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Serafina

'Será que Deus é uma criação humana?', questiona Hélio Schwartsman

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Uma professora de jardim da infância passeava pela classe enquanto seus alunos desenhavam. De vez em quando ela parava para olhar os rabiscos de uma criança. Foi assim que a educadora se aproximou de uma garotinha que trabalhava diligentemente sobre sua folha de papel e lhe perguntou o que ela estava desenhando. A menina respondeu: "estou fazendo um retrato de Deus", ao que a professora retrucou: "ninguém sabe como Deus é". Sem perder a pose nem levantar os olhos, a garota disparou: "saberão assim que eu terminar".

A piada é boa porque, numa inversão da cosmovisão religiosa tradicional, nos faz flertar, ainda que a contragosto, com a possibilidade de Deus ser uma criação humana. Será?

Nas últimas décadas, psicólogos, antropólogos, neurocientistas, filósofos e sociólogos se puseram a esquadrinhar a religião e teorizar sobre ela, dando origem ao que alguns já chamam de nova ciência da fé. A ideia central é que, independentemente de Deus existir ou não, a religião é um fenômeno real, mensurável e com o qual podemos fazer experimentos.

Sabemos, por exemplo, que entre 40% e 50% das atitudes de uma pessoa para com a religião tem origem genética. É claro que não existe o gene do cristianismo, do judaísmo etc. Uma criança cujos pais sejam hinduístas, mas que tenha sido criada por uma família muçulmana, muito provavelmente se tornará muçulmana. O que os genes parecem fazer é predispô-la a certas condutas, como a assiduidade com que frequenta os cultos, a veemência com que defende os dogmas, a satisfação que extrai da religião.

Os pesquisadores levantaram algumas hipóteses interessantes. A religião seria um subproduto de uma série de vieses cognitivos, isto é, de marcas que a história evolutiva fixou em nossos cérebros.

A predisposição para crer em forças sobrenaturais, por exemplo, um elemento quase universal das religiões, seria um desenvolvimento de nossa tendência a detectar agência em tudo. Como é melhor prevenir do que remediar, fomos calibrados para pressupor que, por trás de movimentos e acontecimentos, existe um ser animado. Quem não pensava assim acabou devorado por um
tigre-dentes-de-sabre.

Já a superstição, também presente nas rezas e nos ritos em geral, tem a ver com nossa tendência para encontrar padrões, como o ciclo das estações. Só que ela é hipersensível e costuma disparar mesmo quando não há regularidade a ser percebida. Não estamos sós aí. O psicólogo B.F. Skinner (1904-1990) conseguiu despertar superstição até em pombos, condicionados a fazer dancinhas na esperança de comida.

Mas e Deus? Segundo o psicólogo Michael Shermer, juntando nossa propensão a inferir estados mentais nos outros (essencial para a vida em sociedades um pouco mais complexas), nos tornamos capazes de criar entidades sobrenaturais tão caprichosas como seres humanos.
De acordo com Shermer, foi seguindo essa receita que, ao longo dos últimos dez mil anos, a humanidade produziu dez mil religiões com cerca de mil deuses. Os desenhos destas páginas apenas dão mais algumas faces ao divino.

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