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Casacor 2018

Casacor explora desejo crescente do homem tecnológico de viver na natureza

A escolha do tema "casa viva" deixou a mostra Casacor deste ano ainda mais verde, com muitos materiais orgânicos e tons terrosos.

Essas tendências já circulavam na exposição de 2017, quando o tema "foco no essencial" foi interpretado por arquitetos e designers de interiores como uma oportunidade de renovar o vínculo do ato de morar com a natureza.

Agora, essa relação aparece de forma explícita na maioria dos 80 ambientes do evento, que vai até o dia 29 de julho no Jockey Club de São Paulo.

Diretora da mostra desde 2014 e jornalista de arquitetura e decoração há quase 30 anos, Lívia Pedreira diz que o ponto de partida foi a percepção de que o conceito de biofilia está se manifestando de modo contundente nas casas, na moda e na alimentação.

Disseminado nos anos 1980 pelo biólogo norte-americano Edward O. Wilson, o termo significa amor à vida e se refere a uma ligação instintiva, ligada à autopreservação, do homem com a natureza.

"Isso se completa com o impacto da tecnologia em nossas vidas. À medida que nos conectamos mais rapidamente com o mundo, mais vontade sentimos de estar perto da natureza. E não é só perto do verde. A tendência é trazer vida: ter animais, preparar e cozinhar o alimento, estar perto do fogo", diz Lívia.

Logo no início do percurso oficial, o visitante se depara com quatro "casas vivas", assinadas pelos escritórios Triplex, Marina Linhares, Paola Ribeiro e Suíte. Foram construídas ao redor de árvores existentes na área, forçando a integração com os jardins.

"O conceito partiu do flamboyant que estava dentro do espaço. Em vez de esconder, fizemos a casa e a paleta de cores girarem em torno dele", diz Daniela Frugiuele, do Suíte.

O projeto, com 280 m², permitiu que a árvore ocupasse uma ala expressiva da área de estar, uma integração de sala e cozinha que se abre para o jardim. Móveis e objetos têm tons de marrom, laranja, rosa e verde e materiais como pedra, couro, juta, algodão, madeira, fungos de árvores desidratados e sementes.

Com 56 m², a "casa menir", do Très Arquitetura, também fez uso de materiais naturais e rústicos no ambiente que reúne estar, quarto, cozinha, banheiro e jardim. O espaço não tem árvore dentro, mas apresenta um sistema de horta hidropônica que vai funcionar de verdade durante a mostra.

Dispostas em canos de PVC perfurados, as hortaliças são alimentadas pela água que circula impulsionada por uma bomba. A solução foi implantada pelo projeto Fazu, startup que atua com ONGs para tornar comunidades mais autossuficientes e com menos agrotóxico na comida.

Uns intensificaram a relação com a natureza, outros trabalham com a ideia de memória.

Nildo José fala de luto em seu "loft ninho". São duas caixas de madeira, uma com a cozinha e outra que reúne sala, quarto, banheiro e jardim suspenso. O ambiente de cores neutras fica ainda mais leve com a luz que vem de uma das janelas. "Minha ideia de casa viva é resgatar o ninho como espaço de arquitetura afetiva e, por meio da sua casa, você se restabelecer e se reconectar consigo mesmo", diz.

Os objetos em forma ou que retratam corações foram feitos, segundo ele, por artistas em momentos de separação ou morte. "A dor faz parte da vida. Temos que entender."

Já o escritório Triart explorou a memória do próprio Jockey, inaugurado em 1941, para criar a "cozinha matriz", com 40 m². Os arquitetos mantiveram o arco original na parede e optaram por descascá-la, revelando camadas de tinta até chegar ao concreto. "Não quisemos maquiar o lugar", conta André Bacalov.

Gustavo Neves foi outro que escolheu realçar as condições existentes em seu espaço de 200 m², a "casa neshamah". Em vez de colocar piso novo, o arquiteto interferiu na aparência do contrapiso do Jockey lixando, manchando com ácido e impermeabilizando.

Materiais rústicos e cores escuras marcam o ambiente. A parede, revestida com manta metálica e massa de concreto que mistura pedras e resinas, tem volumes e texturas irregulares. As mesas são feitas de pedras brutas e os metais aparecem sem polimento.

"Trouxe a casa para uma dimensão mais orgânica e espiritual, como se fosse ela mesma um organismo vivo."

A Casacor é laboratório para profissionais e fornecedores —que testam ali suas apostas e tentam sentir a adesão do mercado—, lugar de pesquisa para quem atua no segmento e, cada vez mais, um passeio para quem busca ideias para sua casa.

Do público de cerca de 100 mil pessoas de 2017, 45% não era profissional da área. "A mostra é para inspirar. Tem desde alguém fotografando um detalhe para copiar até outro que se identifica com o trabalho de um profissional e decide fazer projeto com ele", diz Lívia. Seja qual for o caso, ela recomenda que o visitante reserve uma tarde para circular pelos 17 mil m².

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