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Serafina

Discutir política na Inglaterra é considerado gafe, conta colunista

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Com certeza existe, mas no momento não consigo imaginar nada mais chato do que assistir aos debates entre os candidatos a primeiro-ministro britânico. Prefiro passar uma hora na cadeira do dentista tirando tártaro.

O pacto da sociedade britânica com a classe política lembra um daqueles casamentos mornos, que já acabou faz tempo mas ninguém percebeu. As crianças cresceram, foram bem educadas e saíram de casa. As contas são pagas em dia. Mas o romance terminou, de sexo nem se fala e a falta de assunto entre os dois é total. Tanto o marido como a mulher ficam, cada um em seu canto,resignados e infelizes, com medo e preguiça de se reinventar.

Bruno Oliveira

São sete candidatos, cada um mais desinteressante e vazio de significado do que o outro, com programas de governo muito pouco diferentes entre si, que ninguém tem interesse ou ânimo para entender direito. Um quer cortar um pouco mais, outro um pouco menos, os serviços sociais; há quem queira mais e há quem queira menos distância da União Europeia; pode-se também ser um pouco mais contra ou a favor de intervenções militares pelo mundo afora. E é basicamente isso.

O único a quebrar o marasmo é um tal Nigel Farage, um palhaço racista e homofóbico com um discurso acirrado anti-imigração sem a menor chance de ser eleito. A previsão é de que o Ukip, seu partido, eleja um só representante no novo parlamento. Uma pequena nota colorida num vasto mar de apatia morna e bege: na semana passada um imigrante corajoso, o príncipe polonês Janek Zylinski, posou para a imprensa brandindo uma espada enorme e desafiando Nigel Farage para um duelo no Hyde Park. Por meio de seu porta-voz, Farage recusou o convite.

Por aqui a dimensão político-partidária parece simplesmente não fazer parte da vida das pessoas. É um assunto sobre o qual não se fala com colegas de trabalho, amigos ou familiares. Outro dia, num jantar, perguntei a um velho amigo, um artista gráfico inglês, em quem ele pretendia votar. Fez-se um silêncio constrangedor na mesa. Minha mulher explicou, rindo meio sem graça, que 'este é um tipo de pergunta que não se faz'.

Para me salvar do constrangimento e não parecer tão "british", meu amigo respondeu, afinal, que vai votar no Partido Conservador. Olhei para ele abismado e disse: "Partido Conservador? Como um cara culto e inteligente como você pode votar num almofadinha como o David Cameron?". Ele sorriu e explicou: "é para evitar confrontos deste tipo que se inventou este tabu".

Que gente esquisita! Moro aqui há décadas e já desisti de entendê-los. Não sabem o que estão perdendo. Nada como um bom jantar estragado por uma discussão a respeito da Dilma.

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