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Casa autossuficiente é sonho possível, mas custo e tecnologia são entraves

Com hábitos de consumo mais conscientes e uma boa ajuda da tecnologia, é possível deixar de pagar contas de água, luz e gás e viver numa casa totalmente autônoma, desconectada das redes de distribuição. Mas ainda há dúvidas se isso é sustentável e viável economicamente.

Hoje, a forma mais acessível de produzir a própria energia é com painéis fotovoltaicos, que geram eletricidade a partir da luz do sol. O problema é que, à noite, nada é produzido. Para ter uma casa desligada da rede seria preciso investir em baterias, o que envolve um alto custo.

"O valor da placa solar está baixando com o tempo, mas, no Brasil, não temos baterias domésticas sofisticadas. Esse é o entrave", diz Beto Cabariti, diretor de design da SysHaus, startup que faz sistemas construtivos sustentáveis.

Para garantir a autonomia energética, ainda seria necessário ter uma segunda fonte geradora, como uma turbina eólica, de acordo com Sasquia Obata, engenheira e professora da Mackenzie.

Isso porque em dias nublados, com menor irradiação solar, a produção pode não ser suficiente mesmo com o armazenamento em baterias..

Para não depender da rede de abastecimento de água, uma opção seria fazer captação das chuvas e tratar toda a água usada na residência.

"É complicado e caro, mas dá para fazer. As estações espaciais reciclam tudo", diz Luiz Henrique Ferreira, da Inovatech Engenharia, consultoria de sustentabilidade.

Ele também ressalva que um processo intensivo de purificação de água exigiria um consumo elevado de energia, o que talvez desequilibrasse a balança da autonomia da casa.

No caso do gás, já existem hoje no mercado biodigestores domésticos, que transformam resíduos orgânicos em gás para cozinha. Com um equipamento de R$ 1.600, a fabricante Recolast Ambiental promete uma produção equivalente a um botijão por mês.

Mas será que vale a pena investir na viabilização de uma casa independente?

"O isolamento total até pode depor contra a sustentabilidade. É possível ter uma casa autônoma pendurada em um banco de baterias. Mas qual seria o impacto ambiental dessas baterias?", diz Ferreira.

Para o especialista, o ideal seria um funcionamento interligado em pequenas comunidades, com residências, escritórios e comércio.

Assim, o excedente de eletricidade gerado por um um condomínio residencial durante o dia, por exemplo, poderia ser usado para abastecer um edifício corporativo.

No Jardim São Paulo (zona norte de São Paulo), fica uma casa que está perto da autonomia. No telhado, ela tem duas fontes geradoras de energia: painéis solares, com conexão com a rede elétrica, e um gerador eólico, ligado a baterias.

Quando carregadas, elas permitem que a casa funcione totalmente desconectada da concessionária. Os painéis fotovoltaicos continuam produzindo energia, que é encaminhada à rede. Isso gera créditos que podem ser usados em até 60 meses ou compartilhados com um imóvel de titularidade de uma mesma pessoa física ou jurídica.

Com três moradores, entre eles o criador da casa, o engenheiro João Barassal Neto, o local, chamado de Smart Eco House, só saiu do papel com a ajuda de empresas parceiras e serve para a demonstração dos equipamentos.

A residência tem outras soluções sustentáveis, como tratamento de água pluvial que garante economia de até 80% nos meses chuvosos.
Segundo Barassal, o valor dos equipamentos chega a R$ 450 mil. "Mas é um investimento que se paga", diz.

O que é preciso fazer para ter uma casa mais autônoma?

ENERGIA ELÉTRICA

  • Em geral, o sistema mais viável para a geração de energia em uma residência é o solar fotovoltaico, composto por painéis e um inversor
  • O número de painéis necessários é calculado a partir do histórico de consumo da residência dos últimos 12 meses, presente na conta de luz
  • O valor de instalação para uma casa com quatro pessoas fica em torno de R$ 15 mil a 20 mil. O tempo de retorno do investimento varia entre 3 e 7 anos
  • A garantia do sistema solar fotovoltaico é de 25 anos, mas sua vida útil pode ser maior do que isso
  • Em 5 de junho, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) expandiu o financiamento para energia solar e outros tipos de cogeração a pessoas físicas. Para saber mais: bndes.gov.br
  • É preciso analisar se o investimento vale a pena. O telhado deve estar, de preferência, voltado à face norte, ter área suficiente para a instalação e sem sombreamento
  • Se produzir energia excedente, é possível acumular créditos, com duração de até 60 meses, ou usá-los para para abater na conta de um imóvel de titularidade de mesma pessoa física ou jurídica Mesmo que o sistema produza mais energia que a consumida, como ele está ligado à rede, ainda será necessário pagar a taxa mínima cobrada pela concessionária

GÁS

  • Já existem no mercado biodigestores domésticos, equipamentos que transformam resíduos orgânicos e fezes de animais (ou até de gente) em gás para cozinha e fertilizante para hortas e jardim
  • O biodigestor da Recolast custa R$ 1.600, e a empresa afirma que a produção de gás é equivalente a um botijão por mês, podendo variar um pouco para mais ou para menos. Só é possível instalá-lo em casas e precisa ter um espaço de 2 m² para a escavação (uma parte do equipamento fica enterrada) e ficar a no máximo 10 metros do fogão
  • A produção de gás demora 30 dias partir do momento em que o biogigestor começa a ser alimentado
  • Para quem usa gás para esquentar água (ou energia elétrica), uma forma de economizar é usar um sistema de aquecimento solar
  • O sistema é composto por placas que captam o calor do sol e um reservatório térmico
  • Um modelo compacto da Soletrol, com 200 litros, custa R$ 1.400 e atende, segundo a empresa, uma residência de até 120 m² com quatro moradores
  • Nos dias mais frios e nublados, um sistema auxiliar usa a energia elétrica para complementar o aquecimento de água

ÁGUA

  • Além do balde, uma alternativa para usar a água que sai das torneiras e do chuveiros mais de uma vez antes de descartá-la é a Waterbox, uma cisterna vertical, com capacidade de 100 litros, vendida a R$ 834,90, na Leroy Merlin; leroymerlin.com
  • Para quem quiser investir mais, é possível ter um sistema de reúso de águas cinzas, que envolve tratamento da água que vem de lavatórios ou chuveiros para ser reutilizada para fins não potáveis, como rega de jardins e descarga. Como requer tubulações diferentes, deve ser pensado na fase de projeto.
  • Já a viabilidade do aproveitamento de águas pluviais depende da área disponível para captação e da precipitação no local

Fontes: Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica); Sibylle Muller, diretora da AcquaBrasilis; Beto Cabariti, diretor de design da SysHaus; e João Barassal Neto, diretor da Smart Eco House do Brasil

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