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Serafina

Rebecca Miller traz à Mostra de SP seu quinto filme, sobre 'nova mulher'

Julie Howden/Dilvugação
A diretora Rebecca Miller, que terá seu qunto longa apresentado na 40ª Mostra de Cinema de São Paulo
A diretora Rebecca Miller, que terá seu quinto longa apresentado na 40ª Mostra de Cinema de São Paulo
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Cinco anos atrás, quando se mudou outra vez para Nova York, Rebecca Miller voltou a se apaixonar pela cidade. Quando buscava os filhos na escola, perdia os olhos na paisagem da cidade, estudando a luz do sol e seus reflexos nos prédios e parques ao sul da ilha de Manhattan. "Apenas estar nessa cidade é algo muito inspirador, e a ideia de poder fazer um filme na minha vizinhança me agradava. Quando me dei conta, Nova York já tinha se tornado um personagem do filme", conta a diretora.

Não à toa, "Maggie's Plan", seu quinto longa que ganha exibição na Mostra de Cinema de São Paulo, que começa no dia 20, guarda um quê de Woody Allen (sem tanta neurose) e outro de Nora Ephron (sem tanta nostalgia). Os personagens dividem almoços em bancos de praça no outono, fogem para a calefação ou para pistas de patinação no inverno e, sobretudo, tentam resolver a enigmática equação de um relacionamento a dois. Tudo é visto sob a ótica da jovem Maggie (Greta Gerwig), porta-voz do tema que realmente importa para a diretora Rebecca Miller.

"O filme é muito sobre essa confusão contemporânea, sobre como é ser uma mulher neste momento e como é viver com um homem. O que somos um para o outro? De certa forma, não precisamos mais necessariamente viver como casais para ter filhos, não precisamos financeiramente um do outro, nem do ponto de vista prático, ou seja, não precisamos mais um do outro nem para procriar. Então, o que significa ser um casal?", ela me disse numa conversa por telefone, de seu apartamento em Nova York.

A questão, no entanto, parece distante da vida da diretora. Aos 54 anos, Rebecca é casada há 20 anos com o ator Daniel Day-Lewis, com quem tem dois filhos. O casal vive entre o agito de Nova York e uma casa de campo na Irlanda. Rebecca costuma dizer em entrevistas que, não fosse o encontro com Day-Lewis num set em 1996, não teria filhos. A bem-sucedida relação com o ator animou o projeto de ser mãe, algo muito diferente do que ela escreveu para a protagonista de seu mais recente filme.

Já na primeira cena do longa, Maggie conta a um amigo que pretende engravidar, via inseminação, de um ex-colega de escola, um típico hipster-barbudo-do-Brooklyn cuja profissão é preparar e vender picles em conserva. Ela não acredita na própria habilidade de construir relacionamentos e, enfim, a saída prática soa mais razoável que o caos sentimental. O plano cai por terra quando ela se apaixona por um professor (Ethan Hawke), e ele deixa a mulher (Julianne Moore) para dar à jovem o tão sonhado filho. Os dois se casam, o bebê nasce, cresce - e o casamento vai por água abaixo. Maggie se dá conta de que prefere viver sozinha com a filha a manter o casamento fracassado. Sua solução: devolver o marido à esposa anterior.

A partir da ideia estapafúrdia de Maggie, o filme ganha mais humor e se torna uma comédia pura - ou, nas palavras da diretora, uma "screw-ball comedy", gênero de comédia em ritmo frenético e personagens excêntricos muito popular nos anos 1930 e 1940. O tom quase escrachado é algo novo para Rececca que, nos quatro longas anteriores, como "O Mundo de Jack e Rose" (2005), acrescentou a dramas doses menores de comédia. "Sempre gostei de ver as pessoas rindo nos meus filmes, mas, é claro, eu tentava balancear drama e comédia", diz. Agora, a balança pesou para o humor. "Estou ficando mais velha e percebendo como a vida pode ser triste. Sinto que rir de si mesmo é uma boa saída."

Ela conta que, além de dirigir, trabalhou muito na elaboração do roteiro do filme, ao lado da amiga escritora Karen Rinaldi, autora do livro (não finalizado) no qual se baseia "Maggie's Plan". Há, assim, traços pessoais de Rebecca na protagonista do longa. Bem como Maggie, a diretora diz ter algo de controladora e tenta, com moderação, organizar a vida de outras pessoas. "Maggie não é completamente o que eu sou, embora eu me dê muito para os personagens. E, definitivamente, tenho uma tendência a controlar e organizar o mundo à minha volta. Tive que aprender que as pessoas têm seus próprios destinos", diz, rindo.

Ela mesma, quando criança, sonhava ser enfermeira ou aeromoça, até perceber que seu talento era mesmo para as artes - caminho quase inevitável para a filha do dramaturgo vencedor do Pulitzer Arthur Miller e da fotógrafa da Magnum Inge Morath. Ainda jovem, Rebecca passou a escrever romances e roteiros e a dirigir longas-metragens - o primeiro deles, "Angela", em 1995. Desde então, seus filmes investigam a figura da mulher, as relações entre elas e seus homens. Com "Maggie's Plan", ela quer explorar o que diz ser um momento diferente e "crucial" para as mulheres.

"O filme fala para muitas jovens mulheres que estão tentando descobrir como viver, mas é também um filme sobre os romances e a graça deles. O que está acontecendo, na verdade, é que os casamentos estão ficando mais e mais significativos, já que não precisamos deles. Então quando nos casamos é realmente porque queremos. É claro que ainda há muitas pessoas que se casam sem pensar, de uma forma mais automática. Mas muitas mulheres estão se olhando agora e questionando para que serve o casamento", diz a diretora, para em seguida completar: "É com essas mulheres que estou falando".

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