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alphaville/tamboré

Condomínios fechados resgatam sensação de boa vizinhança

Antes de deixar a zona sul de São Paulo, Paula Cardoso, 41, alugou por um ano uma casa em um condomínio de Alphaville, como teste. Ela decidiu morar no bairro há 13 anos, para ter mais segurança com fácil acesso à capital. "Até visitei a Granja Vianna e Aldeia da Serra, mas achei a rodovia Castelo Branco mais segura para meu marido, que ainda trabalha em São Paulo", conta.

A especialista em mídias sociais aprovou a experiência e comprou um imóvel no bairro logo depois. Desde então, passou a trabalhar em casa e concentra todas as atividades dos filhos de 13 e 14 anos na região.

"Eles vão para as aulas de tênis e de futebol de bicicleta, dentro do condomínio", afirma Cardoso.

Os esportes também estão na rua. "A vida social por aqui é bem bacana: todas as sextas-feiras os amigos vêm para cá e jogam bola, andam de skate em frente de casa. Não seria assim num edifício", explica.

Alberto Rocha/Folhapress
Paula Cardoso e os dois filhos, Lucas (esq.) e Pedro, na casa em que vivem, em Alphaville
Paula Cardoso e os dois filhos, Lucas (esq.) e Pedro, na casa em que vivem, em Alphaville

Para a psicóloga Lídia Weber, viver nesses espaços possibilita a sensação antiga de vizinhança, em que as famílias se conhecem e compartilham os espaços públicos. "Pode ocorrer também em prédios com boas áreas comuns, mas é mais fácil a criança deixar o videogame e sair para a rua nos condomínios", afirma Weber, professora do mestrado e do doutorado em educação da Universidade Federal do Paraná.

"O convívio frequente com outras crianças ajuda no desenvolvimento de habilidades sociais e a lidar com emoções", acrescenta.

Essa é também a visão de Dora Haratz, terapeuta familiar que estudou recentemente a rotina de quem vive em condomínios fechados. "Esse espaço recupera o que a sociedade perdeu ao longo do tempo, como a sensação de pertencimento a uma comunidade, de ter os amigos do bairro", afirma.

Mas os benefícios de viver em condomínio dependem muito da estrutura do local. Quando há boas áreas de convivência, é mais fácil a socialização, avalia Rosa Macedo, professora de psicologia clínica da PUC-SP e terapeuta familiar. "A verdade é que em prédios ou condomínios, as crianças passam hoje mais tempo em jogos eletrônicos do que em atividades sociais", pondera.

Nesse contexto, o tamanho da construção também conta a favor das atividades externas -imóveis de condomínio tendem a ser mais amplos do que apartamentos.

"Acho que casa permite brincadeiras mais livres no quintal, com tinta, areia, horta, pomar. Em prédio não costuma dar certo", analisa a professora Adriana Ximenez, 43, que mora em um condomínio de casas em Cotia.
Quando decidiram ter filhos, Ximenez e o marido deixaram o apartamento na zona oeste de São Paulo em busca de mais área verde.

"Muitos me perguntam por que as minhas crianças são tranquilas e felizes. Eu digo que dou espaço, tempo e natureza para elas", afirma Ximenez, que tem três filhos, de 7, 8 e 11 anos.

BOLHA

Se por um lado as famílias têm qualidade de vida em um condomínio, por outro os filhos podem crescer em uma rotina que não condiz com a realidade.

"Tenho consciência de que criamos nossos filhos em uma redoma -falamos ao celular na rua sem medo, damos carona para vizinhos. É um privilégio estar aqui, porque a vida real não é assim", diz Cardoso.

Para diminuir essa desvantagem, os pais devem ensinar as crianças a ter limites e autonomia. "No meu condomínio, tem criança que anda de patinete no meio da rua. Não dá, os pais precisam ensinar o que é correto, que sempre há regras", explica Weber.

É também ruim para o desenvolvimento infantil acreditar que o mundo é feito apenas de pessoas de poder aquisitivo e hábitos semelhantes.

"Frequentar lugares fora dos destinos rotineiros, como praças e parques públicos, mostra às crianças que há pessoas diferentes das que encontra na sua rua, no clube, na escola", diz Weber.

Estabelecer uma vida social fora de casa também é importante. "Ao ir para o shopping, casa de parentes ou igreja, as crianças percebem que a vida não é uma bolha, que existem diferenças e perigos no mundo real", afirma Dora Haratz.

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