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Serafina

Hotéis de luxo em Trancoso têm obras de artesãos locais e praia privativa

Kiko Ferrite/Folhapress
Hotel de luxo em Trancoso, na Bahia, tem aspecto rústico e é decorado com objetos feitos por artesãos locais
Hotel de luxo em Trancoso tem aspecto rústico e é decorado com objetos feitos por artesãos locais
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Na manhã de uma quinta-feira, o holandês Wilbert Das está sentado ao lado do índio pataxó Caio Tapurumã Vieira confeccionando almofadas. Wilbert, 52, trouxe as peças de linho húngaro de um mercado de antiguidades perto de Pádua, na Itália. O artesão Tapurumã, 20, está pintando os panos com as estampas que aprendeu a fazer quando era criança em sua aldeia pataxó.

Esse é só mais um dia na vida de Wilbert, que largou uma carreira de 21 anos como diretor criativo da grife italiana Diesel para criar o Uxua Casa Hotel, em Trancoso, na Bahia. As almofadas farão parte da decoração do hotel, que combina bancos de madeira de puxar arado, luminárias de cipó que imitam ninhos do pássaro guacho e cascas de árvore que fazem as vezes de mesinha de canto.

Quando abriu o Uxua, em 2009, a ideia de Wilbert era fugir do conceito de resorts pasteurizados e criar um hotel de luxo inserido na comunidade.

Aqui, ninguém enfrenta fila do omelete no bufê, nem precisa aguentar o ambiente pseudo-asiático, a música lounge e os móveis europeus de design presentes em nove entre dez hotéis de luxo.

O Uxua (que na língua pataxó significa "maravilha") é formado por 11 casas que foram compradas de moradores do Quadrado de Trancoso, e muitas conservam os nomes dos antigos donos - Zé e Zilda, Eugênia, seu Irênio.

Uma delas é residência artística para fotógrafos e artistas plásticos que desenvolvem projetos no hotel. Outra é a Casa da Árvore, uma palafita com ofurô no quintal. As diárias variam de R$ 1.370 a R$ 4.940.

Tudo no hotel é feito por artesãos locais. As luminárias e cadeiras de piaçava, cipó e dendê são obra de Israel de Jesus Filho, mais conhecido como seu Rael, que se dedica ao ofício há 40 anos. "Aprendi sozinho com a natureza e a precisão. A precisão de ganhar dinheiro para sustentar mulher e 16 filhos", diz Rael, enquanto trabalha em uma luminária na sua oficina-loja, na rua principal de Trancoso. Os preços já estão no padrão do Quadrado - uma luminária grande de piaçava sai por R$ 700.

"Já trabalhei com gente do mundo inteiro, mas os baianos são insuperáveis", diz o dono do hotel.

O "localismo" chique do Uxua conquistou vários jet-setters e o hotel foi cenário do calendário da Pirelli de 2009, clicado por Terry Richardson.

Um dos convertidos é o âncora da CNN Anderson Cooper. Ele se hospedou no Uxua e se encantou por Trancoso. Comprou um terreno no Quadrado e construiu quatro casinhas, com projeto de Das.

UMA CASA POR UM JEGUE

Como dizem por lá, o melhor programa de Trancoso é ficar sentado na frente da casa e ver a vida passar no Quadrado. Ou puxar papo com o vizinho, seu João de Antídio, 92 anos, 6 filhas, 45 netos, 33 bisnetos e 8 tataranetos, todos espalhados por Trancoso. Uma das filhas é a Silvana, que serve uma memorável moqueca de badejo e camarão no restaurante Silvana & Cia. Na época em que seu João largou a roça e se mudou para Trancoso, quase 70 anos atrás, dava para trocar uma casa no quadrado por um jegue, um radinho de pilha ou uns contos de reis, ele conta.

Hoje, uma casa no Quadrado (que, na realidade, é um retângulo) passa fácil do R$ 1 milhão. Lá convivem casinhas de nativos, lojas como a Osklen, a Lenny Niemeyer e a Marcenaria Trancoso, e a imperdível barraquinha de tapioca da Elma.

Atrás da igreja do Quadrado, há um mirante com uma vista linda das praias. São 15 minutos de caminhada do Quadrado até a praia dos Coqueiros.

O clube de praia do Uxua, cujo bar é um velho barco de pesca reformado, não é para os fracos do bolso: na alta temporada, para se acomodar em um dos sofás, requer-se consumação mínima de R$ 1.000 (e no máximo 4 pessoas).

Para aqueles que não querem acordar de madrugada com o galo notívago do vizinho, a pousada Tutabel é outra opção fora do circuito habitual. Inaugurada em janeiro, ocupa o que foi a mansão do publicitário Nizan Guanaes. A praia é "praticamente" privativa - se você não está hospedado na pousada, precisa enfrentar uma caminhada de 3,9km para chegar lá. Mas o que a Tutabel ganha em privacidade, perde em personalidade: os quartos têm decoração anódina. As diárias vão de R$ 1.480 a R$ 2664.

O HAVAÍ É AQUI

Segundo os comerciantes, a crise não afetou muito o movimento porque o câmbio favorável aumentou o fluxo de estrangeiros.

O casal de americanos Campbell Stewart, 38, dermatologista, e Britton Keeshan, 34, cardiologista, trocou uma viagem para o Havaí por uma estada em Trancoso. "Era o mesmo preço e leva o mesmo tempo para chegar, cerca de 12 horas", diz Campbell.

Na baixa temporada, Trancoso é uma tranquilidade. Na alta, uma competição de música alta na praia e no Quadrado. Os comerciantes lutam contra o aumento no número de excursões de ônibus, que classificam de "turismo predatório": banhistas que passam só o dia, trazem marmita e deixam um rastro de lixo.

Outra questão local é a superlotação de casamentos na cidade - só neste ano, serão 150. Ao mesmo tempo em que trazem faturamento providencial na baixa temporada, infernizam os moradores e habitantes do Quadrado.

Em novembro do ano passado, a Sociedade Amigos de Trancoso criou um comitê gestor do Quadrado e aprovou um guia de conduta. Proibiram placas de publicidade, luz branca fria (atrapalha ver o céu estrelado) e som alto só pode ir até 1h. "Nunca encontrei um lugar tão bem preservado como este, com uma energia tão especial", diz Wilbert. "Queremos que continue assim."

Patrícia Campos Mello se hospedou a convite do hotel Uxua.

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