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zona leste de são paulo

Batalha de poesia ganha jovens e ruas dos bairros da zona leste

Se encontrar, ao sair de um metrô na zona leste, um grande grupo de jovens reunidos em círculo ao redor de uma caixa de som e um microfone, são grandes as chances de você ter se deparado com um tipo de campeonato de poesia chamado "slam".

Eles se proliferaram na região entre 2014 e 2016, depois que dois moradores chegaram às etapas finais do mundial de "slam", realizado anualmente em Paris, na França. Hoje, a zona leste concentra a maior parte dos grupos de poesia falada de São Paulo -são pelo menos oito.

Criados nos anos 1980 em Chicago, nos Estados Unidos, os "slams" são uma espécie de sarau, mas competitivo.

Aqui no Brasil, a maioria dos eventos segue o mesmo formato. "Cada grupo organiza um encontro mensal, geralmente em praças ou centros culturais gratuitos, nos quais qualquer pessoa pode declamar sua poesia", afirma Jéssica Balbino, 33, produtora cultural e pesquisadora de literatura da periferia.

Os eventos são de graça para quem assiste e para quem compete. De autoria própria, os textos devem ter até três minutos e podem ser preparados ou improvisados. Uma equipe de jurados, escolhidos na hora, atribui aos poetas notas de zero a dez.

"Não há prêmio em dinheiro, mas é comum que os vencedores recebam brindes de apoiadores, como livros, CDs e camisetas. Aí, os ganhadores de cada mês competem entre si, no final do ano, para definir o campeão anual", conta Balbino.

TEMAS SOCIAIS

As poesias podem ser sobre qualquer tema, mas é comum ouvir versos sobre questões sociais. Os frequentadores são, em sua maioria, jovens moradores de bairros vizinhos, mas já há veteranos do "slam" na região.

É o caso do ator Emerson Alcalde, 35. Frequentador de saraus, ele descobriu na Pompeia o ZAP! Slam, primeiro "slam" de São Paulo, e resolveu levar a proposta para o seu bairro. Em 2012, criou o Slam da Guilhermina, que acontece toda última sexta-feira do mês, às 20h, na saída do metrô homônimo.

"O local foi escolhido justamente porque é um lugar de passagem. Foi pensado para receber pessoas que normalmente não se interessariam por poesia", diz Alcalde.

O boom de seu "slam" veio em 2014, quando Alcade foi a Paris representar o Brasil na Copa do Mundo de Poesia e chegou até a final.

Para chegar ao mundial os "slammers" brasileiros precisam conquistar o Slam BR, competição anual com os poetas vencedores de todos os "slams" cadastrados no país. A viagem para Paris é o prêmio dos vencedores do campeonato nacional.

Morador de Itaquera, o rapper Lucas Afonso, 25, decidiu criar o Slam da Ponta em 2015, depois de acompanhar a trajetória de Alcalde até Paris. "Quando ele estava na Copa do Mundo, não era só um brasileiro, era um filho da zona leste que estava ali", diz. Em 2016, foi sua vez de participar do mundial.

Hoje, tanto Alcalde quanto Afonso investem em ações nas escolas da região.

"Fizemos uma parceria com a Escola Estadual Professor Salim Farah Maluf que permitiu aos alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos) frequentar o Slam da Ponta como substituição às aulas da primeira sexta-feira do mês", conta Afonso.

Alcalde, por sua vez, criou em 2015 o Slam Interescolar SP, campeonato estadual do qual participam 40 escolas públicas e particulares.

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