Publicidade

Caçadores buscam veículos raros; saiba se há um na sua garagem

O último carro zero-quilômetro comprado por Julio Camargo, 35, foi um Chevrolet Chevette 1990. Isso não aconteceu há 26 anos, mas, sim, no mês passado.

O comerciante é um caçador de raridades. A missão é achar automóveis antigos que estejam em perfeitas condições de uso, pouco rodados e extremamente originais.

"Comecei por hobby, comprando carros para meu uso. Fiquei impressionado ao ver que existem veículos com alguns anos mantidos praticamente como saíram da fábrica. Aí veio o interesse de buscá-los", explica Camargo, que é dono da Julio Raridades.

Especialista em automóveis dos anos 1980 e 1990, o caçador conta que muitas descobertas surgem em viagens a cidades pequenas, onde as pessoas costumam usar menos o veículo.

"Também tenho colaboradores que me passam informações de veículos 'escondidos' no fundo de garagens", diz o comerciante.

Foi um desses colaboradores que, em 2014, contou a Camargo que um sítio em São José dos Campos (a 97 km de São Paulo) guardava uma coleção de modelos dos anos 1970 e 1980. Mas nem sempre o poder de persuasão funciona: o dono da coleção não lhe vendeu nenhum carro.

VALOR TRIPLICADO
Navegar pelo site reginaldodecampinas.com.br virou passatempo de quem gosta de carros de 20 ou 30 anos atrás. Alguns estão à venda, como o VW Golf GLX 1997, com 41 mil quilômetros rodados, por R$ 29,9 mil -quase o triplo do valor de tabela.

Na seção "Pérolas", o Ford Escort XR3 1991 e o VW Santana Quantum 1994 estão ali apenas para causar inveja. Eles não estão à venda e têm, respectivamente, 116 km e 265 km percorridos desde que saíram das fábricas.

Quem cuida do site é Reginaldo Gonçalves, 43. Não raro, carros cobertos pela poeira do tempo aparecem no seu caminho. Ele apenas a remove e encontra um novo dono.

"Fiz muitas amizades e uma rede de colaboradores. Tem de tudo, de gente que mora em outros países a viúvas", explica o comerciante.

Essa rede o levou à Mercedes 300SE que pertenceu ao sertanejo Xororó, com direito a documento autografado.

Alguns achados são resquícios de tempos difíceis no setor econômico. "No fim dos anos 1980, o Brasil vivia um cenário de inflação descontrolada. Muitos compravam carros novos como forma de investimento", diz Julio Camargo. "Com a estabilização, vender esses veículos não valeria a pena. Acabaram esquecidos em garagens"

AMBULÂNCIA
Robson "Alemão" Loris, 45, busca raridades onde pode e tem uma loja dentro de um shopping de carros, em Santo André (Grande São Paulo). "Muita gente me procura para vender o próprio automóvel", explica.

Vez por outra, ele esbarra em um modelo único, como a ambulância baseada em um Ford Galaxie 1969, oferecida por R$ 140 mil. "Só existe esse exemplar no mundo."

Há casos em que o tesouro achado acaba conquistando o caçador. A Mercedes que pertenceu a Xororó não sai da garagem do Reginaldo de Campinas, tampouco o Chevette SL/E 1990 de Julio Camargo. Alemão diz não "vender por nada" seu VW Passat Pointer 1987. Pode ser amor verdadeiro ou apenas charme para valorizar os carros.

DISTORÇÃO DE PREÇO
Os preços altos praticados no mercado de raridades não são consenso entre vendedores. Um lojista de carros antigos, que preferiu não se identificar, diz que o trabalho de caçadores de relíquias é importante, mas faz ressalvas quanto ao impacto dos valores pedidos por eles.

"Quando aparece um Volkswagen Gol GTI sendo oferecido por R$ 60 mil ou R$ 70 mil, todos que têm um carro do mesmo modelo passam a achar que podem pedir o quanto quiser no seu, mesmo que o veículo não esteja nas mesmas condições. As raridades são mais valiosas, mas é preciso ponderar sobre alguns preços", diz.

Há alguns casos em que somente uma paixão muito grande pelo modelo justifica a compra. No site do Reginaldo de Campinas, uma Chevrolet D-20 Custom S ano 1995, com apenas 6.000 quilômetros rodados, é oferecida por R$ 100 mil. Uma picape S-10 zero-quilômetro custa a partir de R$ 99,3 mil.

Para quem é leigo no assunto e deseja ter uma raridade na garagem, vale procurar colecionadores de carros para tirar as dúvidas. Clientes experientes, eles sabem medir o real valor dos modelos e pechinchar.

VOCÊ TEM UMA RELÍQUIA EM CASA?

Publicidade
Publicidade
Publicidade