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centro e zona norte

Livro mostra palacetes da elite cafeeira no centro de São Paulo

O bairro de Campos Elíseos, no centro, é um dos maiores retratos da chegada da elite cafeeira a São Paulo, no século 19.

Seus casarões e palacetes trouxeram um novo estilo de arquitetura para a cidade.

"A elite gostava de receber, dar festas, então havia uma parte social bem definida: salas de jantar com pinturas na parede, pisos trabalhados, sala de sarau, biblioteca, ambientes luxuosos", diz Melissa Ramos da Silva Oliveira, coordenadora do Laboratório de Patrimônio e Preservação da Universidade Anhembi Morumbi.

Esse é o primeiro momento, segundo Oliveira, em que cozinhas e banheiros vão para dentro das casas. "É a indústria cafeeira que investe em rede de água, esgoto e iluminação na cidade, para ganhar conforto."

Outra mudança é na posição das casas, elas foram para o meio do lote, para criar privacidade. Todos os cômodos ganham janelas e aberturas para ventilação e iluminação natural.

"Há uma preocupação com a questão de salubridade, em construir uma cidade mais saudável. E essa nova maneira de morar trouxe uma grande revolução na arquitetura", diz a professora.

Algumas dessas construções estão documentadas no livro "Campos Elíseos - História e imagens", do fotojornalista Juan Esteves, 60.

Filho, neto e bisneto de arquitetos, Esteves mapeia o legado arquitetônico do primeiro bairro planejado da cidade, nos anos 1870, projetado pelos alemães Frederico Glette e Victor Nothmann.

As fotos são tiradas a partir da calçada, para refletir a visão de quem anda pelas ruas do bairro, e todas em preto e branco —segundo Esteves, uma maneira de eliminar os "ruídos temporais contemporâneos" dos edifícios.

A maioria das construções é de arquitetos famosos. O Palácio dos Campos Elíseos, por exemplo, foi projetado pelo alemão Matheus Häusler e decorado pelo italiano Cláudio Rossi, responsável também pelo Theatro Municipal de São Paulo.

Levou nove anos para ser construído e, em 1899, passou a ser a residência de Elias Antônio Pacheco e Chaves (1842-1903), político e produtor de café. Com sua morte, o palacete foi vendido para o estado e serviu de residência para vários governadores.

Tombado em 1970, passou por restauração e hoje abriga o Centro Nacional de Referência em Empreendedorismo, Tecnologia e Economia Criativa.

Outro palacete do bairro foi construído pelo escritório do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928). Foi feito para Henrique Santos Dumont (1857-1929), empresário mineiro e irmão mais velho do aviador Alberto Santos Dumont. Sua família morou ali até 1926.

A decoração era luxuosa, digna da residência de um dos homens mais ricos do país, segundo Esteves.

Em 2001, tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico), foi cedido à Fundação Energia e Saneamento para sediar o Museu da Energia, inaugurado quatro anos depois.

Algumas das construções são ainda as últimas remanescentes de seus estilos arquitetônicos. É o caso do Parque Savoia, de estilo fiorentino.

Construído em 1939 pelo arquiteto Arnaldo Maia Lello, autor do projeto do Teatro Paramount, na avenida Brigadeiro Luís Antônio, ele hoje abriga várias casas de uso residencial.

A partir da década de 1920, a arquitetura moderna começa a influenciar o bairro.

O primeiro edifício do estilo modernista de São Paulo está lá: o Marina Mendes Margarido, construído pelo arquiteto Júlio Abreu, em 1927. Foi o primeiro projeto com as áreas de serviço voltadas para a entrada do prédio.

"Com a inauguração das estações Júlio Prestes e Luz, as pessoas que imigravam para São Paulo se instalaram na região. A oligarquia não gostou, e começou a se mudar para Higienópolis e Paulista. É quando a cidade começa a se verticalizar", explica Esteves.

Gregori Warchavchik (1896-1972), um dos grandes nomes do modernismo no Brasil, também construiu em Campos Elíseos o Edifício Mina Klabin, conhecido como Barão de Limeira, em 1939.

Arrojado para a época, ele tem as varandas dos apartamentos de frente curvas em argamassa com pó de mármore acinzentado. Foi restaurado em 2013 pelo seu neto Carlos Eduardo Warchavchik.

Há ainda no bairro o precursor dos apartamentos quitinetes. É o Edifício Lívia Maria, construído em 1935. Em estilo art déco, o prédio também abrigou o luxuoso Cine Oásis.

Campos Elíseos - História e Imagens
Juan Esteves, editora Independente, R$ 50 (217 págs.)

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