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Serafina

Lançando filme sobre Getúlio Vargas, Tony Ramos fala sobre computadores e Friboi

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Era a manhã do dia 24 de agosto de 1954, em Avaré (263 km de São Paulo), e o pequeno Antônio de Carvalho Barbosa assistia a sua avó preparar a massa do bolo de seu sexto aniversário, que seria comemorado no dia seguinte. Então, o rádio alarmou a senhora. "Meu Deus do céu, morreu o dr. Getúlio!"

"O quê, vovó? Quem é o dr. Getúlio?"

"É o presidente da República, meu filho", disse a avó ao neto. Ela sentou-se na mesa da cozinha e começou a chorar.

Quase 60 anos depois, o pequeno Antônio, agora conhecido como Tony Ramos, reviveu aquele dia remoto. Mas do lado de lá do rádio, não em Avaré, e sim no Rio, então capital do país.

Nessa nova versão do 24 de agosto de 1954, Tony não estava na cozinha, mas no quarto do presidente, e, em vez de farinha nas mãos, tinha um revólver calibre 32 com cabo de madrepérola. Deu um tiro no peito e morreu.

São alguns dos momentos finais de "Getúlio", filme de João Jardim que estreia em 1º de maio. Tony, 65, é Getúlio, numa trama histórica que recupera as semanas de tensão que levaram ao suicídio de Vargas, no palácio do Catete. Para a divulgação do longa, ele recebeu a Serafina em um hotel em São Paulo, mas quem começou perguntando foi ele:

TONY RAMOS – O que é isso?

SERAFINA – É um aplicativo do iPad para gravar essa entrevista.
TONY – Hmm, tem isso? Que bom. Sabe para que isso é bom? Para você se ouvir no texto. E aí você não depende daqueles miudinhos que eu tenho ainda. Boa ideia, rapaz... É que eu sou pouco afeito à tecnologia. Não que eu não as tenha. Tenho, tenho iPad. Mas ele virou em casa o meu multicontrole. Porque eu tenho um sistema todo centrado no iPad.

Um sistema de quê? De som, televisão, luz... Minha cachorrada está correndo, eu ligo uma câmera e vejo onde é que elas estão. Isso tudo pelo iPad. Aí minha mulher falou: "Ô, meu cumpadi, temos que ter um iPad para piriquitique". Eu falei: "Mas você tem um laptop". Eu adoro laptop, acho o melhor. É que não é prático, é grandão, né?

Você é fã da Apple? Gosto. Gosto. E eu era PC. Mas como não tenho Facebook, Twitter, Turico, Turóco e Teréco, as pessoas dizem "ah, você não precisa, pega qualquer coisa aí, um telefone qualquer...". Não, espera aí. Eu recebo e-mails do meu trabalho, recebo mensagens de filhos, às vezes netos mandam fotos: "Estou no Maracanã com papai". Como mandaram domingo agora.

E a cachorrada? São três. A minha querida Preta, minha preta, uma cocker de pelugem absolutamente preta, que parece um veludo preto. Essa já vai a 15 anos, a minha balzaquiana, a minha velhinha. Tenho uma dachshund, que popularmente chamam de bassezinha, linguicinha, essa é a Estrela, com 10 anos. E agora minha neta mandou lá pra casa uma labradora linda, a Mel, que nós já adotamos, ela tem 9 meses.

São 50 anos de carreira, né? Eu completo, em 29 de junho, 50 anos de televisão. Comecei na TV Tupi de São Paulo, lá no Sumaré. Fiquei na Tupi 12 anos e estou na Globo há 38, seguidos.

E como foi o início? Eu fazia teatro amador e havia um programa na Tupi, o "Novos em Foco", que revelava novos talentos, etc. Um dia, peguei dois ônibus e fui para lá, com meu sapato Passo Doble, que era o mais barato e confortável possível, todo de borracha por baixo, não tinha erro, era bom pra chuva, era bom pro seco. Fiz o primeiro, voltei, fiz o segundo. Aí entra o início de 65, havia a novela das oito "A Outra", e fui chamado para o elenco. O resto é história.

Nessa época, temos grandes transformações. No mundo, os Beatles e, no Brasil, a ditadura militar. Como foi para você? Os Beatles eram uma correspondência natural de vida, faziam parte do cotidiano. Mas adorava também Glenn Miller, Count Basie, Duke Ellington. Aí surgiu na minha vida meu grande ídolo, Antonio Carlos Jobim. Nunca fomos amigos, mas tive a oportunidade de almoçar com ele, lá na Plataforma. Engraçado, ele passava a ser amigo no inconsciente da gente, pela obra. Sobre o regime, comecei a perceber a dor e o perigo que era quando comprei meu primeiro carro e parei na primeira blitz.

Que carro era? Um Fusca, você tinha dúvida? Era um fusquinha branco 1964. Usado, em 18 prestações, comprei em fevereiro de 1968. Eu ia fazer 20 anos. Aí tem blitz, tem parada, tem "documento!". Aí começo a realizar dentro de mim e, depois, com o Ato Institucional nº 5, que a coisa se despedaça e a gente percebe que a liberdade acabou.

E sua ida à Globo? Fui em 1977, para fazer a novela "Espelho Mágico" e apresentar semanalmente o "Globo de Ouro". Logo fiz "O Astro", que lançou a pergunta "Quem matou Salomão Hayalla" e depois o André Cajarana de "Pai Herói". Curiosamente, perdi meu pai e meu padrasto enquanto fazia "Pai Herói", numa diferença de quatro meses, em 1979.

Sobre política, o que você pensa? Nunca fui filiado a nenhum partido, nunca subi num palanque para fazer propaganda política de ninguém. Mas, nas Diretas Já, lá estava eu nos palanques porque ali era pluripartidário e era uma ansiedade de todos nós.

Vai votar em quem para presidente? Não declaro voto. Eu não gosto de induzir pessoas, eu não gosto. Sendo muito popular —e sou, não vou negar isso—, tenho que saber muito o que falar sobre política. Porque, se eu enaltecer algum político e ele nos decepcionar, vão cobrar de mim. E não quero que cobrem de mim algo que tem que ser da consciência de cada um. Quero ser como qualquer cidadão que vai lá, vota, e espera que esse país dê escolas públicas das 7h30 às 16h30, hospitais, etc.

E a Friboi? (Risos) Como eu não faço quase propaganda, criou-se um ruído novo. Mas fiz porque era pertinente, como carne mesmo, adoro um churrasco, é da minha cultura, é da cultura da minha família, era comum minha avó querida me fazer um lanchinho de bife de fígado.

Lanchinho de bife de fígado? Um sanduichinho, como um lanche da tarde. E assim fui criado. Como carne desde o primeiro ano de vida. E nada contra quem é vegetariano, é óbvio. Mas digo sempre: não é porque como carne que tenho menos caráter do que quem é vegetariano. Eu como carne confinada, agora imagine você se alguém chutar um cachorro na minha frente. Eu vou partir pro pau. Nem que seja conversando: "Ô, besta humana, por que você tá chutando o cachorro? O que ele te fez?"

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