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novos jeitos de morar

Reunião de condomínio espanta maioria dos moradores

Quando decidiu morar em um condomínio no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, o administrador de empresas Armando Pereira Jr., 71, estranhou a necessidade de incorporar um novo hábito: o de participar das reuniões de moradores.

Após 45 anos vivendo em uma chácara em Embu das Artes, no interior de SP, ele decidiu se mudar para o prédio em que a namorada mora. Depois de cinco anos, ele ainda costuma fugir das assembleias do condomínio.

Alberto Rocha/Folhapress
Moradores do Edifício Quadrifóglio, na Vila Mariana, participam de reunião de condomínio para discutir compra de equipamentos para a academia
Moradores do Edifício Quadrifóglio, na Vila Mariana, participam de reunião de condomínio para discutir compra de equipamentos para a academia

O caso dele é a regra, e não uma exceção. Segundo pesquisa Datafolha, 54% dos paulistanos não têm o costume de frequentar as reuniões (veja quadro acima).

"Minha presença é aleatória. Quando tem a questão das vagas de garagem, eu vou para fazer número. Não tenho muita paciência", afirma o administrador.

Segundo Pereira, o que atrapalha nas reuniões é a falta de consciência coletiva. "Cada um quer puxar a sardinha para o seu lado", diz.

O administrador de empresas diz ainda que os vizinhos não sabem ouvir suas ideias e que até sofreu deboche. "Tem sempre aquele que acha que entende mais, um que diz que é advogado, outro não sei o quê É muita gente arrogante."

Eduardo Zangari, diretor de relações institucionais da AABIC (associação das administradoras de condomínios de São Paulo), diz que esse é um problema comum.

Editoria de Arte/Folhapress
SALA VAZIA Homens e jovens são os que menos participam das assembleias no prédio
SALA VAZIA Homens e jovens são os que menos participam das assembleias no prédio

"O condomínio é uma microssociedade, é um pouco o reflexo do país. O que a gente vê nas ruas está também no condomínio. Falta um pouco de cultura de discutir", afirma o Zangari.

Ele lembra o caso de uma assembleia em que se debatia melhorar os equipamentos de segurança. "A proposta não foi aprovada porque foi considerada cara. Então um morador mais preocupado com o tema disse que pagaria a compra do próprio bolso. Outro lhe respondeu rispidamente: 'ninguém paga minhas contas'." A mudança, no fim, não ocorreu.

Celso Von Atzingen, 61, trabalhou por 20 anos como gerente de condomínios, e hoje vive em um conjunto de quatro torres em Santana, na zona norte de São Paulo.

Ele diz já ter visto muitas pessoas deixarem as reuniões porque se cansaram dos debates inócuos. "Quem tem filho quer defender brinquedos e lazer. Quem é atleta só quer falar de quadras e academia. Isso acaba desmotivando a participação."

Para encher a sala, a AABIC recomenda que as pautas das reuniões sejam sucintas, estabeleçam um tempo máximo de discussão e contem com apresentações de computador, caixas de som e aplicativos para organizar as votações. Em alguns conjuntos residenciais, síndicos e moradores usam transmissão online das reuniões ou enquetes via aplicativos para atenuar as ausências.

Essas iniciativas podem auxiliar, mas por enquanto, não substituem as reuniões presenciais, segundo a gerente-geral da administradora Lello, Angélica Arbex.

Ela diz que os recursos carecem de respaldo na legislação. Por exemplo, ainda não é possível provar que o voto on-line de um morador tenha sido feito por ele próprio, de modo que o pleito poderia ser contestado na Justiça.

A pesquisa foi feita nos dias 10 e 12 de agosto e ouviu 493 pessoas das classes A, B e C em todas as regiões.

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