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Serafina

Grupo de garotas une manobras radicais ao resgate dos patins clássicos

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Pelas bordas da pista, skatistas passam voando contra um céu azul, emoldurado por palmeiras, num parque do sul da Califórnia. No fundo da pista de skate, uma garota de vestido de bolinhas brancas se recupera de um tombo e é aplaudida. Sua saia se levanta com o vento, revelando pernas musculosas. Nos pés, ela tem um par de patins clássico, aquele de quatro rodinhas, uma em cada canto, de bota verde.

Não é ensaio de moda nem filme de Hollywood. Trata-se de uma integrante do grupo de garotas Moxi Skate Team, formado para promover o esporte, patrocinado pela marca Moxi Roller Skates, responsável por impulsionar nos EUA o ressurgimento dos patins tradicionais, de rodas paralelas, chamados de "quads".

VEJA O ENSAIO EXCLUSIVO DO MOXI SKATE TEAM PARA A SERAFINA

Na sequência, outra patinadora se aventura na pista. Ela usa shorts de oncinha de cintura alta, meias até o joelho e camiseta de banda punk. Planta uma bananeira na borda e cai de pé na pista, de costas. É Michelle
Steilen, 32, líder do grupo e fundadora da Moxi, famosa pelas suas manobras arriscadas.

"Queria criar patins mais bonitos, afinal mulheres gostam de sapatos, não é mesmo?", pergunta Michelle, uma ex-ginasta e ex-animadora de torcida obcecada por patins desde criança. "Queremos nos exercitar e nos divertir ao mesmo tempo, ao ar livre, esta é a nossa mensagem", diz. Ela chegou a usar rollerblades (os patins mais modernos, com as rodinhas enfileiradas, também conhecidos como inline), quando os tradicionais desapareceram, nos anos 1990.

"Os 'quads' morreram porque não funcionavam muito bem ao ar livre. Os rinques de patinação não vendiam rodinhas próprias para as ruas porque viam isso como uma ameaça. Mas hoje existem rodinhas excelentes",
explica Michelle, conhecida pelo apelido Estro Jen.

A volta dos patins tradicionais começou a tomar forma com o ressurgimento do roller derby nos anos 2000, um esporte feminino no qual dois times disputam uma espécie de corrida, com "quads" de botas de cano baixo e sem salto. Cansada de só encontrar patins "feios e masculinos", Michelle fundou sua própria marca, com patins de camurça colorida, com saltinho opcional.

Formada em neurociência na Filadélfia, ela se mudou para a Califórnia em 2005 e trabalhou com marketing em uma empresa de artigos esportivos. Fã da patinadora paulista Fabíola da Silva, 35, recordista de medalhas do campeonato de esportes radicais X Games, Michelle chegou a procurá-la para ter aulas. "Ela é a maior de todos os tempos", diz sobre a brasileira, oito vezes campeã entre 1996 e 2003, que competia com homens na pista vertical. "Queria ver o que ela faria com um par de Moxis".

Desde 2008, os produtos da Moxi são fabricados nos EUA pela gigante Riedell, especializada em patins de gelo, que viu sua produção mais do que triplicar com o roller derby. Com o sucesso da marca, cujas vendas ela diz aumentarem 50% a cada ano, Michelle abriu uma loja em Long Beach, cidade praiana do condado de Los Angeles com o maior número de parques de skate do mundo. Um par de Moxis custa entre US$ 179 e US$ 279.

VEJA VÍDEO DAS GAROTAS EM AÇÃO

Moxi Skate Team em ação

"Nossa inspiração vem das manobras dos skatistas, dos ciclistas BMX e dos rollerblades. Também criamos nossas próprias manobras", diz Michelle. Para Shayna Meikle, 28, apelido Pigeon, integrante do time Moxi, foi no verão americano de 2014 que a novidade explodiu nos parques. "Do início ao final do ano, a percepção mudou 180 graus. Antes havia confusão, medo, falavam que éramos loucas e tal. Depois todo mundo passou a achar legal e a querer aprender", disse Shayna.

Parte da mudança foi um vídeo de Michelle que teve quase meio milhão de acessos em uma semana, assim que foi postado no YouTube, no qual ela patina pelo calçadão da praia, ruas de Hollywood e parques, levando tombos e dando saltos sensacionais. Em dezembro, após críticas por não usar nenhuma proteção, ela fez outro vídeo ainda mais radical, mas desta vez usando capacete.

O time de patinadoras patrocinado pela marca de Michelle, a Moxi, tem 14 americanas e cinco estrangeiras em outros países. Tem uma que patina 40 km por dia, uma especialista em descida em alta velocidade e uma que gosta de misturar pole dance com patinação. Além de invadir pistas e rinques, elas organizam aulas e passeios pela cidade.

GAROTAS NA TIGELA

Pelo mundo, a sensação dos patins tradicionais em pistas de skate também ganha força com o movimento "Chicks in Bowls" (meninas nos 'bowls', como as pistas em formato de tigela são chamadas), que começou na Nova Zelândia e tem representantes em dezenas de países, como no Brasil, para estimular e ensinar mais garotas a fazer manobras de patins nas pistas de skates.

A ex-advogada paulista Pamela Sernaiotto, 29, é uma seguidora do "Chicks in Bowls", jogadora de roller derby e dona da Track-O-Saur, uma loja on-line que importa patins. "A cultura no Brasil é de rollerblades, mas minha ideia era oferecer algo que ninguém oferecia. Todo dia alguém me pergunta se vendemos Moxis", disse Pamela, que vende um modelo parecido da marca Sure Grip, concorrente da Moxi.

Para a fundadora do "Chicks in Bowls", a neozelandesa Samara Pepperell, 23, o futuro está nas competições, ainda raras. "Adoraríamos ter nossas próprias competições, mas o nível ainda tem que melhorar muito", diz Samara, cujo grupo começou a desenvolver seu próprio patins. "Existe um buraco no mercado. Todo mundo usa patins de roller derby ou de patinação artística, e eles funcionam, mas só até certo ponto. Queremos melhorar a experiência de quem quer curtir os parques de skate." Michelle não vê a concorrência como problema. "Precisamos de mais 'Chicks in Bowls'. Caso contrário, os patins morrem de novo."

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