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Veja palavras e atos que deveriam ser enterrados junto com 2017

O que houve com o clássico e elegante "obrigado"?

Foi atropelado por "gratidão", palavra usada além da conta em 2017 para expressar agradecimento, quase sempre seguida do emoji com as duas mãozinhas juntas.

Chega de "gratidão" em 2018. Não da atitude, claro, da palavra.

A reportagem da Folha ouviu especialistas em ambiente corporativo, comportamento, comunicação e mídias sociais para eleger algumas expressões que poderiam ser sepultadas neste final de ciclo, e também para apontar hábitos e atitudes capazes de ajudar o profissional a se destacar, em vez de ficar amarrado a um vocabulário limitado e lugar-comum.

Exemplo um. Nas ruas e causas, vá lá. Mas "empoderamento", usado no trabalho para quando é preciso delegar autoridade ou tomar decisões, é candidato à aposentadoria.

"Coach", antes empregado só para técnicos esportivos e especialistas em gestão de carreira, virou festa: apropriado ou não, designa várias consultorias, de vida sexual até emagrecimento.

Muitas outras expressões foram vulgarizadas em conversa corporativa e redes sociais e tiveram seus significados desbotados.

Esta pode ser a época para a pessoa avaliar seu discurso e identificar o impacto dele nas relações profissionais.

Será que, além de estar grato e empoderado, alguém aí abusou de clichês como "propósito, "proatividade" e "legado"?

Quem sabe se jogou nos estrangeirismos, enfeitando o perfil do LinkedIn com "networking, em vez dizer que investe em uma boa rede de relacionamentos?

Ou, ainda, vai ver que detonou colegas "novinhos (millennials, nascidos entre 1980 e 1996), tipo "esse moleque não sabe de nada, passa o dia no Facebook"? Com a palavra, os entrevistados.

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Jorge Araujo/Folhapress - Divulgação
SAO PAULO SP Brasil 23 11 2016. Entrevista exclusiva com o jornalista Marcelo Tas. fala sobre seu personagem Ernesto Varela e seu escritorio no jardim Paulistano ESPECIAL DOMINGO ILUTRADA Jorge Araujo Folhapress 703 ORG XMIT: XXWilma Dal Col, diretora da Right Management, empresa do ManpowerGroupFabio Eltz, consultor da Integração Escola de NegóciosProfessora Fátima Motta/ESPM
O apresentador Marcelo Tas, a especialista Wilma Dal Col, o consultor Fábio Eltz e a docente da ESPM Fátima Motta

MARCELO TAS
Apresentador de TV e professor

JÁ CHEGA

Mandar 'SDV' para mendigar fama

"Vejo muito as pessoas mandando um 'SDV', ou 'siga de volta' (usado por usuário de redes sociais que quer trocar seguidores para turbinar a própria popularidade), o que revela a carência enorme das pessoas, refletida nessa mendicância de afetividade.

A proposta é a troca de dados para tentar ficar famosinho, em uma espécie de míni-BBB. Mas é apenas uma visibilidade matemática.

Esse é um efeito colateral da nossa era. Antes as pessoas tinham 15 minutos de fama, agora têm 10 segundos."

Excesso de 'propósito' indica a sua falta

"Propósito é uma palavra muito importante e que não pode faltar na vida das pessoas, mas passou a ser usada indiscriminadamente e perdeu o sentido.

Essas expressões muitas vezes começam nas redes sociais, alguns acham que basta repeti-las para se dar bem e, depois, isso gera uma verdadeira indústria.

O que se tentou vender de livro de autoajuda e de palestra sobre propósito nos últimos anos é impressionante. Essa repetição vira uma espécie de copy-paste."

VAI CHEGAR

Sustentabilidade com s maiúsculo

"Meu sonho é que consigamos montar uma espécie de reserva ecológica de palavras usadas no seu verdadeiro sentido, não como logomarca.

Sustentabilidade é uma delas, no sentido de cuidar para que vivamos em uma sociedade mais sustentável."

WILMA DAL COL
Diretora da Right Management

JÁ CHEGA

Deixar para resolver só depois da crise

"A crise gerou estagnação nas empresas. As pessoas dizem que vão esperar o mau momento do país passar para fazer algo, como se fosse um tipo de muleta para fugir do seu processo de tomada de decisão.

Mas é justamente em um momento desses que as organizações esperam que seus funcionários parem de esperar e tenham algo mais a oferecer.

Esse é um compromisso que podemos assumir com nós mesmos e pela nossa carreira, mais do que com a empresa."

Falar muito mal da geração Y

"É comum ouvir que a geração Y não sabe se comunicar, que depende demais do digital.

Mas será que não está na hora de aprendermos a nos comunicar da maneira como esse grupo se comunica?

É uma oportunidade muito boa para aprender com eles e deixá-los também aprender com os mais velhos, de outras gerações."

VAI CHEGAR

Transformação posta em prática

"O profissional deve chamar para si a responsabilidade no trabalho, parar de esperar que ofereçam as condições para ele.

Vale aproveitar a oportunidade para colocar outra palavra em prática: transformação.

E abandonar a atitude de animosidade com relação aos millennials."

FÁBIO ELTZ
Consultor da Integração Escola de Negócios

JÁ CHEGA

Caprichar no jargão do povo 'antenado'

"Muita gente usa um vocabulário exagerado para se mostrar 'antenado' ou causar a impressão que tem mais erudição do que tem de fato.

Mas isso é uma bobagem, porque acaba passando a impressão de algo falso, e até pode tirar a atenção do interlocutor do que está sendo falado.

É algo que realmente incomoda.

Por que dizer 'network' se você pode dizer 'trabalhar em rede'? Seja simples, básico, objetivo. Pense como a mensagem pode ser muito mais legal."

Pessoa 'proativa' já não 'agrega valor'

"Muitos saem dizendo por aí que são proativos, que querem agregar valor e que têm brilho nos olhos.

Mas não fazem a menor ideia do que isso significa e que essas são expressões que não precisam ser ditas, porque simplesmente se tornaram clichês."

VAI CHEGAR

Discurso refinado é discurso natural

"Seja verdadeiro. Os consultores de carreiras sabem muito bem quando uma pessoa está falando a verdade em uma entrevista ou relatando algo fantasioso no LinkedIn.

Não queira parecer que está no topo da moda ao dizer o que todo mundo diz.

Deixe de lado expressões como 'performar', 'quebrar paradigma', meritocracia.

Ao mesmo tempo, procure o refinamento nas palavras sem parecer artificial. Não exagere se não for natural."

FÁTIMA MOTTA
Professora da ESPM e sócia da FM

JÁ CHEGA

Querer não basta para 'empoderar'

"Empoderamento se tornou uma das palavras mais usadas do ano de 2017.

Sim, é importante, já que precisamos reconhecer a nossa força e o resultado do que podemos construir.

Mas isso não se faz custe o que custar. Cada um precisa entender a sua força e o seu poder e, então, fazer a diferença para a humanidade.

Não adianta repetir a todo momento 'empoderado' e não fazer ideia da razão daquele poder reivindicado."

Todo mundo quer deixar 'um legado'

"É incrível que as pessoas pensem em 'deixar o seu legado', em como fazer a diferença.

Mas não adianta busca isso a qualquer preço sem antes entender quais são as suas forças e os desafios a serem superados."

VAI CHEGAR

Trabalhe conectado com você e os outros

"É preciso trabalhar com leveza e investir continuamente no autoconhecimento para melhorar o processo das escolhas.

Tente entender que sua carreira terá de se adaptar às necessidades em vários momentos, e isso não deve ser fonte de angústia.

Mais importante que ter dinheiro e sucesso é seguir no caminho do desenvolvimento humano, da busca de propósitos dignos.

Olhe para o outro, busque oportunidades de trabalhar de forma interativa, com conexão com os outros.

Tomar decisões vazias, desconectadas do que realmente nos faz feliz, é muito frustrante."

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