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Serafina

Desbocada, Amy Schumer conquista a América na TV, nos palcos e no cinema

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Não queira irritar Amy Schumer. A comediante de maior sucesso nos Estados Unidos no momento é como o coelhinho de "Monty Python em Busca do Cálice Sagrado" (1975): de aparência fofa, mas que estraçalha os humanos quando atacado.

À primeira vista, Amy, 34, passa a impressão de ser sua melhor amiga, alguém que leva tudo na boa. Uma armadilha mortal para quem for estúpido o suficiente para... bem, para ser estúpido.

Em fevereiro passado, o crítico de cinema Jeffrey Wells, mais conhecido por despertar polêmicas que por seus textos cinematográficos, viu o trailer de "Descompensada", primeiro longa da comediante como atriz e roteirista —função que exerce semanalmente em "Inside Amy Schumer", série de TV exibida nos EUA pelo canal pago Comedy Central.

No texto, Jeffrey Wells não mencionou nem que o diretor Judd Apatow a descobriu ouvindo o programa de rádio de Howard Stern nem a presença do astro do basquete LeBron James no elenco.

Tampouco citou o roteiro sentimental sobre uma garota selvagem —Amy, também o nome da personagem— que se apaixona por um médico quadradão.

Wells escreveu o seguinte: "Judd Apatow está novamente nos apresentando a uma comediante gordinha engraçada, não convencionalmente atraente e neurótica [...]. Ela é obviamente afiada, esperta e divertida, mas nem a pau que seria o interesse romântico no mundo real. Suas feições me lembram um Lou Costello [comediante, 1906-1959] loiro ou uma espécie de irmã-cheinha-que-saiu-errada de Jennifer Aniston."

A comediante respondeu no Twitter, postando uma foto sua seminua e mandando o recado: "Não tenho planos de mudar. É isso. Não gosta, caia fora. Beijos!"

Justin Stephens/Comedy Central/Divulgação

Mas ela ainda não havia acabado. No mês seguinte, Amy seguiu adotando a postura "estou cagando para tudo isso" ao falar sobre sua carreira em um auditório lotado —com centenas de pessoas do lado de fora—, no Centro de Convenções de Austin, sede do SXSW, o festival multimídia mais importante dos Estados Unidos, que serviu de première mundial para "Descompensada".

A reportagem da Serafina sentou-se na primeira fila a convite da produção do filme e pôde conferir a reação da comediante. "Alguém dizendo que sou fisicamente asquerosa não muda meus batimentos cardíacos ou o curso do meu dia. Isso acontece comigo há muito tempo, desde que fiz o [programa de talentos] 'Last Comic Standing', em 2007."

*

A PALHAÇA DA CLASSE

Amy Schumer notou que era engraçada "por volta dos três, quatro anos, quando fazia a família rir". Aos cinco, já participava de peças escolares.

Foi um começo de vida alentador: seus pais, bem casados, abriram uma empresa de importação de móveis para bebês, a Lewis of London. Por um bom tempo, a família residiu no Upper East Side, um dos bairros mais caros de Manhattan, mantendo o vidão com o dinheiro dos ricaços que adquiriam berços caríssimos de Milão.

Aí, veio a concorrência, que massacrou a firma com uma oferta bem maior e mais barata. Quando Amy estava com nove anos, a Lewis of London faliu e a família Schumer se mandou para Long Island, bairro distante e barato de Nova York.

Três anos depois da mudança, o pai dela foi diagnosticado com esclerose múltipla e separou-se de sua mãe, Sandra.

Quando estava no colegial, Amy foi eleita a "palhaça da classe" por seus colegas de turma. Encorajada, passou a tentar papéis em séries, fez teatro e começou a se destacar no cenário de comédia stand-up de Nova York, fazendo seu primeiro show aos 22 anos no "Gotham Comedy Club".

"Notei que podia seguir carreira porque o público ria quando atuava em peças ou nos clubes. Então, passei a trabalhar mais pesado para melhorar", contou ela à Serafina, em julho, em um hotel em Los Angeles, poucas semanas antes da estreia de "Descompensada".

Apesar de citar nomes como Ellen DeGeneres, Lucille Ball e Goldie Hawn como pioneiras e influências entre mulheres comediantes, o estilo Amy de subir aos palcos e confessar em tom de piada casos reais (ou não) da sua vida sexual passou como um rolo compressor no mundo machista da comédia stand-up.

Como a vez em que pediu a um taxista para masturbá-la enquanto uma amiga deitava bêbada no banco de trás do carro. Ou quando disse finalmente ter transado com sua paixão do colégio, completando com um "só espero que ele não queira que eu vá a sua formatura".

"Quando comecei a fazer apresentações, comediantes mulheres significavam a hora de ir ao banheiro para muita gente", conta ela, dando risada. "Mas isso era ainda mais empolgante, porque eu surpreendia [o público] no fim."

A surpresa do público continuou quando Amy aumentou sua influência e criou uma série de quadros e entrevistas, geralmente sobre sexo e relacionamento, para o Comedy Central. "Tem mais homem do que mulher assistindo ao programa", diz a comediante, sobre "Inside Amy Schumer". "Sei lá, acho que os caras gostam de ver mulheres cheias de si na TV."

Em abril, a série chegou à terceira e mais comentada temporada. Não apenas por causa do alto número de participações especiais (Jerry Seinfeld, Tina Fey, Paul Giamatti, Jeff Goldblum), mas porque o roteiro e a direção de Schumer atingiram um nível de acabamento que rivaliza com as comédias mais inteligentes já exibidas pela televisão, tratando assuntos sérios com um cinismo e um sarcasmo pouco comuns nos EUA de hoje.

Inside Amy Schumer - Generations

No primeiro episódio, Patricia Arquette, Julia Louis-Dreyfus e Tina Fey interpretam elas mesmas em uma cerimônia para comemorar o último dia "pegável" de Dreyfus: "O momento em que a mídia decide que as pessoas não acreditam que uma atriz é mais pegável".

Em outro esquete, ela reencena a série "Friday Night Lights" para falar da cultura do estupro que é varrida para baixo do tapete entre os jogadores de futebol americano universitário.

Mas é no momento mais memorável da temporada que Amy Schumer finalmente revela que não esqueceu as palavras cruéis do crítico de cinema Wells.

Ela constrói um remake curto do filme "Doze Homens e Uma Sentença" (1957), no qual os homens do júri precisam julgar se Amy é gostosa o suficiente para aparecer na televisão e no cinema.

"Eu escrevi esse quadro sozinha, porque não queria que os outros roteiristas aparecessem com insultos novos sobre mim", conta a comediante, que foi indicada a quatro prêmios Emmy pelo episódio, inclusive direção e atriz cômica.

Apesar do humor autodepreciativo e de ideias distorcidas sobre atributos femininos para ser uma estrela, Amy Schumer garante que nada disso afeta sua segurança. "Sinto-me linda, forte e saudável. E, certamente, merecedora de amor, afeição e ereção."

*

AUTOBIOGRÁFICA

O único momento em que ela parece baixar a guarda é ao falar sobre "Descompensada". Quando o diretor Judd Apatow ("Ligeiramente Grávidos") perguntou se ela tinha algum roteiro na cabeça para um longa, Amy respondeu que sim e entregou um projeto superambicioso, mas repleto de falhas.

Apatow disse para ela investir em algo mais pessoal. Nascia o enredo sobre uma jornalista que adora beber e fazer sexo descompromissado até conhecer um médico bonzinho. A narrativa reflete a relação de Schumer com a irmã, a situação do pai doente e até mesmo sua amizade com um mendigo.

"Aprendi um bocado sobre mim enquanto escrevia o longa. Na época, eu estava apaixonada por alguém e morrendo de medo disso. Mas ele era um viciado em sexo. No início, era bom, porque você se sentia desejável. Depois, notei que ele podia foder até uma mesa. Por causa disso, me machucava e magoava as pessoas ao meu redor. Não entendia se eu tinha o direito de ser amada, mas aprendi que sim", confessa.

O ex-namorado, retratado no filme como um bombadão descerebrado, já ficou para trás. E Amy Schumer agora se concentra em sua missão mais inusitada: em setembro, abre três shows de Madonna em Nova York. "Ela é uma das minhas cantoras preferidas e fiquei empolgadíssima", conta Amy Schumer, olhando para baixo, meio inocente como um coelhinho: "Provavelmente eu vou estragar tudo".

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