Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
04/12/2012 - 15h29

Pressionada por rivais, Nintendo busca reação com o Wii U, seu novo console de videogame

Publicidade

NICK WINGFIELD
DO "NEW YORK TIMES", EM REDMOND (EUA)

Escondido nestes bosques há um pedacinho do reino do Mario. Por trás de portas discretas fica a empresa construída por ele, um encanador rechonchudo, e Luigi, seu irmão magrelo. Eles e outros personagens são os filhos "pixelados" de Shigeru Miyamoto, o Walt Disney dos videogames, um gênio criativo da Companhia Nintendo do Japão.

Mas, enquanto Miyamoto sonha seus sonhos no outro lado do Pacífico, um exército de marqueteiros trabalha aqui em Redmond, dentro da nova sede da Nintendo nos EUA. Esse palácio do jogo é tranquilo, mas há problemas fermentando no mundo ao seu redor: três décadas depois de o bigodudo Mario pintar nos fliperamas via Donkey Kong, o reino está sob cerco.

Kevork Djansezian - 5.jun.12/AFP
Shigeru Miyamoto, diretor de desenvolvimento criativo da Nintendo, durante lançamento do console Wii U
Shigeru Miyamoto, diretor de desenvolvimento criativo da Nintendo, durante lançamento do console Wii U

Os inimigos da Nintendo chegam aos batalhões. "Angry Birds", "Fruit Ninja" e outros games baratos para download, especialmente em celulares e tablets, invadiram seu território. A mudança de gostos e tecnologias põe em xeque a base econômica dos tradicionais consoles para games, seja da Nintendo ou da Microsoft, fabricante do Xbox. A Nintendo recentemente reportou o primeiro prejuízo da sua história como empresa de videogames, algo que seria inimaginável há poucos anos. Embora os consoles não estejam acabando, analistas estão céticos de que esse negócio possa recuperar sua antiga estatura tão cedo.

Tudo isso torna a próxima jogada da Nintendo crucial. A reação da empresa veio em 18 de novembro, quando a nova versão do seu console Wii chegou às lojas dos EUA.

O Wii original, primeiro console sem fio com captura de movimentos, foi revolucionário. A simplicidade do seu controle, que Miyamoto ajudou a projetar, atraiu novos públicos, como mulheres e pessoas mais velhas. Os clientes faziam fila nas lojas atrás dele. Isso acabou. Agora, o console Wii U pode ser a última e a melhor esperança da Nintendo para recuperar a sua antiga glória.

ESTREIA PRÓSPERA

A demanda inicial parece elevada. A rede de lojas GameStop praticamente esgotou seu estoque do Wii U, que custa a partir de US$ 300 (cerca de R$ 632), no começo da temporada natalina. "Acho que as pessoas estão famintas por inovação, e o Wii U está lhes dando isso", disse Tony Bartel, presidente da GameStop.

Mas muitos veteranos do setor e resenhistas de games questionam se o Wii U pode fazer tanto sucesso quanto seu predecessor, agora que muitos jogadores passaram para os games de dispositivos móveis, que são mais abundantes, baratos e convenientes.

"Eu realmente estou perplexo com isso", diz Nolan Bushnell, fundador da empresa Atari e padrinho do setor de games, sobre o Wii U. "Não acho que será um grande sucesso."

A principal questão, no entanto, é o que o futuro reserva para qualquer um dos principais sistemas para games, incluindo os novos que a Sony e a Microsoft devem lançar no ano que vem. Bushnell diz que os consoles atuais já oferecem gráficos notáveis e que só jogadores mais inveterados estariam dispostos a pagar centenas de dólares por um novo aparelho. "Essas coisas vão continuar pipocando por aí, mas realmente não acho que elas algum dia voltarão a ser de grande importância", diz.

Reprodução
Wii Mini, versão reduzida do primeiro Wii, e o controle Wiimote
Wii Mini, versão reduzida do primeiro Wii, e o controle Wiimote

A Nintendo está no negócio da diversão desde 1889. Seu fundador, Fusajiro Yamauchi, fabricava baralhos. Seu bisneto Hiroshi Yamauchi conseguiu um acordo de licenciamento da Disney e lançou baralhos do Mickey. Na década de 1960, a Nintendo foi para os brinquedos e jogos. Aí, em 1975, a Atari lançou uma versão doméstica do Pong, o primeiro jogo arcade de sucesso. Logo a Nintendo também estava indo atrás da onda dos videogames.

Mas a história dos hardwares para games está repleta de panes espetaculares, como a Sega, o 3DO e o próprio console da Atari, de Bushnell. A Nintendo resistiu graças a uma combinação de engenhosidade e foco obsessivo tanto no hardware quanto no software.

ESTRATÉGIA VITORIOSA

Sua aposta mais corajosa de hardware foi o Wii, que saiu numa época em que a Nintendo já parecia escapar para as margens. A Nintendo não tinha como participar da corrida armamentista liderada por rivais muito maiores, a Sony e a Microsoft, pela criação de sistemas com o máximo de potência gráfica. A estratégia do Wii levou a uma grande volta por cima. A Nintendo vendeu quase 100 milhões de Wiis, enquanto a Sony e a Microsoft despacharam cada uma cerca de 70 milhões dos seus consoles mais recentes.

A Nintendo não cria jogos para equipamentos de outras empresas, incluindo as centenas de milhões de iPod touch, smartphones e tablets que há por aí. Executivos dizem que isso representa uma oportunidade perdida, permitindo que uma nova geração de marcas, como Angry Birds, surja sem contestação nos dispositivos móveis, assim com a Disney fez em outro campo anos atrás, ao permitir que a Pixar ficasse dona da animação por computador.

"É a mais difícil decisão estratégica que a Nintendo precisou encarar em muito tempo", diz Robbie Bach, ex-diretor da Microsoft para o negócio Xbox.

'DIVERSÃO RASA'

Os celulares e tablets oferecem uma oferta quase infinita de games que tipicamente custam, no máximo, alguns poucos dólares. Jogos na web e no Facebook geralmente são grátis. Veteranos do setor argumentam que você tem aquilo pelo que paga: jogos para celulares e Facebook que são diversões rasas.

Os jogos para celulares afetaram as vendas de consoles portáteis da Nintendo e da Sony, mas analistas e executivos dizem que a ameaça não para por aí.

É provável que a Nintendo acabe enfrentando um desafio mais direto na sala de estar, por parte das mesmas empresas de tecnologia que remoldaram o negócio dos jogos para dispositivos móveis. A Amazon, a Apple e o Google são fortes candidatos a estarem nesse campo, dado o seu histórico de inovação.

Só que a Nintendo já contrariou as probabilidades antes. Bach, o ex-executivo da Microsoft, diz não subestimar a empresa. "Aprendi a não desprezar os caras da Nintendo."

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página