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Saiba como usar fone no escritório barulhento sem se isolar em 'bolha'

Keiny Andrade/Folhapress
A coordenadora de assuntos corporativos Danielle Ogeda na em um espaço de "refúgio" na PepsiCo
A coordenadora de assuntos corporativos Danielle Ogeda na em um espaço de "refúgio" na PepsiCo

A tendência de escritórios sem divisórias ajuda a integrar a equipe, mas cria um efeito colateral: deixa o ambiente mais barulhento.

De acordo com uma pesquisa feita pelo LinkedIn em agosto com 1.030 profissionais, 65% das pessoas afirmam usar fone de ouvido durante o expediente e 19% dizem escutar música para abafar o barulho ao redor.

"Fui obrigada a comprar um fone caro e potente, daqueles que cancelam o ruído externo, para conseguir raciocinar", conta a designer Beatriz (nome fictício), 27.

Há seis meses, desde que passou a trabalhar em uma agência em São Paulo, ela se sente incomodada com os decibéis das conversas de seus colegas de escritório.

"O espaço já é pequeno, e as pessoas gritam para se comunicar com quem está do lado oposto. Falam da vida pessoal, do signo, de muita coisa que ninguém pediu para saber", afirma.

Depois de reclamações, alguns profissionais foram trocados de lugar, mas nada adiantou. "O barulho atrapalha o prazo de entrega de trabalhos e me deixa estressada."

Com excesso de ruído, o cérebro gasta mais energia para se concentrar, diz a neurologista Jerusa Smid, membro da Academia Brasileira de Neurologia.

Em áreas como vendas ou marketing, não há o que fazer: telefonemas e interação entre as pessoas da equipe fazem parte do trabalho. Mas em situações como a vivida por Beatriz o profissional deve manifestar sua insatisfação, sempre com delicadeza.

O primeiro passo é falar com o colega. "É preciso deixar claro que não é pessoal e pedir para encontrarem uma solução juntos", diz Isis Borge, gerente de divisão da consultoria Robert Half.

Se não adiantar, o caminho é procurar o gestor, sem partir para o combate com o colega. Segundo a especialista, o ideal é comunicar o que está acontecendo e propor alternativas, como trocar de lugar ou trabalhar alguns dias em casa. Aí, cabe ao chefe decidir como lidar com o caso.

MÚSICA CERTA
Os fones de ouvido, de fato, podem ser a saída, desde que a pessoa tome cuidados.

"O aparelho pode ser usado no momento que requer maior atenção, mas não o tempo todo, porque aí a pessoa entra numa bolha", diz Gabriel Almeida, gerente da consultoria Talenses.

Antes de colocar os fones, é bom o profissional avisar ao gestor e aos colegas que vai iniciar uma atividade de maior concentração, mas que, se preciso, podem chamá-lo.

A seleção das músicas tem que ser bem pensada, para aumentar a produtividade em vez de atrapalhar, diz a neurocientista Carla Tieppo.

A sequência deve ser sempre a mesma, com músicas conhecidas. Sua duração precisa ser de, no máximo, 50 minutos –é quanto dura o estado de atenção plena.

"O cérebro já antecipa o que vai acontecer e não se distrai com o que está tocando", afirma ela.

Também é preciso ficar atento ao volume, lembra o otorrinolaringologista Paulo Lazarini, professor da Santa Casa. "Se a pessoa está em um ambiente com muito ruído, acaba colocando a música numa intensidade ainda maior e fica predisposto a ter problemas de audição."

De acordo com o médico, o fone do tipo concha, que cobre a orelha, é melhor do que o inserido no canal do ouvido. O volume não deve exceder a metade da barra de som.

Keiny Andrade/Folhapress
A gerente Maria Fernanda Vieira na sala de silêncio da empresa
A gerente Maria Fernanda Vieira na sala de silêncio da empresa

SALA DO SILÊNCIO

Preocupada com o excesso de ruído, a Sprinklr, empresa de monitoramento de redes sociais, criou seis salas com isolamento acústico que podem ser usadas por todos os funcionários. "Passo pelo menos 20% do meu dia em uma delas", afirma Maria Fernanda Vieira, 30, gerente de marketing na companhia.

Lá, ela faz tarefas como revisão de textos, por exemplo. "Sou sensível ao barulho. Não consigo usar o fone. Com esse espaço, é possível manter a interação e sair quando necessário", diz.

A recém-inaugurada sede da PepsiCo conta com áreas de "refúgio", de cabines a espaços com pufes e poltronas espalhados pelos andares.

Danielle Ogeda, coordenadora de assuntos corporativos da empresa, faz uso desses locais quando precisa realizar atividades que exigem mais atenção ou fazer ligações. "Já recebi feedbacks de que falo muito alto, então faço isso para não atrapalhar meus colegas. Isso melhora o clima entre as pessoas, porque evita conflitos ", diz.

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