Erh Ray defende maior igualdade de gêneros

QUEM É
Erh Ray

Ao abrir das portas do elevador high-tech em um prédio vizinho ao shopping Cidade Jardim, na zona oeste de São Paulo, o visitante dá de cara com uma parede coberta por azulejos pretos e um piso cor cinza que imita concreto.

À direita de quem entra no hall, um quadro de 2 m de altura, aproximadamente, traz o desenho de um garoto de calças e camiseta escuras, outra listrada por baixo e, nos pés, destoando do tom quase monocromático, tênis vermelho.

Tanto a postura do rapaz desenhado quanto a estampa da camiseta emanam um ar oitentista. Nela, está cravado "The Smiths", nome da banda inglesa, uma das mais originais da história do rock.

Logo na entrada do 12º andar, o quadro, arrematado num leilão pelo publicitário Erh Ray, 50, ostenta, coincidentemente, azulejos e piso parecidos com os que adornam os 900 m² da agência de origem francesa Betc São Paulo —a matriz fica em Paris, e a outra filial, em Londres. Suas janelas, que ocupam todo o pé-direito no fundo do imóvel, são voltadas para a marginal Pinheiros. Tal estética cria um contraste entre o retrô e o moderno. A quem chega, parece avisar: lá na criação, passado e futuro sempre dialogam e, assim, alimentam o presente.

Tudo ali carrega o olhar e a intervenção do diretor de arte. Casado, pai de dois filhos adolescentes, Ray é um cara que adora flertar com a moda, o design, a arquitetura e a decoração, elementos que interagem, graças às referências de suas viagens, sejam físicas ou intelectuais. "Meu universo são as imagens", diz ele. E conclui: "Os instrumentos mudam, mas as fontes continuam sendo as imagens".

CRISE

Saber ser criativo nestes momentos é fundamental. Achar soluções que o cliente não espere, saber usar esse corte a seu favor. Por sermos uma start-up, não somos reféns de nada. Não temos preconceito. Do organograma ao processo criativo, tudo por aqui é diferente do que ocorre no modelo tradicional.

IGUALDADE DE GÊNERO

Não adianta: masculino é de um jeito, e feminino, de outro. É fundamental ter esses dois olhares. Juntar os dois em prol dos clientes. As mulheres estão assumindo posições num movimento global, mas ainda temos muito que caminhar. Não parte só de nós, gestores. As pessoas que estão trabalhando precisam entender que existe igualdade de gênero: cliente, fornecedor, todo mundo ainda tem preconceito. A diferença salarial é de 24%.

CAMPANHAS ICÔNICAS

A que a F/Nazca faz para a Skol é convicta, consistente há mais de 20 anos, o ''Desce Redondo''. A do Itaú: do "i" digital. Quem diria que esse gesto se tornaria marca do banco [aquele que desenha a arroba com o dedo]. As da Almap/BBDO para O Boticário, mexendo com preconceitos, restabelecendo valores. É claro que por trás de tudo isso sempre tem um anunciante corajoso. É um casamento.

PARA FICAR NA HISTÓRIA

O "case" de Havaianas, criado pela Almap/BBDO, uma simplicidade que mistura arte com design. É uma campanha muito consistente que fez a marca de um chinelo, que "não tem cheiro e não solta as tiras", tornar-se uma marca de calçado global. Quanto vale isso?

NOVAS PLATAFORMAS

Não dá para desconsiderar o mobile. O mundo é cada vez mais digital. Misturar criatividade com dados é a receita de um bom trabalho para atingir o consumidor. É claro que a essência continua: ter boas ideias, mas saber distribuir de uma maneira diferente. Antes, as campanhas começavam pela TV e se espalhavam para outras mídias. Hoje, é o contrário. Penso na ideia, no problema do cliente e, a partir daí, saber como vamos distribuir e entender a jornada do consumidor. Aí, a tecnologia vai ajudar. É maquiavélico.

DESAFIOS DA PUBLICIDADE

Antigamente, as empresas tinham donos, e os donos mantinham uma relação de cumplicidade com o criativo das agências. Havia confiança entre essas pessoas, ou com o próprio dono da agência. Acabaram os donos, elas viraram grandes conglomerados. O mesmo ocorreu com as agências. Essa relação de confiança entre os dois lados acabou. Quando as relações são longas e duradouras, essas pessoas da publicidade se tornam quase gurus, viram consultores. Hoje, as empresas de consultoria estão assumindo o lugar das agências. Isso tudo é uma relação construída. Em toda a minha carreira profissional, sempre fui pautado para criar comprometimento com as marcas, com os meus clientes.

INSPIRAÇÃO

Como diretor de arte, estou muito ligado ao visual. Sou um cara de moda. Aprendi direção de arte com as revistas de moda. Desse conteúdo, nasce muita coisa. É um terreno criativo, assim como o do design, o da arquitetura e o da decoração.

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