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zona leste de são paulo

Como a discoteca Toco mudou a cara da Vila Matilde

Nos anos 1970, na zona leste de São Paulo, um grupo de quatro adolescentes apaixonados por música transformou bailinhos na maior casa noturna da cidade, a Toco, que faria da Vila Matilde o destino de jovens paulistanos em busca de diversão.

Os amigos William Crunfli, Marco Antonio Tobal, apoiados por Romualdo Hatt e Luiz Mattos, decidiram organizar festas nas casas da vizinhança, juntar dinheiro e bancar a formatura no colégio.

Alberto Rocha/Folhapress
Da esq. para a dir.: o baixista John Deacon, da banda Queen; William Crunfli, da Toco; Freddie Mercury; outro fundador da casa, Marco Antônio Tobal; o guitarrista do grupo inlgês, Brian May; e o músico Roger Taylor, em 1981
Da esq. para a dir.: o baixista John Deacon, da banda Queen; William Crunfli, da Toco; Freddie Mercury; outro fundador da casa, Marco Antônio Tobal; o guitarrista do grupo inlgês, Brian May; e o músico Roger Taylor, em 1981

Era 1971, e na Vila Matilde viviam muitas famílias de imigrantes, sobretudo espanhóis, italianos e portugueses. O ponto de encontro era a Praça da Conquista.

"O bairro era muito simples. Tinha uma padaria, um mercado, um dentista e uma escola. Ainda havia chácaras e sítios", diz Crunfli, 62, hoje presidente da produtora de shows Move Concert.

Um ano depois do início da empreitada, os adolescentes batizaram o grupo de Equipe Toco -em homenagem ao sobrinho pequeno de Tobal, Alexandre, apelidado de Pitoco, mas que só conseguia pronunciar "Toco".

Alberto Rocha/Folhapress
Pista cheia na discoteca Toco, que fez fama na Vila Matilde entre os anos 1970 e 1990
Pista cheia na discoteca Toco, que fez fama na Vila Matilde entre os anos 1970 e 1990

Por alguns anos, os amigos se dedicaram a organizar bailes em garagens e quintais. Com mais público e dinheiro, passaram a ocupar uma fábrica nos fins de semana.

Depois, a Toco adotou o salão de festas da Sociedade Amigos da Vila Matilde, trocando-o mais tarde pelo ginásio de esportes do local.

Em 1979, conta Crunfli, veio a decisão de profissionalizar o negócio, e a Toco passou a ocupar o prédio onde antes funcionava o Cine São João, na Praça da Conquista.

O lugar recebia até 4.000 pessoas por noite nos fins de semana. A casa da zona leste se destacava pela estrutura de som e iluminação, com equipamentos importados, e pelas músicas. Orgulhoso, Crunfli diz que foi o primeiro DJ a tocar Pink Floyd numa pista de dança.

Não demorou para as baladas atraírem jovens de outras regiões de São Paulo. Quem não conseguia entrar por causa da lotação ficava na Praça da Conquista, até hoje conhecida como Praça da Toco. "É um patrimônio da Vila Matilde. Na época da Toco, era dominó de dia e festa à noite", diz Crunfli.

A Toco deu tão certo que, em 1981, entrou no segmento de organização de shows. Os britânicos do Queen, que se apresentaram no estádio do Morumbi, foram os primeiros da empreitada. Depois, vieram nomes como Faith No More, Ramones e Shakira.

Para manter a Toco atualizada, havia reformas a cada dois ou três anos. Numa delas a casa noturna passou a ter dois escorregadores e banho de espuma. Para promover as noites, os sócios contratavam bandas, como Blitz e Mamonas Assassinas, e atores, que iam aos camarotes.

A decisão de fechar as portas veio em 1997. "As discotecas não eram mais tão grandes, recebiam no máximo 700, mil pessoas. A concorrência aumentou, e as pessoas já não cruzavam mais a cidade para ir à balada na Vila Matilde", diz Crunfli. Em dezembro de 2016, a casa onde funcionou a Toco foi demolida para a construção de um supermercado.

Divulgação
Rodrigo Santoro com o DJ Marky na discoteca Toco, na Vila Matilde
Rodrigo Santoro com o DJ Marky na discoteca Toco, na Vila Matilde
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