Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
Publicidade

Serafina

Os lugares decrépitos de São Paulo fotografados pelo presidente do Goldman Sachs

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Oito da manhã de um sábado é a hora perfeita para Paulo Leme, 60, aproveitar a luz. Com duas câmeras e cinco lentes na mochila, o presidente do banco Goldman Sachs do Brasil parte para sua exploração fotográfica da decadência urbana da cidade de São Paulo.

Primeira parada: a antiga fábrica da cervejaria Antarctica, na Mooca (zona leste da capital), construída em 1892. Com sua Nikon D4, Leme foca as vidraças quebradas, as pichações e o lixo. "Por que as cidades morrem? Fico pensando nisso quando venho a estes lugares, onde havia concentração de indústrias", diz o banqueiro.

"Ninguém da Faria Lima cruza a avenida Paulista para o lado de lá, mas eu, aqui, estou no meu ambiente. Gosto de galpões, grafites, lugares decrépitos."Leme começou a se interessar por fotografia na época de faculdade, quando cursava engenharia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). É autodidata, "como se percebe nas fotos", brinca o banqueiro.

O interesse por arqueologia urbana, no entanto, é mais recente. Quando morava em Miami, passou a fotografar Wynwood, um bairro decadente que se transformaria no Arts District, meca de hipsters, repleto de galerias.
Foram 33 anos vivendo no exterior, onde trabalhou para o FMI e para o Goldman. Diversas vezes, foi cotado para assumir a presidência do Banco Central. Em 2012, voltou ao país para presidir o banco de investimentos no Brasil, e começou a fotografar cantos menos vistosos da capital paulista.

Tem um ritual: traça o roteiro com ajuda do site São Paulo Antiga, imprime o mapa do Google Maps e vai.

No início, saía acompanhado de um motorista descolado, que conhecia todos os "buracos". Depois, passou a ir de táxi. Às vezes, segue sozinho.

Naquele sábado, no entanto, conta com uma "entourage": motorista, assessora, repórter e repórter fotográfico da Serafina, em uma van blindada.

Está "à paisana" -camiseta polo, calça jeans e sapato top sider. O relógio é da desconhecida marca Momentum -US$ 100 (cerca de R$ 350).

No bolso, um maço de notas de R$ 50 fixas com um clipe. "São Paulo é uma cidade de sobrecarga sensorial", diz ele. "Gosto de encontrar texturas, cores e padrões no meio da confusão."

Leme tenta entrar no depósito da Cicloaço, empresa de reciclagem de sucata, na avenida Presidente Wilson, para fotografar. Em vão: é barrado pelos seguranças. Seguimos para uma ponte ao lado do pátio. Um menino sujo e descalço, com cabelos rastafári, para e aborda o engravatado Claydson Rodrigo, o motorista do banqueiro. "Acho bacana ele vir a estes lugares tirar fotos, mas precisa ficar esperto. Tem sempre um ligeirinho", diz o condutor.

Dispensado por Claydson com um gesto, o menino segue pela ponte, falando sozinho. Passa batido pelo banqueiro, que dirige uma instituição de 300 funcionários e R$ 5,1 bilhões em ativos.

Seguimos para o próximo destino, a locomotiva que fica ao lado do Museu da Imigração, também na Mooca. Além da maria-fumaça fabricada em 1922, uma passarela inglesa de ferro fundido do século 19 completa o cenário.

"Quando você encontra um lugar destes, já valeu a viagem", diz. A última parada é o Bom Retiro, na primeira fábrica da Ford, de 1921, hoje em ruínas. Mas a luz ainda está boa, Leme quer continuar em direção à estação da Luz. "Vamos à cracolândia?", pergunto. "Em mercado financeiro, existe risco e existe incerteza", ele me responde. O risco é calculável, a incerteza, não.

"Ir até até a cracolândia é uma incerteza, um risco desnecessário", completa Leme. E o Brasil dos dias de hoje? É risco ou incerteza? "Incerteza."

Mais opções
  • Enviar por e-mail
  • Copiar url curta
  • Imprimir
  • Comunicar erros
  • Maior | Menor
  • RSS

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua notícia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página