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Quem vive perto do Minhocão lida com o barulho de carros e pedestres

Viver em frente ao Minhocão não é um detalhe. Desde antes de sua inauguração, em 1971, o viaduto na região central já gerava polêmica, sobretudo em razão do impacto que teria na qualidade de vida de moradores da região.

Com 3,4 km de extensão, o o elevado Presidente João Goulart -até julho de 2016 se chamava Costa e Silva, em homenagem ao segundo presidente da ditadura militar- corta quatro bairros: Consolação, Santa Cecília, República e Barra Funda.

No seu entorno, vivem cerca de 232 mil pessoas, segundo dados do IBGE. Boa parte delas em apartamentos voltados para a via, por onde circulam 70 mil veículos por dia.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Graziele Shimizu, na sacada de seu apartamento, que fica em frente ao Minhocão, em São Paulo
Graziele Shimizu, na sacada de seu apartamento, que fica em frente ao Minhocão, em São Paulo

"É preciso ter paciência. O Minhocão passa bem na minha cabeça", diz a aposentada Marta Fonseca, 58, moradora do primeiro andar de um prédio da região.

Para ela, o maior problema de viver ali é o barulho dos automóveis, que vem, ao mesmo tempo, de cima e de baixo do viaduto. No fim de 2016, ela instalou janelas antirruído, as quais sempre deixa fechadas, também em razão da poluição.

"A sensação é a de comer fumaça de colher", afirma. "O pó é preto, tenho que limpar a casa o tempo todo."

À noite e aos fins de semana, quando o elevado fecha para os carros e abre para os pedestres, Fonseca afirma sentir um conforto maior. "As pessoas só são curiosas demais, ficam olhando aqui para dentro. Como gosto de gente, isso não me incomoda."

Mas incomoda e muito a empresária Irene Oliveira, 55, que mora no terceiro andar de um edifício há poucos metros dali. "Me sinto um animal em um zoológico. As pessoas não só nos observam como fotografam. É uma invasão de privacidade", diz.

Ela reclama ainda do barulho dos pedestres, que acredita, muitas vezes, ser pior do que o dos carros. "Não quero que os veículos voltem a circular à noite, mas pelo menos eles só passam, não gritam ou ficam com caixinha de som na minha janela."

Por causa de queixas como esta, a Prefeitura Regional da Sé estuda restringir o período de acesso de pedestres à via. Hoje, o Minhocão fecha para os automóveis às 15h no sábado e só reabre às 6h30 na segunda-feira.

De acordo com a proposta, o elevado seria aberto para pedestres aos sábados das 15h30 às 19h e aos domingos das 10h às 16h. Além disso, a circulação ficaria limitada a um trecho de 1,5 km.

"Por ser um espaço de utilização pública, precisa ter regras, mas os horários propostos são muito restritos", opina a empresária, Graziele Shimizu, 29, que há quatro ano vive no entorno do Minhocão, em um apartamento no sétimo andar.

"Entendo que pode ser um incômodo para quem mora mais embaixo. É preciso chegar a um meio termo", afirma. Um dos motivos que a levaram à região foi justamente a ocupação de pedestres no elevado. "Acho bem legal olhar aqui de cima e ver a galera aproveitando", diz.

"Em cima do Minhocão, todo mundo quer estar, mas e embaixo?", pergunta Roberto Laranjeira, 55, dono de uma loja de antiguidades que fica sob o Minhocão, na avenida São João.

Favorável à demolição do elevado, ele se opõe à circulação de pedestres ali em cima. "O Minhocão é uma tampa de poluição e ruído. O parque deveria ser aqui embaixo, com árvores de verdade."

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