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Serafina

Nascido no Vidigal, Patrick Lourenço é promessa no boxe peso leve

Miro
Especial de Serafina sobre boxe olímpico
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O boxe tomou de tal forma a vida de Patrick Lourenço que o marcou até na pele. No braço esquerdo, as asas de um anjo protegem uma comunidade e o morro Dois Irmãos, que emolduram a luva de boxe e o número 49.

A tatuagem é um resumo da vida do atleta nascido no Vidigal, onde fica o morro da tatuagem, no Rio de Janeiro. Um boxeador que já figurou entre os dois melhores do mundo e sonha com uma medalha nos Jogos Olímpicos.

Patrick começou a praticar boxe aos 13 anos a convite de um amigo. Gostava de futebol, jogara tênis e basquete na comunidade, mas queria mesmo experimentar algum tipo de luta. Era uma forma de se sentir mais próximo do pai, praticante de jiu-jítsu, morto quando ele tinha apenas três anos.

"No começo, minha mãe ficou preocupada, achou que eu ia chegar em casa todo machucado, mas mesmo assim me apoiou. Ela sabia que era um jeito de eu ocupar a cabeça e não seguir um caminho errado", diz o boxeador de 23 anos, da categoria até 49 kg.

Renata cuidou de muitos machucados do filho, mas não o deixou desistir nem quando precisou arrumar três empregos para fechar as contas da casa.

Aos 15, Patrick foi campeão nacional e começou a viajar pelo Brasil para competir. Aos 17, voltou a se tornar o melhor do país em sua faixa etária. No ano seguinte, estava convocado para a seleção principal.

O convite era para treinar em São Paulo. Teria de deixar a mãe e a avó Célia no Rio. "Achei que minha mãe não fosse me deixar vir. Falei que estava com medo, e ela me acalmou. Me incentivou e disse que medo era normal. No começo, foi difícil. Eu chorava todas as noites", relembra.

Morando em uma república com outros atletas, Patrick teve de aprender a se virar. Sempre telefonava para a mãe pedindo socorro: Como lavar a roupa na máquina? Como limpar a casa? Renata ria. De São Paulo, ganhou o mundo. Já conheceu mais de 20 países.

Em Cuba, ficou fascinado com o mar do Caribe. Na China, virou atração.

"As crianças queriam tocar em mim. Lá é todo mundo igual, eu era muito diferente", ri. Hoje, quando volta para o Rio, o boxeador se divide entre as casas da mãe, comprada com o dinheiro que ganhou no ringue, da avó, e da namorada, Amanda, mãe de sua filha Eloá, de quatro meses.

"Como não tive pai, quero viver toda a experiência com ela. Nunca achei que ia gostar de acordar de madrugada, trocar fralda, fazer o bebê dormir. Quando estou em São Paulo, morro de saudade", afirma, enquanto mostra fotos do bebê no celular.

psicológico

Ficar longe da família ainda é um desafio. Quando sua avó ficou doente, poucos meses atrás, ele contou com ajuda da psicóloga para conseguir voltar a se concentrar nos treinos. As sessões, que antes achava serem "frescura", hoje são parte essencial de sua preparação.

"Essa contagem regressiva [para os Jogos] estava me deixando ansioso. Eu sonhava direto com o que ia acontecer na Olimpíada, vivia passo a passo todas as emoções. Ela me mostrou que isso é positivo, que, nos sonhos, eu já estou me preparando para o que vou sentir. Tirou um peso de mim", diz.

Evangélico, Patrick gosta de ligar música gospel horas antes da luta para "ascender sua fé". Quando está prestes a entrar no ringue, ouve Projota e Emicida. Minutos antes de vestir as luvas, olha no espelho e fala palavras de incentivo para si mesmo.

"Sou bem mais confiante. No Mundial [em 2013], eu era o atleta mais novo. Cheguei meio com medo, só tinha fera. Me perguntava: será que vou conseguir?", lembra Patrick, que logo virou o jogo. "Comecei a pensar que, se eu estava ali, era porque tinha capacidade. Não deu outra. Ninguém me conhecia e cheguei até as quartas de final."

físico

Patrick treina de segunda a sexta. Sábado e domingo tem folga. Em média, são quatro horas por dia de exercícios pesados, alguns na parte da manhã, outros na parte da tarde. A nova rotina foi um choque quando ele chegou a São Paulo. "No Rio, era um período só, mais um hobby. Aqui virou profissão."

Todos os dias faz fisioterapia e, três vezes por semana, passa por uma consulta com a nutricionista. O acompanhamento é primordial. Patrick tem 1,64 m e luta na categoria até 49 kg. Precisa ser muito leve.

Seu peso normal é 53 kg, é como se sente confortável para treinar. Cerca de um mês antes das competições, começa a emagrecer, principalmente controlando a alimentação. A pesagem para a luta é feita na véspera de o atleta entrar no ringue.

"Se eu perder muito peso de forma muito rápida, meu corpo sente. Então falo com a nutricionista e o preparador físico para ver de onde posso tirar. É difícil porque já tenho muita massa magra."Às vezes, Patrick precisa recorrer a um processo de desidratação para perder os últimos gramas antes de subir na balança. "Mas nunca fiz loucura de entrar na sauna ou correr coberto de plástico para suar mais", diz.

panorama

O boxe olímpico do Brasil ganhou um novo status após os Jogos de Londres, em 2012. Naquela competição, os brasileiros voltaram ao pódio pela primeira vez desde 1968. Foram três medalhas: prata de Esquiva Falcão e bronzes de Yamaguchi Falcão e Adriana Araújo. Mas os irmãos Falcão se tornaram profissionais, não podem mais competir em jogos olímpicos, e Adriana Araújo teve uma queda de rendimento.

A equipe que vai aos Jogos do Rio tenta mostrar que pode manter o nível atingido em Londres. O principal destaque é Robson Conceição, que ganhou uma prata e um bronze na categoria até 60 kg nos dois últimos Mundiais.

"A preparação que fizemos foi a melhor possível. Acho que temos condições de ganhar pelo menos quatro medalhas", avalia Patrick. Ele se coloca nessa conta?

"O nível dessa Olimpíada será o mais forte das últimas edições. Eu tenho capacidade e preparo, mas sei que é difícil. Se não for nessa, será na próxima", diz. Ele sonha chegar ao pódio e nem escolhe a cor da medalha. O mais importante, acredita, é a mensagem que vai passar. Que outros garotos da comunidade, como ele, podem seguir o mesmo caminho.

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