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Serafina

Marajó ganha mais estrutura para viagens, preservando-se selvagem

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A sensação é a de ver um mar sem fim, de tonalidade esverdeada, repleto de ondinhas que seguem o movimento incessante das marés até chegarem à areia branca feito açúcar. Logo, porém, percebemos que não estamos diante do oceano, mas, sim, de um rio.

Um rio que é um dos milhares que correm como artérias no maior arquipélago fluviomarinho da Terra, desenhado por cerca de 2.500 ilhas e ilhotas: o Marajó.

Superior em tamanho à Suíça, o arquipélago ainda é visto como um território exótico, quase inalcançável à maioria dos brasileiros. Não há dúvida: de fato, Marajó é um lugar único, um paraíso turístico sobre o qual se debruçar.

É pela água, partindo do terminal hidroviário de Belém, que se chega lá. A balsa de dois andares parte cedinho, por volta das 6h30, quando o céu paraense começa a receber as primeiras pinceladas do raiar do sol. Três horas depois, ela encosta no porto de Camará.

O arquipélago acolhe 16 municípios. No lado leste, estão Soure e Salvaterra. Separadas pelo rio Paracauari, as duas cidades são as que oferecem melhor infraestrutura para receber forasteiros.

Soure funciona como a porta de entrada mais entreaberta a esse mundo repleto de praias, lagoas, mangues e planícies de inundação, com seus pássaros migratórios de plumagem distinta, em um dos lugares do Brasil onde a natureza se revela mais que majestosa.

Não convém esperar por luxo, mas já há acomodações com ar-condicionado e piscina, conforto impensável tempos atrás, que acolhem hóspedes, em sua maioria estrangeiros. É o caso do Casarão Amazônia, dono dos melhores quartos de Soure. O hotel ocupa um simpático casarão do século 19 que foi totalmente restaurado.

CULINÁRIA PARAENSE

Na cidade, há bons restaurantes de comida típica marajoara. Influenciada pela cultura indígena, com pitadas europeias e africanas, a culinária paraense é considerada das mais genuínas, por contar quase exclusivamente com ingredientes nativos, amazônicos.

Especialidade local, o frito do vaqueiro consiste em cortes de carne de búfalo misturados com farinha. É forte. Outro hit é o filé à marajoara, bife grosso de filé-mignon de búfalo, coberto com queijo de búfala derretido, que lembra bem o tradicional filé à parmigiana, mas com uma presença mais marcante do queijo.

O visitante não pode deixar de experimentar o saborosíssimo caldo de turu. É uma sopa bem temperada, feita com um molusco da mesma família da ostra, que é encontrado dentro de troncos de madeira nos mangues e pode atingir 40 cm. Cai bem na companhia de uma dose de aguardente com jambu, erva poderosa, que leva dormência aos lábios.

"Calma". Esse é o mantra do Marajó, onde não existe pressa. O dia se resume em tomar banho de rio, ligeiramente salgado por causa da intimidade com o Atlântico, visitar fazendas de búfalos, assistir ao vaivém da gente cor de jambo sob a sombra de mangueiras por ruas identificadas por números, como as de Nova York.

Uma das experiências mais marcantes naquele lado do arquipélago dá-se em meio à vida rural, apesar de mato e cidade andarem entrelaçados até mesmo no lado urbano da floresta.

As regiões mais remotas exigem paciência e espírito de aventura.

Há cidades cujo acesso consome quase dois dias de barco, mas tudo é motivo de festa: a embarcação zarpa adornada de redes coloridas, estendidas no convés pelos passageiros.

Chove muito de janeiro a maio, quando boa parte do arquipélago fica alagada.

A ilha acolhe o mais vasto rebanho de búfalos do país, com cerca de 400 mil cabeças. Os animais pastam por fazendas, ruas e até mesmo por praias.

AR, TERRA E ÁGUA

A Fazenda Bom Jesus concilia a criação de búfalos com atividades turísticas, entre as quais a prática de observar pássaros, o "birdwatching".

Ingleses, alemães e franceses se acotovelam atrás do melhor foco ao mirar as cerca de 30 espécies de pássaros que rodeiam as lagoas de água salobra que se enchem no vaivém das marés.

Entre elas, o colhereiro (ave rosa que só aparece em novembro e dezembro), as marrecas e a garça azul, espécie em extinção. Nenhuma delas, porém, se destaca tanto ante as lentes quanto os guarás-vermelhos, aves que sobrevivem em abundância na mais importante floresta tropical do planeta.

No Marajó, é possível assistir à revoada de bandos com cerca de 3.000 aves de plumagem vermelho-escarlate -coloração que se deve à dieta à base de caranguejo. Elas se juntam em defesa da sobrevivência contra predadores, como gambás e carcarás. Mamíferos, como bugios, tamanduás e capivaras, cruzam matos e estradas.

Filha de um dos primeiros criadores de búfalos da ilha, a veterinária Eva Maria Daher Abufaiad, 58, gosta de olhar para o pôr do sol que banha de dourado aquela terra sem fim e engata um discurso que casa bem com o cenário.

Diz ela: "Vivo no meio dos animais tranquilos ou ferozes. Sei que eles podem atacar, mas não tenho medo deles. Vivo no mundo dos homens. Tranquilos ou ferozes. Sei que podem atacar, mas não sei quando". Rápida pausa e ela segue: "Tenho medo é deles".

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