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Serafina

Atores de 'Velho Chico', nova novela da Globo, fazem experiências em galpão

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Durante mais de dois meses, Selma Egrei aprumou-se para viver Encarnação. Colocou espartilho, vestidos pesados de época, botas quase até os joelhos, peruca, subiu em um palco, testou a caracterização sob a luz, falou seu texto, mas nada de ouvir o "gravando!".

O comando para surgir diante da câmera só viria no fim de janeiro, em uma fazenda colonial de São Francisco do Conde, na Bahia, um dos cenários de "Velho Chico", próxima novela das 21h da Globo.

Nesse intervalo de tempo entre as ações, os personagens da atriz e de todo o elenco da saga familiar escrita por Benedito Ruy Barbosa eram gestados em um espaço coletivo de experimentação idealizado pelo diretor Luiz
Fernando Carvalho ("Capitu", "A Pedra do Reino", "Meu Pedacinho de Chão" etc.).

"Trabalhamos num galpão que parece uma tenda de circo. O Luiz monta luz, coloca música, faz tudo. Aí a cortina se abre e os atores aparecem caracterizados, já improvisando cenas. A procura dele é por fazermos com verdade", diz Egrei, sobre o local montado por Carvalho no Projac, o centro de estúdios da Globo no Rio, em 2013.

O fotógrafo Leandro Pagliaro, um dos câmeras da novela, registrou para Serafina os bastidores desse treinamento no galpão onde elenco se mistura à equipe de cenografia, figurino, costureiras e contrarregras.

No local, os atores tiveram aulas de prosódia, dança, canto, entre outras, conduzidas por Carvalho e sua equipe de preparadores: Agnes Moço, Antônio Karnewale, Lucia Cordeiro e Tiche Vianna. Também fizeram exercícios com máscaras para trabalhar os arquétipos.

"Sou um criador que necessita de seu espaço de criação exercido de forma colaborativa. Essa é a real motivação que condicionou minha atividade de diretor ao galpão", afirma Carvalho. "Não há ninguém ali que não tenha algo a oferecer ao outro, e, consequentemente, meu olhar se alimenta desse fluxo de encontros. Não saberia mais dirigir de forma convencional."

Há mais de uma década realizando seus trabalhos dessa maneira, o diretor também enxerga no processo uma luta contra aquilo que define como estagnação e repetição.

"É um combate diário contra a cristalização de modos e pensamentos dos intérpretes ao se colocarem diante de um novo universo, de uma cena, de um personagem. A imaginação é um músculo e dever ser exercitado", diz.

RIO SÃO FRANCISCO

Para que toda a equipe de "Velho Chico" ficasse ambientada à trama, que se passa no sertão nordestino e fala da transposição do rio São Francisco, os psicanalistas Carlos Byington e Maria Rita Kehl, os músicos Antonio Nóbrega e José Miguel Wisnik, o antropólogo Antonio Risério e o ativista Roberto Malvezzi, da rede Articulação Semiárido Brasileiro, foram ao galpão contextualizar os temas do folhetim.

Rodrigo Santoro, que após 12 anos volta às novelas como o coronel Afrânio na primeira fase de "Velho Chico", assistiu às palestras pela internet, de Los Angeles, onde gravava "Westworld" (HBO). "As conversas foram importantes para envolver e trazer todo mundo para a história que vamos contar", afirma.

Ele, que havia participado do processo conduzido por Carvalho em "Hoje É Dia de Maria" (2005), conta que a experiência foi novamente "prazerosa e rica".

"Não me senti voltando ao mesmo lugar, mas para um local que já tinha visitado e aprendido muito. E voltei a aprender", diz. "Não é um método, é um encontro de artistas no qual somos estimulados e alimentados o tempo todo."

Para Camila Pitanga, que viverá na segunda fase da trama Maria Tereza, filha de Afrânio (Antonio Fagundes), a preparação levou-a a "sair desse modo de atuação quase autômato e focado para o resultado" imposto pelo processo industrial das novelas. "Está sendo desafiador querer me reinventar, falar de um outro lugar", diz a atriz.

Acostumado à criação coletiva em sua companhia circense La Mínima, Domingos Montagner conta que nunca havia feito uma imersão como a de "Velho Chico" para a televisão.

"Emendamos um trabalho no outro e, sem perceber, podemos ficar com elementos do que acabamos de fazer", fala o ator, que será Santo, o fazendeiro antagonista de Afrânio. "Mas o que acho mais importante é essa integração, conhecer a pessoa com quem você vai contracenar para que estejamos todos no mesmo diapasão."

*

Imaginar: Ato de Cidadania

Por LUIZ FERNANDO CARVALHO

Foi com "Lavoura Arcaica" (2001) que minha relação com os intérpretes mudou radicalmente. Antes, me escondia atrás da câmera e chamava os atores para a cena. Depois da experiência de isolamento com todo o elenco em uma fazenda para a preparação do filme, passei a compreender que a função do diretor é provocar um acontecimento de ordem espiritual diante da câmera. Enquanto essa aventura não acontece, não faz sentido gravar.

No meu modo de sentir, imaginar é um ato de cidadania, ato perigoso, por isso fortaleço meus atores e minha equipe na coragem de criar.

O texto é um ponto de partida que precisa ser vasculhado, não simplesmente decorado.

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