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Nas graças de Beyoncé e Jay Z, gêmeas do Ibeyi mesclam jazz e cantos iorubá

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Na língua iorubá, falada em países como o Benin e a Nigéria, ibeyi significa "irmãos gêmeos". Na música, Ibeyi é a dupla formada por Naomi e Lisa-Kaindé Diaz, ambas de 20 anos, que lançaram seu primeiro disco, homônimo, em fevereiro.

Durante a curta carreira, elas passaram de coadjuvantes, abrindo shows para artistas como Damon Albarn, a protagonistas de apresentações com ingressos esgotados, em turnês nos Estados Unidos, na África e na Europa. Foram mais de cem performances, numa trajetória espetacular que incluiu a bênção da cantora Beyoncé, que postou uma canção da dupla em um vídeo no Instagram para seus milhões de seguidores.

Fe Pinheiro
A dupla Ibeyi, Lisa-Kaindé e Naomi Diaz
A dupla Ibeyi, Lisa-Kaindé e Naomi Diaz

"Estávamos num aeroporto quando ela [Beyoncé] publicou. Não entendemos nada!", lembra Naomi. "Muito antes de fazermos o disco, Jay-Z [marido da cantora] assistiu a um vídeo com uma versão de 'Mama Says' e entrou em contato com nosso manager à época pedindo a música. Acho que, depois disso, eles nos acompanharam", acredita Lisa.

O burburinho que atraiu o casal famoso foi provocado pela criativa mistura de beats afro-cubanos e eletrônicos, embalando composições interpretadas em inglês e em iorubá.

Mas não foi só o som que atraiu as atenções para a banda. O fato de as gêmeas terem físico e comportamento antagônicos aguçou curiosidades, criando uma mística em torno das garotas.

Lisa, falante e com seus cabelos penteados num imponente black power, preparava-se para ser professora de música quando o duo decolou. Já Naomi, que esconde os intimidantes olhos de ressaca com suas longas mechas onduladas, costuma dizer que a parceria com irmã a salvou da "horrível" disciplina escolar.

Na música, seus estilos também se opõem. Enquanto Lisa ouve jazz e downtempo (ritmo eletrônico com andamento calmo), Naomi prefere o hip-hop. "Nosso trabalho torna-se interessante justamente porque jamais pensamos a mesma coisa", acredita Lisa.

A junção dessas duas facetas resultou numa sonoridade que Lisa e Naomi definem como "negro spirituals", mescla de influências herdadas do pai, o percussionista cubano Miguel "Angá" Diaz (1961-2006), e da mãe e empresária da dupla, a franco-venezuelana Maya Dagnino.

Nascidas em Paris, as gêmeas moraram os dois primeiros anos de vida em Cuba. A infância das meninas é repleta de memórias dos shows do pai, instrumentista premiado com o Grammy Latino e parceiro de gente como o pianista cubano Chucho Valdés.

Outra influência das irmãs é o universo mágico da santería, que mescla crenças católicas às tradições iorubá —similar ao candomblé brasileiro. "Para nós, ela representa muito mais uma cultura do que uma religião", explica Lisa. "Cresci com a ideia de que sou filha de Iemanjá e Naomi, de Xangô. Isso faz parte da nossa formação e é natural que esteja em nossa música", afirma ela.

Aos sete anos, as meninas estrearam no conservatório. Lisa ao piano e Naomi na percussão. A primeira se divertia, enquanto a segunda se entediava. "A disciplina era duríssima. Eles não deixavam espaço para a criação. Era muito frustrante", diz Naomi.

O Ibeyi começou a tomar forma quando Lisa debutou num palco profissional, aos 15 anos. O responsável foi o músico cubano Raul Paz, amigo da família, que a convidou para uma participação em seu show no Le Bataclan, famosa casa de espetáculos parisiense. "Depois disso, propuseram a ela gravar um EP e eu disse: 'Você não vai fazer sem mim", relembra Naomi.

O compacto, nunca lançado, foi parar nas mãos do britânico Richard Russell, dono da gravadora XL Recordings, cujo casting reúne artistas como Adele, Jack White e Radiohead. "Quando nós o encontramos, sentimos imediatamente que Richard produziria o disco. Isso mesmo antes de ele dizer uma palavra", afirma Lisa.

"Ibeyi", o álbum, reúne influências do jazz de Nina Simone, da eletrônica experimental de James Blake e do canto de Elis Regina. A essas referências, Lisa e Naomi agregaram os cânticos em iorubá, que entoavam no coral da infância.

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Na introdução do álbum, as gêmeas exaltam os orixás e, principalmente, a memória do pai, morto precocemente aos 45 anos, vítima de um ataque cardíaco.

"Quando ele morreu, fiz meu grande luto. Mas Naomi, não. Ela não chorou durante três anos.", conta Lisa. "Pensei que fosse uma piada de mau gosto" diz a irmã. "Por anos não consegui ouvi-lo."

A outra perda presente no repertório é a da irmã mais velha, Yanira, que dá título a uma canção. Ela morreu em decorrência de um aneurisma, aos 28 anos. "Era preciso celebrá-los. Por isso, fizemos esse álbum", completa Lisa.

Esse mundo adolescente tão particular mantém-se presente na figura da mãe, no duplo papel de empresária —durante a entrevista, ela traz um prato de guloseimas para as meninas e cuida para que elas estejam bem agasalhadas.

De resto, a vida virou de pernas para o ar. "As mudanças pelas quais passamos foram inacreditáveis. Por outro lado, era muito lógico e natural viajar o mundo para mostrar o disco, porque não há nada mais cosmopolita do que a música", diz Lisa, a falante.

Editoria de arte/Revista Serafina
#ARSER2709 PAGINA 20 arte las hermana Ibeyi
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