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Serafina

Brasil produz 25% das pedras preciosas usadas por grifes como 'Tiffany & Co.'

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As gemas nacionais, responsáveis por cerca de 25% do mercado mundial de pedras, passam por um processo opaco entre serem lavradas em terras do Norte, Nordeste e Sudeste do país e chegarem às vitrines de joalherias exclusivas das maiores cidades do mundo.

É impossível dizer quanto há de pedras preciosas sob o Brasil, porque apenas uma fina camada de solo foi explorada em mais de 500 anos de extração predatória, atualmente regulada pelo governo federal com leis complexas e, Serafina constatou, com alguns quilates de vista grossa.

Um símbolo desse tesouro escondido fica em Teófilo Otoni, cidade a nove horas de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Com uma das maiores jazidas do globo, leva o apelido de "capital mundial" das pedras preciosas.

O lugar é frequentado por colecionadores, garimpeiros, revendedores e até xeques. Um desses árabes teria comprado um andar inteiro de um hotel na pracinha central para ver primeiro as águas-marinhas, esmeraldas e turmalinas que, quando vendidas no exterior, viram decoração de casas da elite ou matéria prima de lapidadores.

Foram eles e um grupo de australianos em busca de opalas que engrossaram as reservas das pequenas pousadas da cidade nos três dias de agosto passado, quando aconteceu a Feira Internacional de Pedras Preciosas de Teófilo-Otoni. Ao lado de municípios como Tucson (EUA) e Sharjah (Emirados Árabes), a cidade mineira integra a rota dos compradores.

Caixas lotadas de milhões de dólares em pedras se empilham ao lado de marmitas. Nos quiosques de PVC estão os topázios imperiais, só encontradas em Ouro Preto (MG), e esmeraldas –o Brasil é líder mundial na extração delas, ao lado da Colômbia.

As imperiais são especialidades de Roberto Ferreira. Ele negocia as gemas lapidadas com empresas especializadas na venda para joalherias. Na sua lista de clientes há nomes como a Tiffany &Co., Amsterdam Sauer e H.Stern.

Ele explica que o preço da gema varia de acordo com a cor, raridade e limpeza. Um topázio imperial avermelhado exposto em seu estande, de 26 quilates e do tamanho de um dedo médio, era avaliado em quase US$ 9 mil, cerca de R$ 27.000.

"Fecho por trinta e cinco mil reais", disparou Felipe Mendes, 33, prontamente atendido pelo americano que desembolsou um farto chumaço de notas verdes como a pedra que levou.

Mendes compra as gemas diretamente dos mineiros, que contratam garimpeiros para a extração. Sabe, ao sair do país, a pedras são revendidas por pelo menos três vezes o valor da primeira venda. Segundo ele, turmalinas são as mais disputadas. "A piorzinha custa US$ 70 o grama."

Ele guarda no smartphone a foto de uma água-marinha gigante, descoberta por um pai e seus dois filhos, que virou o assunto da feira. "Dizem que tem mais de 120kg." Os vendedores estimam que chegue a valer R$ 30 milhões. A fofoca na cidade é que os donos estão pedindo R$ 80 milhões. O destino da pedra, como boa parte das gemas brasileiras de valores estratosféricos, é incerto.

Todos os anos, a Polícia Federal desarticula quadrilhas de contrabando de gemas. Em 2012, ganhou o mundo a notícia de uma esmeralda do sul da Bahia contrabandeada para os Estados Unidos. Avaliada em mais de R$ 300 milhões, até hoje a gema não foi repatriada.

Estima-se que cerca de 25% da produção mundial de pedras saiam da região, um dos poucos números confiáveis de um negócio que recentemente voltou aos holofotes na Operação Calicute. No ano passado, descobriu-se o esquema de ocultamento de propina articulado pelo ex-governador do Rio, Sergio Cabral, e sua mulher, Adriana Ancelmo, com a compra de peças da grife H.Stern, epítome do luxo da história das pedras brasileiras.

Fundador da marca, o alemão Hans Stern (1922-2007), foi o primeiro joalheiro a levantar a bandeira das pedras do país, cuja pecha de "semipreciosas" foi dada por empresários do hemisfério norte preocupados com as novas concorrentes das safiras e diamantes.

HOMEM MÍSTICO

Longe do espetáculo da nobreza e do glamour das joias acabadas, os garimpeiros resistem como base e ponta do iceberg dessa história. Não tão raro, o quartzo é uma das pouquíssimas pedras que o país consegue aproveitar em larga escala e, por isso, se converteu em sustento de ex-sonhadores, muitos saídos dos contos da extração do ouro em Serra Pelada (PA), nos anos 1980.

O quartzo caiu nas graças do mercado de bijuteria, que atribui à pedra poderes místicos, principalmente, e da indústria de tecnologia, que compra o silício extraído das pedras para fazer de controle remoto a peças de smartphone.

Em Corinto, a 212 km de Belo Horizonte, centenas de garimpeiros sobrevivem da pedra. A Uniquartz, uma cooperativa de ex-garimpeiros que "sofriam na mão de picaretas", segundo seu presidente, Enilson Souza, 46, extrai toneladas de quartzo que, em média, valem R$ 0,10 o quilo. O cristal compõe a renda das famílias que ganham em torno de R$ 2.000 por mês.

"O garimpeiro, antes de tudo, é um sonhador, um homem místico e ingênuo. É o sonho de achar uma pedra que vai mudar a vida para sempre o que move esses homens", diz Robson de Andrade, 72, atual presidente do Sindicato Nacional dos Garimpeiros.

Filho de pai garimpeiro, que teve a sorte de encontrar águas-marinhas cuja venda foi revertida em terrenos, casas e uma vida confortável, Robson tem uma visão clara e rara sobre as gemas.

"Vi muito homem enlouquecer, ficar rico e gastar tudo esperando encontrar mais. As pedras são presentes de Deus, mas também um vício."

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