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interior/litoral

São Vicente é pioneira em muita coisa, até em ressaca

Nos primeiros dias de 2005, a internet brasileira se agitava. Enquanto o mundo acompanhava os dias seguintes ao tsunami que matou mais de 230 mil pessoas na Ásia, por aqui apóstolos do apocalipse e teóricos da conspiração apareciam.

"O dia que um tsunami atingiu o Brasil" e "Tsunami destrói a primeira vila" eram alguns dos títulos de blogs que recordavam o "maremoto de 1541" –fenômeno que teria destruído São Vicente, no litoral paulista.

O geólogo e professor aposentado da Universidade de Brasília, José Alberto Vivas Veloso, descreve o ocorrido em um de seus livros e aponta para a relevância histórica do fato. "Pela data, é o primeiro relato de um desastre natural no Brasil", afirma.

"Na época, a vila era um amontoado de cabanas. A onda levou boa parte dos edifícios", diz Veloso, que ressalta a destruição de plantações de cana e do próprio pelourinho da vila, símbolo da autonomia administrativa.

Apesar disso, o professor não abre espaço para sensacionalismo. Tsunami? "A explicação é mais simples. Provavelmente foi uma ressaca."

Para a historiadora Wilma Therezinha Fernandes, professora da UniSantos, a história do maremoto é uma "bobagem". "Todo mundo fala, mas ninguém vai verificar. O que houve foi uma invasão do mar." Era a primeira ressaca registrada de muitas que ainda aconteceriam na região, acostumada a ser a pioneira também em outros temas.

Primeiro povoado a ser alçado à categoria de vila (o equivalente atual a um município), em 1532, São Vicente foi palco no mesmo ano daquela que é considerada a primeira eleição popular das Américas, visando eleger os membros da Câmara.

"Os analfabetos tinham direito a voto e buscava-se evitar o nepotismo", conta Fernandes. A Câmara, porém, não foi capaz de resistir à ressaca. Seu prédio foi um dos submersos em 1541 e permanece até hoje no fundo do mar.

Depois, São Vicente ainda assistiu nos séculos seguintes a ataques de piratas, conflitos com indígenas e à decadência da cana-de-açúcar –ali surgiu também o primeiro engenho do Brasil. Hoje São Vicente vê sua economia girar em torno do turismo de veraneio, com milhares de paulistas nas praias no verão.

Mais uma vez, algo histórico. Fernandes explica que, quando João Ramalho tornou-se o primeiro homem branco a subir a Serra do Mar, no século 16, ele usou trilhas indígenas anteriores aos portugueses. É que, durante o verão, os índios gostavam de visitar São Vicente para curtir uma praia.

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