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Antes mal vista, mudança frequente de emprego vira forma de ascensão

Agora, é possível construir uma carreira sem precisar passar parte da vida em uma só empresa. Os novos tempos deixam para trás a recomendação de evitar mudança de emprego, baseada na ideia de que a instabilidade seria negativa para o currículo.

"Até alguns anos atrás, era comum que alguém ficasse 15, 20 anos em uma organização. Hoje, é normal ficar um ano e meio. O mercado está se adaptando", diz Rodrigo Vianna, diretor da Talenses, empresa de recrutamento.

Para Vianna, a credibilidade de um currículo com experiências curtas depende da idade do candidato. "Se você pega alguém mais velho, acharia estranho ver várias experiências breves. Com alguém jovem, isso é comum."

Em um intervalo de menos de dez anos, Rafael Bertani, 30, executivo-chefe da Ronaldo Academy, a academia de futebol do jogador Ronaldo "Fenômeno", estagiou em um escritório de advocacia, foi diretor de operações de uma rede de franquias, atuou em quatro start-ups e foi diretor de operações de uma empresa financeira.

Editoria de Arte/Folhapress
Especial Carreiras - Domingo - 18.jun.2018 - Revolução no mercado de trabalho - trajetória profissional mais dinâmica é saída para trabalhador do futuro

"A variedade permitiu que eu descobrisse minhas forças, fraquezas e paixões. A capacidade de adaptação sob pressão se tornou inerente ao meu jeito de trabalhar."

Para Bertani, manter bom relacionamento com antigos colegas é fundamental para não perder a credibilidade por causa das frequentes mudanças. "O segredo é sempre manter as portas abertas."

A administradora Gabriela Salomão, 33, que dá aulas de desenvolvimento de aplicativos na FIA (Fundação Instituto de Administração) e tem uma empresa de desenvolvimento web, trabalhou como analista administrativa, analista de operações e diretora de distribuidora.

Até mudou de cidade em nome da carreira dinâmica. Segundo Salomão, o sossego do lugar onde morava, Ourinhos (SP), poderia levá-la ao comodismo. "Quando cheguei a São Paulo, pensei: 'Aqui nunca vou me acomodar em um lugar só'."

ROTATIVIDADE

Em 1996, o professor de administração Michael Arthur, da Universidade de Suffolk, em Boston, criou o termo "carreira sem fronteiras" para definir o fim dos tradicionais planos de ascensão.

"Nos últimos 20 anos, as estatísticas de mobilidade nas empresas e instabilidade profissional evidenciaram a relevância do conceito", diz.

Mas, de acordo com a professora Elza Veloso, doutora em administração pela FEA-USP e especialista em gestão de carreira, a alta rotatividade no Brasil pode ser um problema social –mais do que um indício da adoção de carreiras sem fronteira.

"Não sabemos se as pessoas querem ter carreiras mais independentes ou se a instabilidade social cria essa necessidade", diz Veloso.

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