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Material digital constrói história humana, dizem especialistas
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DIEGO BRAGA NORTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em 5 de novembro de 2008, pouco depois de confirmada sua vitória nas urnas, o recém-eleito presidente americano Barack Obama postou em seu Twitter : "Nós acabamos de fazer história. Tudo isso aconteceu porque vocês dedicaram seu tempo, talento e paixão. Tudo isso aconteceu por causa de vocês. Obrigado".
Não só o fato virou história, mas as palavras escritas no microblog também.
Isso porque a Biblioteca do Congresso dos EUA firmou um acordo com o Twitter e passou a arquivar todas as mensagens enviadas desde a entrada do serviço no ar, em março de 2006. Além de tuítes, na seção de coleções digitais a biblioteca também se dedica a guardar outras informações em forma digital.
Para o historiador Pedro Puntoni, professor da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador da Brasiliana, a biblioteca on-line da instituição, o material digital produzido hoje representa parte importante da construção da cultura e da identidade contemporânea.
No entanto, a quantidade enorme de dados cria um novo problema: exige seleção e edição.
"Todo problema arquivístico passa por uma questão física, de descarte. A biblioteca é uma extensão da memória humana. E a memória exige o esquecimento. Se não, é uma patologia não esquecer. Guardar tudo que se escreve no Twitter para quê?", questiona Puntoni.
Rita Amaral, professora de antropologia urbana na USP e pesquisadora de cultura on-line, corrobora a opinião de seu colega. Segundo ela, o conteúdo digital "representa um gigantesco espelho de nossas capacidades e nossa diversidade".
Sobre a separação do joio do trigo, a professora afirma que "cabe ao pesquisador saber diferenciar a qualidade da informação que encontra".
Jonatas Dornelles, pesquisador com mestrado e doutorado envolvendo antropologia e internet, concorda. "O pesquisador digital tem tanta informação que, além de ser capaz de analisar, ele tem que ser capaz de filtrar muitas coisas."
Na tentativa de melhor aproveitar o potencial da internet para pesquisas, um novo campo de conhecimento está emergindo, chamado digital humanities (humanidades digitais).
"São estudos que aproximam a tecnologia das humanidades. Na Brasiliana, estamos atraindo pesquisadores com esse interesse. É muito legal, junta uma parte do ofício antigo com essa dimensão digital contemporânea", explica Puntoni.
"É um novo material que exige novos instrumentos de pesquisa e interpretação", finaliza.
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