Afghan Whigs apresentou o disco "Do to the Beast" pela primeira vez. Uma apresentação com direito a cover de Beatles, novas canções que casam bem com o clima pagão da área e os hits. Um local inesquecível para um show inesquecível.
A banda toca em São Paulo no dia 22 de maio, na nova casa de shows Audio. Depois me contem.
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