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Empresas liberam o uso de bermuda para aplacar calor

Um alento para quem sofre com o calor que nem o ar-condicionado aplaca no escritório: empresas têm flexibilizado seu "dress code", permitindo que funcionários trabalhem mais vaporosos, de bermuda ou chinelos.

É o caso da L'Oréal, que liberou as pernas de fora durante o verão em seu escritório no Rio de Janeiro. Segundo Fabio Rosé, diretor de RH da empresa, a iniciativa visa melhorar o bem-estar dos funcionários. "Estando no Rio, é preciso pensar nisso. É muito quente mesmo", diz.

Primeiro, a peça foi liberada às sextas-feiras durante o verão ("foi um sucesso", diz Rosé). Depois, em todas as sextas do ano. E, a partir deste mês, todos os dias do verão. "Tem sido muito bonito de ver, cada vez mais gente tem aderido", afirma.

O conforto não foi o único benefício. Com a roupa liberada, conta Rosé, um funcionário da empresa revelou aos colegas que tem uma perna mecânica. "É uma questão de se sentir valorizado, de poder ser quem se é", diz.

Rafael Roncato/Folhapress
Equipe de Gabriel Ribeiro (de camisa clara, à direita) no Itaú-Unibanco pode usar bermuda
Equipe de Gabriel Ribeiro (de camisa clara, à dir.) no Itaú-Unibanco pode usar bermuda

Em outras empresas, como a Totvs, os homens podem mostrar as pernas não só no verão, por causa do calor, mas no ano todo desde 2013. A mudança foi puxada pelo Google, quando "essa questão da informalidade do setor de tecnologia começou a chamar mais a atenção", diz Rita Pellegrino, diretora de Relações Humanas da Totvs.

"Desde então, no verão, as pessoas vêm trabalhar de bermuda, camiseta. Muitas vezes de chinelo. Cada um vem com seu estilo", diz ela.

Foi uma flexibilização gradual. Quando o analista sênior de planejamento Lorenzo Tognini, 29, entrou na empresa, todos trabalhavam de roupa social. Depois veio o jeans. Um dia, os funcionários pediram para usar a bermuda às sextas-feiras e a empresa resolveu liberar sempre.

"Você fica mais confortável em relação ao calor. Fica à vontade no dia de trabalho, como se estivesse em casa. Ajuda bastante", afirma.

Um pedido dos empregados também motivou a liberação da peça de roupa em algumas áreas do Itaú-Unibanco há cerca de um mês.

"Recentemente, funcionários de uma área nos provocaram. Perguntaram: 'Podemos ir de bermuda?'. A resposta foi: 'Acho que não'. E questionaram: 'Por que não?'", conta o diretor de RH Sergio Fajerman. A empresa repensou, e a peça foi autorizada para algumas equipes, com menos contato com clientes. Agora, diz há pressão para expandir a autorização para outras áreas.

Gabriel Ribeiro, 34, que trabalha na área de tecnologia da empresa como product owner, conta que no primeiro dia as pessoas ficaram com medo de aderir. Então seus colegas combinaram de estrear juntos, para ninguém ser o primeiro. "Agora todo dia alguém vem de bermuda."

No banco, porém, nem tudo é permitido: camisa de futebol e chinelo estão vetados, diferentemente dos escritórios do iFood, empresa de delivery de comida, onde não há restrição alguma. "A gente incentiva as pessoas a estarem confortáveis e a virem trabalhar com o que é melhor para elas", diz Tais Vicente, coordenadora de recrutamento.

Gabriel Quint, 29, gerente de produtos do iFood, trabalhou por quase seis anos numa empresa que exigia camisa, calça social e sapato e diz que poder trabalhar sem terno no verão ajuda na produtividade. "Minha preocupação é o trabalho, não a roupa. Faz toda a diferença, fico mais concentrado no que realmente importa e estou produzindo bem mais."

TENDÊNCIA INFORMAL

Segundo a consultora de moda Gloria Kalil, autora do livro "Chic Profissional", há uma tendência de crescimento na informalidade no mercado de trabalho. "Empresas muito formais estão aderindo ao informalismo bem maior, em todos os níveis", diz.

A tendência inclui até os advogados. Marisa Daumichen, gerente de RH do escritório Demarest, diz que ali a gravata não é mais obrigatória para os homens e que as mulheres não precisam ir de tailleur -conjunto em que o tecido do blazer é o mesmo da calça ou da saia.

Em caso de reunião com clientes, a gravata volta à cena. "Escritórios e advogados, em geral, têm a responsabilidade de transmitir confiança aos clientes. A imagem profissional passa bastante pelo aspecto do dress code", afirma Daumichen.

No verão, o "dress code" é mais flexível e adota-se uma política de "summer casual". "Mulheres podem vir sem blazer, com uma camisa mais fresca. Homens podem vir de calça e camisa, sem necessidade de blazer."

Alberto Rocha/Folhapress
O gerente de produtos Gabriel Quint, 29, no escritório do iFood em São Paulo, onde bermuda e chinelos são autorizados
O gerente de produtos Gabriel Quint, 29, no escritório do iFood em São Paulo, onde bermuda e chinelos são autorizados

PECAR PELO EXCESSO

Para saber o que pode ou não usar no trabalho durante o verão, é preciso observar a cultura da empresa. "Existem três tipos de situação: formalidade, informalidade e mega informalidade. Você imediatamente, ao entrar numa empresa, sabe que tipo é", afirma Gloria Kalil.

Caso os códigos não sejam evidentes, é melhor pecar pelo excesso. "Você deve optar por aquilo que é neutro", diz Cristina Fortes, diretora da consultoria Lee Hecht Harrison. O cuidado vale para homens, no caso de bermudas, e mulheres, para saias ou decotes. "Quanto menos você mostra o corpo, melhor."

Isso não significa que tudo precise ser coberto. Caso perceba que a empresa permite, o funcionário pode expor mais.

"Uma sandália aberta, uma saia um pouco mais curta, sem meia. Você tem que prestar atenção e verificar como se encaixa no ambiente", afirma Caroline Cadorin, diretora da consultoria Hays Experts.

O importante é ter bom senso. "Mesmo para um ambiente informal, em se tratando do local de trabalho, as regras básicas de como se vestir ainda precisam ser levadas em conta e exageros devem ser evitados", diz Cadorin.

Na opinião dela, a adoção de um "dress code" informal não garante que as mulheres se sintam mais seguras sobre a forma como são percebidas. Cadorin diz ser necessário prestar atenção ao comportamento dos colaboradores para garantir que não existam pré-julgamentos e que não sejam criados estereótipos em razão das diferentes formas de se vestir.

É o que acontece no iFood, segundo Tais Vicente. "A gente nunca teve nenhum problema por uma mulher vir com saia ou mostrando um pouco mais o colo", diz. "Se você coloca o respeito na frente, não permite que o assédio aconteça."

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