Disputa entre Apple e FBI expõe dilemas da indústria sobre privacidade
Mike Segar/Reuters | ||
Logo da Apple em Nova York; após ordem judicial, empresa se recusa a desbloquear iPhone de terrorista |
A polêmica entre FBI e Apple está reverberando em toda a indústria tecnológica, expondo os dilemas dos diferentes segmentos que lidam com dados pessoais de milhões de pessoas.
No Mobile World Congress, um dos principais eventos de telefonia celular do mundo, que acontece em Barcelona até quinta (25), fabricantes de hardware, operadoras e desenvolvedores de software tentam encontrar um consenso entre privacidade absoluta no ambiente digital e segurança no mundo real.
Embora a posição da Apple de se opor aos olhos curiosos do governo americano pareça o lado certo da questão para boa parte do público, ainda há muita divergência e pontos de debate entre as próprias empresas.
"Fundamentalmente, acreditamos que os usuários devem ser os donos de seus dados e saber quem tem acesso a eles, mas há circunstâncias extremas em que isso deve mudar", disse Simon Segars, executivo-chefe da ARM. A empresa é responsável pelo design básico dos chips da maioria dos processadores no mercado, incluindo telefones da Samsung, da LG, da Sony, da Motorola e da própria Apple.
Os processadores da ARM contém tecnologia específica para autenticação de mecanismos e chaves criptográficas –exatamente o que o FBI planeja romper no caso do atirador de San Bernardino, Califórnia, e que deu origem a disputa com a Apple.
Anne Bouverot, executiva-chefe da Morpho, empresa de segurança biométrica, parece concordar com Segars. "Privacidade é muito importante, mas queremos que o governo
nos proteja de ataques terroristas" afirmou. "A tecnologia precisa encontrar uma maneira de nos dar privacidade e segurança". A Morpho oferece soluções para governos.
A Apple, porém, ganhou palavras de apoio. Além de Mark Zuckerberg, que já havia demonstrado suporte à companhia na segunda (21), o serviço de mensagens Telegram revelou apoio. "Estou com o Tim Cook nessa", afirmou Pavel Durov, fundador da empresa, para aplausos do auditório que o assistia.
"Sempre há um risco de que o iPhone possa ser roubado e os dados serem usados contra você. Se aumentarmos as chances do iPhone ser violado, isso é extremamente perigoso", disse.
Já Sigve Brekke, executivo-chefe da operadora norueguesa Telenor, optou por uma posição ainda mais cautelosa. "Temos problemas em todos os nossos mercados. Gostaria que a legislação fosse a mesma sempre. As autoridades precisam saber que hoje em dia somos atores, no mínimo, regionais. Essas são questões que rompem fronteiras", afirmou.
O jornalista viajou a convite da Qualcomm
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