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Móveis para deficientes precisam ser garimpados ou feitos sob medida

Encontrar móveis e itens domésticos adaptados para pessoas com deficiência não é uma tarefa fácil. "As empresas fazem as mesmas coisas há décadas. Não pensam em inovar", afirma o arquiteto Robson Gonzales, especialista em arquitetura acessível.

Há dois anos, a médica e pesquisadora da Unicamp Ana Maria Sperandio, 54, enfrentou o problema. Portadora de focomelia, doença que causa má-formação de braços e pernas, ela queria adaptar seu apartamento, em Campinas (a 93 quilômetros de São Paulo), para ter qualidade de vida e segurança.

Como não encontrou nas lojas os produtos que procurava, teve que encomendar peças sob medida. A mesa de jantar, por exemplo, tem um desnível de três centímetros para ser usada ao mesmo tempo por ela, que precisa de um apoio alto, e pelo marido.

As torneiras da pia e do bidê ganharam alavancas para facilitar o acionamento. Já as portas e gavetas do armário podem ser abertas e fechadas com apenas um toque. Na cozinha, o fogão e o filtro ficam na beira da bancada.

Jorge Araujo/Folhapress
A médica Ana Maria Sperandio, 54, na sua casa em Campinas
A médica Ana Maria Sperandio, 54, na sua casa em Campinas

Sperandio também investiu na automação de janelas, ar-condicionado e varal. Na porta de entrada, instalou um sistema de biometria para facilitar o acesso ao imóvel.

A reforma do apartamento de 160 m², que durou nove meses, teve um custo alto: cerca de R$ 200 mil. Para ela, deveriam existir incentivos para pessoas com deficiência adquirirem esses itens. "Não são coisas supérfluas, mas necessidades básicas", afirma. "A melhor coisa do mundo é ter autonomia."

Além de encontrar produtos adaptados para os clientes, os arquitetos enfrentam outro desafio na hora de reformar uma casa: tirar o "ar hospitalar" do espaço, aponta Robson Gonzales. "Às vezes, tem barra em todos os lugares e paredes brancas. Mas é totalmente possível fazer um projeto bonito", diz.

Sperandio contou com a ajuda de uma amiga para decorar o imóvel. "A beleza depende da criatividade, e acho que as pessoas com deficiência são criativas por causa das dificuldades que enfrentam todos os dias. Se não forem, não saem do lugar."

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