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Imóveis com adaptações para deficientes são raros no mercado

Adaptar um apartamento já construído para pessoas com deficiência custa caro. De acordo com Robson Gonzales, arquiteto especialista em acessibilidade, as obras podem custar mais de 20% do valor do imóvel.

Por outro lado, se a unidade for construída com as adequações desde o início, o custo extra será bem menor: cerca de 4% do total, segundo o arquiteto. "Nesse caso, o que encarece são itens como barras de apoio. Já para adaptar um imóvel pronto é preciso quebrar e fazer tudo de novo."

A funcionária pública Selma Rodeguero, 42, que ficou paraplégica aos 16 anos após sofrer um acidente de carro, passou por isso. Em 2011, casou-se e trocou a casa da mãe, onde sempre viveu, por um apartamento em Moema (zona sul da capital paulista).

O imóvel de 70 m², contudo, não atendia às suas necessidades. Para torná-lo acessível, ela teve que fazer uma reforma geral no lugar, que incluiu reformular a cozinha e quebrar uma parede para ampliar o banheiro. A obra durou três meses e custou cerca de R$ 30 mil.

"O cadeirante nunca encontra um lugar perfeito para morar. Sempre é preciso mexer em alguma coisa", diz. "Agora, me sinto totalmente independente."

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Ainda são poucos os empreendimentos que oferecem unidades adaptadas na planta. De 13 construtoras consultadas pela Folha, 12 não têm esse tipo de apartamento.

A MRV disse que conta com essas unidades, mas apenas em empreendimentos de habitação social, como alguns subsidiados pelo programa Minha casa, Minha vida.

Por lei, esses empreendimentos devem ter apartamentos acessíveis no térreo e adaptáveis em outros pisos. Fora essa norma, não há nenhuma outra que obrigue construtoras a entregar imóveis preparados para pessoas com deficiência. Por outro lado, as áreas comuns dos condomínios precisam ser acessíveis a todos.

Gonzales acredita que um dos motivos para o desinteresse do mercado é a falta de demanda.

Para Edison Passafaro, consultor em mobilidade urbana, a raiz do problema está na formação de arquitetos e engenheiros. "As escolas formam profissionais com base no modelo de homem padrão, com funções físicas e cognitivas preservadas. A diversidade deveria servir de referência."

O presidente do conselho consultivo do Secovi-SP (sindicato do setor), Claudio Bernardes, acha que estabelecer uma cota de unidades acessíveis nos empreendimentos não é a melhor opção. "O custo das adaptações é alto e a demanda é incerta", diz.

Para ele, o ideal é projetar o espaço de forma que possa ser adaptado no futuro a um custo baixo –com portas de entrada mais largas e banheiros maiores, por exemplo.

A Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) afirmou, por meio de nota, que defende a construção de unidades para pessoas com deficiência, mas acha que a oferta deve ser compatível com a demanda.

Para Silvana Cambiaghi, do conselho de arquitetos de São Paulo, a maior conscientização da sociedade sobre o tema e a redução no preço dos equipamentos estimulou projetos de acessibilidade.

Segundo ela, ainda falta planejamento por parte das famílias. "É preciso fazer uma arquitetura preventiva, pensando que homem vai mudar e envelhecer. Os projetos deveriam ser para a vida toda."

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