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interior/litoral

Em Jundiaí, descendentes de italianos mantêm adegas e festas do vinho

Se algum desavisado passar por Jundiaí (58 km de SP) neste domingo (30), pode achar que errou a rota e chegou a um vilarejo da Itália.

No bairro do Caxambu, onde ficam muitas das adegas e a rota da uva da cidade, a comunidade se reúne para a 106ª festa do Senhor Bom Jesus, padroeiro do local, e a 16ª festa do vinho artesanal, feito na cidade desde a chegada dos imigrantes italianos, no século 19.

Voluntários misturam a polenta em tachos enormes, outros preparam macarrão, nhoque ou frango frito para o público local e visitantes -no ano passado, 20 mil pessoas passaram pelo evento.

Keiny Andrade/Folhapress
Raphael Sibinel, 86, Ricardo, 42, e Suely Sibinel, 38, produtores de vinhos e sucos, em Jundiaí (SP)
Raphael Sibinel, 86, Ricardo, 42, e Suely Sibinel, 38, produtores de vinhos e sucos, em Jundiaí (SP)

Raphael Sibinel, 86, é um entusiasta das festas, do vinho feito em casa e da Itália, país ao qual nunca foi, mas do qual preserva as tradições. Elas foram trazidas por seus avós, saídos de Treviso, nos anos 1880, para trabalhar na lavoura paulista de café.

O bairro reúne descendentes de italianos do norte da Itália, e boa parte das famílias tem algum parentesco.

No mesmo pedaço de terra no Caxambu em que nasceu seu pai, Santo Sibinel, em 1904, Raphael e seu filho, Ricardo, 42, vivem, plantam uvas e vendem o vinho produzido na sua adega.

A produção começou quando o avô e seus cinco irmãos conseguiram juntar dinheiro para comprar a terra.

Em maio deste ano, a cidade recebeu o título de município de interesse turístico. Apesar de concentrar grande número de indústrias, as pequenas propriedades agrícolas e a mata preservada da serra do Japi, que ocupa quase metade da área de Jundiaí, atraem visitantes e garantem a mistura do urbano e do rural, segundo Bueno.

"Jundiaí é uma cidade grande que não perdeu as características do interior", diz Marcela Moro, diretora de turismo da prefeitura.

Em Caxambu e seu bairro vizinho, Colônia (para onde eram encaminhados os imigrantes a partir da criação do Núcleo Colonial Barão de Jundiaí, em 1886), ficam as pequenas propriedades, as adegas, o museu do vinho, no complexo Villa Brunholi, e condomínios horizontais.

OURO VERDE

Já o centro conserva a memória da época de ouro do café em São Paulo, como o Solar do Barão de Jundiaí, a Pinacoteca, o Theatro Polytheama e a Igreja Matriz, reformada por Ramos de Azevedo.

Mas o principal marco histórico é a estação da antiga São Paulo Railway, hoje museu. Santo, o pai de Raphael, frequentou muito o local: além de trabalhar na agricultura, era carroceiro e levava lenha para a ferrovia.

Era também ali que Santo pegava o trem carregando os barris de vinho para vender no Brás, lembra Raphael.

Ele também já fez de tudo um pouco. Foi caminhoneiro e trabalhou em construção, mas nunca deixou de plantar uva e fazer vinho.

Hoje membro da Cooperativa Agrícola dos Produtores de Vinho de Jundiaí, vende tintos, brancos e o suco da fruta, na terra onde seus avós escolheram se fixar.

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