Dezenas de novas empresas nos EUA estão empenhadas em transformar comida desperdiçada em lucro.
Algumas buscam distribuir rapidamente a comida que seria jogada fora. E outras tentam extrair até o último grama de conteúdo aproveitável dos ingredientes.
As empresas em questão têm muito com que trabalhar. Até 40% da comida dos EUA vira lixo sem ser consumida. A maior parte do desperdício vem dos consumidores e do varejo, estima o governo.
A EcoScraps, do Estado de Utah, transforma restos de comida em produtos de jardinagem e obteve US$ 13 milhões em capital para empreendimentos.
"Ao longo dos últimos 12 meses, vimos investidores destinarem milhões de dólares a empresas em estágio inicial, que buscam atrair consumidores com base em sua sustentabilidade e transparência", disse Rory Eakin, vice-presidente de operações do CircleUp, um mercado para investidores e para marcas de bem de consumo em desenvolvimento.
Juan Ignacio Mazzoni/EFE | ||
Aplicativo oferece produtos próximos de perder validade |
"Muitas dessas marcas emergentes incorporam restos de comida e empregam materiais descartados como componentes de novos produtos". Outras, diz ele, estão trabalhando para resolver os incomuns desafios de distribuição e logística que o uso de sobras de comida como matéria-prima acarreta.
Todo investimento é bem-vindo. A Cerplus obteve um pequeno capital junto a parentes e amigos, no final do ano passado, e depois conseguiu US$ 20 mil da Y Combinator, uma incubadora de startups, em troca de ações caso a empresa venha a obter capital para empreendimentos ou atinja um valor de venda de mais de US$ 100 milhões. A empresa é uma espécie de intermediária on-line, ligando agricultores e atacadistas com produtos a ponto de perder a validade a restaurantes e outras empresas.
Até mesmo Beyoncé está envolvida. Ela recentemente adquiriu uma participação na Wtrmln Wtr, uma empresa que vende suco de melancia prensado a frio, produzido com melancias que não têm qualidade para venda.
A empresa foi criada no final de 2013 quando Jody Levy e Harlan Berger decidiram fazer alguma coisa sobre os centenas de toneladas de melancias que são jogadas fora a cada ano. A empresa diz prever um aumento de 385% em seu faturamento este ano.
Varejistas, atacadistas e empresas de serviços alimentícios podem rejeitar cargas inteiras de produtos caso identifiquem uma só caixa esmagada em um caminhão.
"Um caminhão em geral carrega 22 pallets, e isso é um dos fatores que ajudam a manter baixo o custo da comida neste país", disse Roger Gordon, empresário no ramo dos restos de comida.
"Mas se ninguém estiver disposto a pagar por produtos rejeitados, jogá-los fora é o caminho mais fácil".
Gordon é cofundador da Food Cowboy, que criou um app para conectar cargas de produtos rejeitados a organizações assistenciais e outras.
A empresa mantém um banco de dados com detalhes sobre plataformas de embarque, áreas refrigeradas e outros equipamentos, para ajudá-la a coordenar atividades.
Mesmo companhias tradicionais de alimentos estão encontrando ouro nas sobras de comida.
A Baldor Specialty Foods, que fornece alimentos a restaurantes e cozinhas institucionais, está desenvolvendo uma farinha feita de coisas como as partes duras do repolho e a casca da pimenta.
Outras sobras vão para a Flying Pigs Farm, uma das fornecedoras de carne suína da empresa, para servir como ração animal. "Sabemos do que os porcos gostam e do que eles não gostam", disse Michael Muzyk, presidente da Baldor. (Eles aparentemente se recusam a comer cascas de cebola).
Chefes de cozinha como Bill Telepan estão testando a farinha - a Baldor ainda não decidiu que nome ela levará -e algumas grandes cadeias de varejo de produtos orgânicos expressaram interesse. "Creio que ela será uma fonte positiva de receita - um dia", disse Muzyk.
Tradução de PAULO MIGLIACCI