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Descubra se você tem a síndrome do impostor

Insegurança em relação às próprias capacidades, medo de se candidatar a promoções, sensação de que suas conquistas são fruto de sorte, certeza de que você é uma fraude. Os sintomas são familiares? Junte-se ao clube da síndrome do impostor.

Apesar do nome popular, não se trata de síndrome, pois a sensação de ser um impostor no trabalho não é reconhecida como doença. Mais preciso, então, é o termo "fenômeno do impostor", cunhado pelas psicólogas americanas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes em 1978.

Chamar essa sensação de síndrome, aliás, é colocar a culpa no indivíduo quando trata-se de sentimento generalizado, causado pelo mundo do trabalho, afirma Maria da Conceição Uvaldo, coordenadora do serviço de orientação profissional da USP.

Adriano Vizoni/Folhapress
Cynthia Zanoni, criadora do projeto WoMakers Code, em escritório na zona sul de SP 
Cynthia Zanoni, criadora do projeto WoMakers Code, em escritório na zona sul de SP 

Esta época é marcada por cobranças de resultados, o que o doutor em psicologia social e do trabalho Wilner Riascos chama de culto da performance: "Estamos permanentemente sentindo a necessidade de estarmos no topo, de sermos admirados", diz.

Num mercado com pouca mobilidade é difícil não se comparar ao sucesso alheio. Para quem se sente impostor, essa comparação é central.

As mudanças tecnológicas contribuem para a insegurança. "Você tem a impressão de que está desatualizado. Tudo é imediato", diz Uvaldo. "Isso não é uma síndrome: 99% das pessoas têm essa sensação."

Quando começou a ser estudado, o fenômeno era relacionado a mulheres. Pesquisas atuais mostram que homens também apresentam o comportamento. A posição da mulher no mercado, porém, pode intensificar o sentimento.

"A gente ganha menos e tem que provar mais o quanto sabe. Se você é sempre questionada, essa sensação pode aparecer mais forte", diz Uvaldo.

A desenvolvedora Caroline Soares diz que ser mulher na área de tecnologia —uma minoria— pesa. "Existe a obrigação de se provar tecnicamente toda hora, isso atrapalha. Acontece de eu perder oportunidades por não me achar boa o suficiente", diz.

Nessa área, síndrome do impostor é assunto recorrente, diz Cynthia Zanoni, criadora do projeto WoMakers Code, que promove oficinas e debates relacionados a tecnologia. "Elas acreditam que é preciso saber muito desde o início para conseguir espaço."

Ela mesma quase não concorreu a uma bolsa na faculdade. Na época, achava que os outros candidatos estudariam em escolas melhores e que não tinha o conhecimento necessário, apesar de acumular experiência na área.

Foi uma professora que lhe disse que ela era capaz e que aquela hesitação tinha nome: síndrome do impostor (e, sim, ela conseguiu a bolsa).

Não ver as possibilidades que se apresentam é uma das principais consequências do fenômeno, de acordo com Marcia Vazquez, gestora do capital humano da Thomas Case. Como você não se acha bom, a tendência é desistir.

Karime Xavier/Folhapress
A desenvolvedora Caroline Soares num café na região central de São Paulo
A desenvolvedora Caroline Soares num café na região central de São Paulo

A americana Valerie Young, autora do livro "The Secret Thoughts of Successful Women" ("Os Pensamentos Secretos de Mulheres Bem-Sucedidas"), lista outras consequências para a carreira.

O profissional tenta não se destacar (para não ser descoberto como fraude), trabalha demais para compensar o que vê como incompetência ou procrastina, pois enquanto não entregar nada não poderá ser julgado.

Os efeitos não ficam restritos à carreira. "Se a pessoa não reconhecer que suas convicções estão erradas, quanto mais demanda tiver, mais ansiosa ficará", diz a psicóloga e coach da SBCoaching Renata Arrepia. Problemas físicos, como dor de cabeça e mal-estar, também podem aparecer.

Como uma gripe, diz Wilner Riascos, se for leve, a síndrome do impostor pode ser tratada sem ajuda médica.

Uma recomendação é conversar com amigos sobre a carreira, para perceber que os outros também têm inseguranças. Outra é sair das redes sociais, onde todos parecem bem-sucedidos.

É o que faz Caroline Soares. "Na internet tudo parece maravilhoso, melhor que a realidade", diz. "Se percebo que estou me cobrando demais, penso: se fosse um amigo meu, iria cobrar da mesma forma?"

Já Cynthia Zanoni acalma momentos de dúvida ensinando mulheres a programar em oficinas, o que a ajuda a ver que tem conhecimento para passar adiante.

Mais experiência, porém, não resolve o problema. Às vezes, o sucesso intensifica os sentimentos de impostor, porque a pessoa acha que está enganando mais gente, segundo Valerie Young.

Em casos mais sérios, é bom procurar terapia. "Um psicólogo que trabalhe com orientação de carreira e ajude a trabalhar as questões que levaram à construção desse autoconceito", aconselha Riascos.

*

Teste o quão farsante você acha que é

Para cada pergunta, circule o número que indica o quão verdadeira a afirmação é para você. É melhor marcar a primeira resposta que vem à sua mente em vez de refletir muito sobre cada uma delas

1. Eu fui bem em um teste ou tarefa embora estivesse com medo de que não teria um bom desempenho antes de iniciar
1 (nada verdadeiro)
2 (raramente)
3 (às vezes)
4 (com frequência) 5 (muito verdadeiro)

2. Faço parecer que sou mais competente do que realmente sou
1 (nada verdadeiro)
2 (raramente)
3 (às vezes)
4 (com frequência) 5 (muito verdadeiro)

3. Eu evito avaliações, se possível, e tenho pavor de que os outros me avaliem
1 (nada verdadeiro)
2 (raramente)
3 (às vezes)
4 (com frequência) 5 (muito verdadeiro)

4. Quando as pessoas me elogiam por algo que realizei, eu tenho medo de não corresponder às suas expectativas no futuro
1 (nada verdadeiro)
2 (raramente)
3 (às vezes)
4 (com frequência) 5 (muito verdadeiro)

5. Eu às vezes acho que cheguei à minha posição atual ou consegui o sucesso que tenho porque estava no lugar certo na hora certa ou porque conhecia as pessoas certas
1 (nada verdadeiro)
2 (raramente)
3 (às vezes)
4 (com frequência)
5 (muito verdadeiro)

6. Eu tenho medo de que pessoas que são importantes para mim descubram que não sou tão capaz quanto elas acham
1 (nada verdadeiro)
2 (raramente)
3 (às vezes)
4 (com frequência)
5 (muito verdadeiro)

Resultados
Quem marcar 40% dos pontos possíveis (12, na amostra) tem poucas características de impostor.
De 41 a 60% (13 a 18) tem características moderadas
Entre 61 e 80% (de 19 a 24) tem sentimentos frequentes
Quem fizer mais de 80 (acima de 24)tem experiências intensas de impostor

O teste completo da psicóloga Pauline Rose Clance tem 20 perguntas e pode ser feito em seu site, paulineroseclance.com. O resultado do teste não é um diagnóstico.

Retirado do livro "The Impostor Phenomenon: When Success Makes You Feel Like a Fake" (Pauline Rose Clance, ed. Bantam Books, 1985), o teste não pode ser reproduzido sem autorização da autora.

*

Sete atitudes que atrapalham a carreira

-Não reconhecer suas conquistas
-Falar muito sobre seus resultados para encontrar senso de merecimento
-Ter um altíssimo nível de comparação e sensação de inferioridade
-Focar sempre no que te falta, e não no que você tem
-Não construir relacionamentos fortes e bajular as pessoas por medo de descobrirem suas falhas e imperfeições
-Precisar excessivamente de controle e sensação de impotência quando ele falta
-Cobrar sempre a perfeição em suas tarefas

Fontes: Fernanda Chaud e Renata Arrepia, master coaches da SBCoaching

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