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Consumidor mantém miniluxos mesmo com orçamento apertado

Karime Xavier/Folhapress
Ana Beatriz Himelgryn, 40, em sua casa, na zona sul de SP

O brasileiro passou a comprar menos e melhor depois da crise econômica. Saíram de cena as aquisições por impulso e o apego a marcas e ganharam espaço as promoções e a economia em produtos básicos para garantir alguns pequenos luxos.

A lógica é simples: se não dá para comprar um sapato, um sofá ou sair para jantar, investe-se em um batom, uma almofada ou uma garrafa de vinho para beber em casa.

Entre as pequenas regalias das quais o consumidor não abre mão estão produtos para o cabelo, cervejas artesanais, café gourmet e chocolates premium, segundo levantamento feito pela consultoria McKinsey neste ano.
A organizadora de eventos Ana Beatriz Himelgryn, 40, diminuiu gastos, mas dá um jeito de encaixar no orçamento seu creme favorito para o rosto, mais caro.

"É uma forma de me presentear de vez em quando, porque aprendemos a fazer gastos mais inteligentes quando tivemos uma redução na renda familiar", diz.

No passado, a preocupação era a de realizar sonhos de consumo, mesmo que custassem caro, diz o pesquisador Eduardo Laurenciano, do Instituto Data Popular.

"Muita gente exagerou e se endividou para consumir. A tendência de contenção continua mesmo com a recuperação, porque houve um aprendizado do consumidor", afirma Fabio Mariano, professor da ESPM.

Agora que a bonança acabou, o cliente também ficou mais esperto, segundo Henrique Diaz, diretor de planejamento da consultoria de tendências Box 1824. "As marcas terão que se virar para fidelizar o consumidor nesse novo cenário. Se os produtos e serviços não trouxerem um diferencial, o cliente só levará em conta o preço."

A pesquisa de ofertas é valiosa para o consumidor, porque ele se sente fazendo um bom negócio, diz Mariano.

Segurar o preço foi a saída para a cervejaria paranaense Way Beer, que teve crescimento de 20% em 2016. "Vemos que as pessoas continuam comprando, ainda que seja para gastar menos", diz o sócio Alejandro Winocur, 34.

Já a marca de cosméticos Body Shop vai quase dobrar a linha de produtos menores, como cremes para mãos e sabonetes, para o Natal. "As miniaturas também estão vendendo muito bem", diz a diretora de marketing da marca, Karina Meyer.

Alinhada à crise, há uma tendência global de consumo consciente, mais austero, segundo o especialista em marketing Gabriel Rossi.

Foi com esse intuito que a advogada Eduarda Ribeiro, 26, derrubou seu orçamento mensal para roupas novas de R$ 400 para R$ 50. "Claro que a crise pesou nessa decisão. Mas vi que acumulava muita coisa, gastava demais no cartão de crédito e não precisava de tudo aquilo", conta.

Para Rossi, a demanda é menos por ostentação e mais por soluções e mais baratas. "É a era da experiência no consumo, não da posse."

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NOVOS PADRÕES

Brasileiros reajustaram o orçamento em 2016

74%
mudaram seus padrões de compra no último ano, o maior índice entre os países latino-americanos

33%
dos brasileiros passaram a comprar em lojas e mercados mais baratos para garimpar suas marcas preferidas por menos

62%
passaram a prestar mais atenção nos preços para não gastar demais

23%
agora compram de marcas mais baratas

54%
buscam promoções e liquidações para fazer as compras

44%
dos consumidores de classe alta dizem que preferem marcas mais caras, mas muitas não valem o preço que cobram

20%
não abrem mão das marcas que gostam, mas compram em menor quantidade

14%
dos consumidores esperam as liquidações de suas etiquetas favoritas ou usam cupons de desconto

Fonte: Pesquisa "Saving, scrimping and... splurging", da McKinsey, que consultou por questionário mil pessoas em todo o Brasil no final de 2016

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