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Ideia de felicidade construída é controversa, diz sociólogo

Empresas que dão muita importância às emoções dos funcionários podem acabar avaliando mal o nível de satisfação de cada um no ambiente de trabalho.

A opinião é do sociólogo britânico William Davies, professor da Universidade de Londres e autor de "The Happiness Industry" ("A Indústria da Felicidade"), sem tradução para o português.

Segundo Davies, antes de criar métodos que forcem o indivíduo a estar sempre alegre, falta considerar motivações do funcionário e fatores como problemas pessoais.

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Folha - Quando as empresas passam a correlacionar alegria e maior produtividade?

William Davies - Os gestores começaram a pedir uma atitude mais positiva da equipe há cerca de 30 ou 40 anos, mas a noção de que a felicidade pode ser mensurada é recente. Cresce com o uso da psicologia positiva, que encoraja o indivíduo a ser responsável pela sua alegria. As empresas se preocupam não só por causa da produtividade, mas porque profissionais capacitados vão embora quando se sentem infelizes, ainda mais se o trabalho envolve criatividade.

Essas estratégias para promover satisfação funcionam?

Isso não é algo que se resolve apenas com um programa psicológico dentro da empresa. Há um problema em criar apenas uma forma de manipular a pessoa para ser mais produtiva. Muitas empresas oferecem todo um aparato de diversão, e o lado ruim disso é que o funcionário não tem razões para se desligar do trabalho. Antes, você trabalhava oito horas e ia ser feliz em outro lugar. É mais saudável separar um pouco as coisas.

Mudar a postura e ter atitude positiva ajuda o profissional?

Boa parte do estresse que vivemos no trabalho tem a ver com razões externas, mais do que com posturas que podemos mudar. É preciso ver o quanto as circunstâncias pesam, e perceber que a felicidade não é algo que pode ser alcançado de forma solitária.

Então não é possível se forçar a ser "feliz" no escritório?

A ideia de que a felicidade é algo que pode ser arquitetado é bastante controversa. A economia da felicidade e a ciência do bem-estar são valiosas, mas vemos que há questões circunstanciais que deixam as pessoas infelizes dentro da empresa, como a insegurança financeira.

Como o profissional deve encarar a busca da "felicidade" no ambiente de trabalho?

Ser feliz inclui uma dose de problemas. Isso fica muito evidente em processos criativos, que nos dão uma sensação de propósito, mas podem causar dor durante o processo. O filósofo Aristóteles via duas ideias de felicidade: hedonia, que tem a ver com o prazer momentâneo, e eudaimonia, relacionada a uma vida de propósito, significado e virtude. E esse conceito mais amplo de eudaimonia não pode ser medido monitorando apenas os sentimentos.

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RAIO-X

Livro "The Happiness Industry", de William Davies

Idade
41

Carreira
Professor da Universidade de Londres, cursou ciências sociais e políticas na Universidade de Cambridge e fez doutorado em sociologia na Universidade de Londres

Obra
"The Happiness Industry" ("A Indústria da Felicidade"), sem edição em português

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