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Serafina

Véronique Vial fotografa bailarina nua em Paris para seu novo livro

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Este texto foi originalmente publicado na Serafina de setembro de 2009

A fotógrafa Véronique Vial usa Paris como moldura para o passeio de uma bailarina nua em seu novo livro, "Naked Paris", que será lançado em outubro nos EUA e na França

Nova York foi interpretada pelo artista de rua Basquiat e pelo cineasta Woody Allen. Londres de Hitchcock em nada se parece com a do grafiteiro Banksy. O fotógrafo Geraldo de Barros revelou outra São Paulo aos paulistanos, assim como o Rio de Janeiro de Miguel Rio Branco é único e inalcançável em suas imagens. Mas Paris é um caso à parte. A cidade acolheu artistas de todas as estirpes que devolveram a hospitalidade na moeda da mais fina arte. Rodin, Rimbaud, Matisse, Picasso, Duchamp, Henry Miller, Truffaut, Bertolucci, Avedon, Cartier-Bresson... A lista é inesgotável. Difícil imaginar a arte ocidental sem Paris. Difícil imaginar Paris sem arte.

Véronique Vial é uma parisiense atípica. Livre, deixou a França porque gosta de rir. "Ali, nem sempre isso é bem visto", gargalha ao telefone de sua casa, em Los Angeles. Vial tem olhar acurado e estilo próprio, algo difícil quando todos carregam uma câmera no bolso. Seu trabalho na publicidade internacional é sólido, e seus editoriais foram impressos nas mais prestigiadas revistas de moda e comportamento do mundo. No âmbito pessoal, a francesa é um fenômeno: "Paris Naked" (editora Schimer-Mosel) é seu 11º livro. "Em meu trabalho pessoal, uso filme e minha câmera analógica Hassellblad. Nada de digital... Ali sou pura" -de uma pureza impregnada de malícia.

Vial é autora de livros como "Women Before 10 a.m.", no qual artistas de cinema como Angelina Jolie e Sofia Coppola são flagradas antes da hora marcada para a foto de capa. O resultado é simples e surpreendente, como a maioria de suas imagens. Em "An American in Venice", ela acompanha um estrangeiro pelas esquinas líquidas da cidade italiana. "Paris Naked" usa o mesmo conceito: quatro noites seguindo a bailarina e amiga Nathalie Pasqua em 2008.

No início do livro, há a reprodução de uma foto de Brassaï, fotógrafo húngaro que viveu e fez fama na Paris do século 20. Algumas páginas à frente, Vial coloca Nathie na mesma locação, no mesmo ângulo e preto e branco usado pelo colega. Mas a presença feminina muda tudo. "Cresci olhando os livros de Brassaï e adoro o seu trabalho", diz. Notívago assumido, Brassaï certamente apreciaria o trabalho de Vial.

As imagens dela parecem sair de uma película do cinema noir. Poderiam contar sobre uma perseguição. Ou uma fuga. Ou ainda a história de uma separação, de uma desilusão, de uma exibicionista, de um voyeur... Seja qual for o roteiro, o protagonista-mor de Paris é e sempre será o amor, mais precisamente o amor materializado pela mulher. "A mulher francesa é complexa, muitas vezes fria, mas algo dentro dela lhe dá a segurança de que, na arte da sedução, ela é soberana. E isso é um poder enorme!". Talvez a tese explique a razão de Nathie parecer vulgar em uma foto e elegante em outra. Não tem jeito, certas coisas não mudam. Seja no outono ou na primavera, aos 20 ou aos 50, solteiro ou casado, a trabalho ou no ócio, em película ou em pixel... Difícil imaginar a arte sem o amor. Difícil imaginar o amor sem Paris.

ESTÁTUA VIVA

A musa de Véronique Vial é Nathalie Pasqua, uma parisiense que foi bailarina na Ópera de Paris durante 20 anos e, depois, tornou-se artista plástica. Assim como Véronique, Nathie, como é chamada por seus amigos, não quis revelar a idade... Mas não teve problemas em falar de nudez, amor e voyeurismo.

Onde estudou?

Na Escola da Ópera de Paris.

Aceitar um convite para perambular nua pela cidade não é para qualquer um... Por que aceitou?

Véronique tem um jeito especial de te fazer sentir muito livre, e graças a isso você acaba querendo dar tudo a ela... Aceitei o convite porque amo Véronique e a cumplicidade que temos.

Você se sentiu desconfortável em algum momento durante as fotos?

Foi uma mistura de diferentes sensações, pavoroso e excitante ao mesmo tempo...

Teve medo?

Um pouco.

Frio?

Muito.

Já tinha ficado nua em público?

Depende do que chama de "público"...

Como definiria a mulher francesa?

No Brasil, costuma-se dizer que são complicadas... Sou a mulher mais complicada do mundo.

E como definiria a mulher brasileira?

Sexy.

No próximo natal, "Paris Naked" vai ser um dos presentes que você vai dar a amigos e parentes?

Não só no natal...

PARIS EM FOCO

Por EDER CHIODETTO

LUA CRESCENTE

Dona de Um olhar que "desrealiza" o que enxerga e registra. É assim que a fotógrafa Sarah Moon, exposta em Sp em outubro, é conhecida mundo afora
"Desrealizar", verbo inexistente na língua dos outros, foi inventado pelo curador e editor Robert Delpire para ser inserido apropriadamente no léxico de Madame Moon, 68. Nesse dicionário imaginário, o vocábulo poderia ganhar a seguinte definição: (verbo transitivo direto) tornar irreal. Ação que visa a distrair a realidade até que ela revele sua porção onírica e fabular. Ato geralmente praticado por seres lunáticos.

Mais que uma atitude poética diante da vida, abstrair a realidade também foi um recurso vital e necessário quando a origem judaica de Sarah Moon a obrigou a fugir da França durante a ocupação dos nazistas. A Inglaterra e os cursos de desenho foram o seu refúgio.
Antes de a fotografia se tornar sua forma de expressão dominante, essa francesa esbelta, alta e elegante, aprimorou sua capacidade de inventar mundos paralelos à realidade dando largos passos nas passarelas dos desfiles de moda. Diante das câmeras e do público, Moon criou, entre 1960 e 1966, uma gama infinita de personagens para a alegria de estilistas e fotógrafos.

O mítico ano de 1968 a levou a inverter essa posição. A modelo deu lugar à fotógrafa. Por trás da câmera, ela agora sabia extrair de suas modelos a pose ideal para, com apenas uma imagem, criar uma narrativa na qual se mesclavam nostalgia, sensualidade e fantasia.
Inspirada pelos fotógrafos pictorialistas da virada do século 19 para o 20, Madame Moon enveredou nos anos 70 por uma estética particular, na qual uma forte granulação, a sensação de névoa permanente e o uso constante de cores com tonalidades suaves atribuía aos seus editoriais de moda e retratos uma atmosfera original e ficcional com uma forte marca autoral. Essa fase teve seu ápice no calendário da Pirelli, realizado por ela em 1972.

Qual a fórmula para criar imagens que surgem como o fragmento de uma fábula? Onde nasce a história? "No início, eu pensava numa história e a partir dela criava uma situação para fotografar. Não faço mais isso. Agora prefiro estar permanentemente à espera de uma história que ainda não sei qual é. Esse estado de expectativa diante do momento, uma certa vigília distraída, tem uma força que acaba por desencadear a história em si", diz.

Nostálgica e retrô, sua fotografia ganhou destaque e a tornou conhecida por meio de inúmeras publicações nas revistas "Harper's Bazaar", "Vogue" e "Elle". Criou campanhas memoráveis para grifes como Chanel, Comme des Garçons e Cacharel. Apesar de estar bem situada comercialmente, conseguindo impor seu estilo num mercado que tende naturalmente a pasteurizar e podar a criatividade dos fotógrafos, a "mulher-lua" queria mais.

Como para ela uma imagem leva sempre a uma história que deve ser completada pela imaginação, a decorrência natural do seu trabalho foi pensar a fotografia como narrativa. A equação se resolveu: fotografia + narrativa = cinema.

MISTURA FINA

Sua guinada como artista aconteceu ainda nos anos 1970, a partir de uma profícua mescla entre fotografia, cinema e literatura, que resultou em filmes produzidos até os dias de hoje, nos quais os temas mais recorrentes são memória, morte, infância, feminilidade e solidão. Em 1979, recebeu o Leão de Ouro, em Cannes, por seus curtas e, em 1983, o prêmio Clio, em Nova York.

Nos últimos anos, Sarah Moon radicalizou na extrema liberdade com que fotografa, filma e faz referências à literatura. Suas adaptações para os contos infantis do dinamarquês Hans Christian Andersen (1805 - 1875) mesclam imagens fixas com cenas em movimento, o preto e branco granulado que domina sua película, por vezes, é sucedido por cores que pontuam o clima psicológico da narrativa. Uma forma de construção da história que reverbera na produção contemporânea da geração YouTube.

Quatro desses filmes de Moon realizados nos últimos seis anos -"Circuss" (2003), "L'effraie" (2005), "Le Fil Rouge" (2006) e "La Sirene d'Auderville" (2007)- serão exibidos em São Paulo, no Instituto Itaú Cultural, a partir de 14 de outubro, na mostra de fotografia e vídeo "A Invenção de um Mundo", montada com acervo da Maison Européenne de La Photographie. Integrando o evento, sete imagens da artista saem da tela e vão para a parede, mostrando como o trânsito entre cinema e fotografia se tornou, de forma bastante contemporânea, o eixo do trabalho conceitual da artista.

Assim como Miró, que afirmava ser preciso desaprender a desenhar para voltar a ter o vigor e a casualidade que uma criança possui ao fazer desenhos com total liberdade dos sentidos, a estética desenvolvida por Moon também recorre às reminiscências infantis: "Para ser mais criativo é preciso se reaproximar da infância", diz.

Alquimista da imagem, ela segue interferindo em suas obras dando às mesmas um tratamento particular. Imagens degradadas, com manchas, acidentadas ou sem foco representam a passagem da realidade para a fugacidade do imaginário. Lunática nos momentos de criação e extremamente rigorosa e coerente com sua obra, Madame Moon é uma jovem senhora a iluminar novas gerações de artistas visuais.

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