Olimpíada vira vitrine para marcas de Finanças

O maior evento esportivo do mundo neste ano, a Olimpíada do Rio de Janeiro, foi responsável pela exposição a ele associada nos setores de bancos, cartões de crédito e poupança, de acordo com edição 2016 da Folha Top of Mind.

Arte Folha
Top of Mind 2016 - bancos

A maior visibilidade, antes e durante o evento, das instituições financeiras que patrocinaram os Jogos —banco Bradesco e cartão Visa— pode ter refletido no maior índice de lembranças, embora sem alteração nos rankings setoriais.

O Bradesco colheu os frutos da árvore plantada em 2010, quando decidiu ser um patrocinador oficial da Olimpíada e da Paraolimpíada do Rio. O envolvimento maior se deu a partir do último trimestre de 2015, com a campanha para a seleção dos condutores da tocha olímpica pelas cidades do país.

No Top of Mind, o banco apareceu novamente em segundo lugar (25%), mas com a menor diferença para o campeão, Banco do Brasil (31%), desde a primeira pesquisa.

"A escolha [dos condutores] resultou de um mecanismo democrático em que comunidades foram consultadas", diz Marcio Parizotto, diretor de marketing do Bradesco.

Um dos sucessos das ações do banco foi o vídeo que narra a história do menino Gabriel, que corre com prótese em uma das pernas e conduziu a tocha —teve mais de 36 milhões de visualizações até o início de outubro, transformando-se, segundo o executivo, no filme mais visto da história do YouTube. "Foi um o case mágico", diz Parizotto.

O êxito da campanha, na avaliação do banco, deve-se em grande parte ao fato de o ambicioso patrocínio da Olimpíada não ter sido "um espasmo", mas reflexo de um compromisso de longa data com o esporte.

O feito, porém, não apareceu no balanço do primeiro semestre, o período de maior exposição. Ao contrário, o lucro líquido declinou 5,7%, para R$ 8,3 bilhões, em relação aos primeiros seis meses de 2015.

Segundo Parizotto, os benefícios da campanha de marketing não aparecem necessariamente no curto prazo. Eles surgem com o tempo, à medida que a maior atratividade da marca produzir mais negócios.

O Banco do Brasil também fez ação em torno da Olimpíada, mas com alcance mais limitado. "Demonstramos a longeva parceria do banco com o esporte, com a ampla campanha da Torcida Brasil e o patrocínio ao vôlei e ao handebol", disse Luis Aniceto Silva Cavicchioli, diretor de estratégia da marca.

Para além dos Jogos, o BB procurou reforçar sua posição como "o mais relevante e confiável para as vidas de clientes, funcionários, acionistas e para o desenvolvimento do Brasil", segundo Cavicchioli. "Nossos produtos foram destaque nas mídias com a campanha sobre o uso responsável do crédito."

No marketing cultural, o BB continuou investindo na programação dos centros culturais em Brasília, Belo Horizonte, Rio e São Paulo, com destaque para a exposição "Triunfo da Cor", em parceria com o Musée d'Orsay, de Paris.

O resultado nacional da pesquisa esconde diferenças regionais. No Sudeste, por exemplo, estão tecnicamente empatados BB (25%), Bradesco (24%) e Itaú (24%).

CARTÃO DE CRÉDITO

Entre as principais bandeiras de cartões de crédito, a Visa também se beneficiou por ter associado sua imagem à Olimpíada.

Arte Folha
Top of Mind 2016 - cartao de credito

A marca se tornou ainda mais presente na lembrança do público, oscilando positivamente dois pontos percentuais, para 37%, liderança isolada. É ainda a mais lembrada entre os que têm de 25 a 44 anos (42%), os mais ricos (50%) e os mais escolarizados (48%).

A empresa tinha o cartão de crédito oficial dos Jogos —compras nas arenas de competição só podiam ser feitas com Visa— e fez uma ação focada em atletas que, durante o evento, usaram protótipos para realizar seus pagamentos. Houve quem usasse uma pulseira. Outros, anéis. Nos dois casos —e no de relógios, já comercializados— chips instalados nos objetos efetuavam a operação financeira.

"É um processo de desconstrução do plástico", diz Sérgio Giorgetti, diretor-executivo de marketing, em referência ao modelo físico tradicional dos cartões. "A Visa está se posicionando como empresa de tecnologia transformadora em meios de pagamento."

A Mastercard não investiu em Olimpíada. Ou pelo menos não diretamente. Desde março, pouco tempo antes da abertura dos Jogos, passou a apoiar o programa "Cristo Redentor", um dos cartões-postais da cidade-sede do evento esportivo.

A marca criou um vídeo, a partir da perspectiva de Cristo, que pode ser visto em 360 graus, do amanhecer ao anoitecer. Com a hashtag #RioNãoTemPreço, o vídeo havia alcançado mais de 25 milhões de visualizações até o início de outubro.

"A nossa campanha 'Não tem preço' continua encantando o consumidor", disse Beatriz Galloni, vice-presidente de marketing Brasil e Cone Sul da Mastercard.

Em um desdobramento dessa ação, "Surpresa que não tem preço", clientes são sorteados para realizar um sonho de consumo, como assistir a um jogo de futebol da Eurocopa, com acompanhante.

PLANO DE SAÚDE

No setor de planos de saúde, os dois primeiros colocados no ranking mantiveram os índices de lembrança do ano passado.

Arte Folha
Top of Mind 2016 - plano de saude

A Unimed continua isolada com 36% —sobe para 52% entre os mais escolarizados ou para 54% entre os mais ricos. A Amil marcou 6%.

As duas empresas também não alteraram as estratégias de marketing adotadas em anos anteriores.

"O Sistema Unimed se preocupa em traduzir o slogan 'Cuidar de você, esse é o plano' em ações que efetivamente melhorem a qualidade de vida da população", disse Edevard José de Araújo, diretor de marketing e desenvolvimento.

O Sistema Unimed é composto por 349 cooperativas, que prestam assistência a cerca de 19 milhões de beneficiários, 31% do mercado.

A Amil desenvolveu mais um aspecto da campanha contra a obesidade infantil. "Destacamos as dificuldades dos pais para impor limites aos filhos", diz Luiz Periard, gerente nacional de marketing.

POUPANÇA

A Caixa Econômica Federal, que fixa sua reputação como "o banco da poupança", também tentou ligar sua imagem à Olimpíada do Rio. Neste ano, a instituição investiu na campanha "Sons da conquista", em que homenageia cinco atletas patrocinados pela instituição que disputaram os Jogos cariocas.

Arte Folha
Top of Mind 2016 - poupança

"Foi uma campanha inovadora. Durante três meses, destacou-se com mais de 68 milhões de interações nas redes sociais, mais de 50 mil downloads das músicas e mais de 50 milhões de vizualizações nos clipes", afirma Mario Ferreira Neto, diretor de marketing e comunicação da instituição.

O banco atingiu 52% de lembrança na categoria Poupança, seu segundo melhor desempenho histórico —em 2015, obteve 54%. A marca lidera o segmento desde a estreia na pesquisa, em 2002.

Com 85 milhões de clientes e 37,4% de participação no mercado de poupança, a Caixa é a segunda maior instituição financeira do país, atrás do Banco do Brasil. É mais lembrada entre os que têm ensino médio (57%) e nas regiões Nordeste (56%) e Centro-Oeste (58%).

Segunda mais citada na pesquisa, a poupança Bradesco fez um movimento diametralmente oposto ao da Caixa. Beneficiada pela campanha olímpica, avançou dois pontos, chegando a 11%.

SEGURO

No mercado de seguros, a estratégia de marketing do Bradesco não surtiu o mesmo efeito. A instituição oscilou um ponto percentual para baixo, para 9%, e trocou de lugar com a principal concorrente, a Porto Seguro, que ganhou um ponto, assumindo a liderança, com 10%.

Arte Folha
Top of Mind 2016 - seguro

Tecnicamente, ambos continuam empatados, mesmo utilizando o critério de desempate "awareness" (total de menções): Bradesco atinge 14%, e Porto Seguro, 12%.

No caso da Bradesco Seguros, a ênfase do apoio à Olimpíada girou em torno da saúde proporcionada pela prática do esporte. A marca obteve seus melhores resultados entre os que têm de 45 a 59 anos e os mais ricos (14% cada um).

"O patrocínio vai ao encontro da estratégia da nossa atuação de difundir para a população a importância da prática esportiva e da adoção de hábitos saudáveis como pilares para a conquista da longevidade, com saúde, qualidade de vida e bem-estar", diz Alexandre Nogueira, diretor de marketing.

Entre outras ações com o mesmo objetivo, Nogueira citou as seguintes campanhas: a Corrida e Caminhada da Longevidade, o Fórum da Longevidade, o Movimento Conviva, que promove o convívio harmonioso entre motoristas, ciclistas e pedestres, e o Porteiro Amigo do Idoso, que já treinou mais de 2.000 profissionais em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas e Espírito Santo.

A Bradesco Seguros lidera seu segmento no país com cerca de 25% de market share [participação de mercado]. Em 2015, seu faturamento superou R$ 64 bilhões na área de seguros, capitalização e previdência complementar aberta —alta de 15% em relação a 2014.

As duas maiores empresas do setor desenvolveram campanhas semelhantes. A da Porto Seguro investiu nas peças criadas sobre o bordão "Deixe o ogro em casa".

"A ideia é estimular um ambiente mais gentil no trânsito", disse Rafael Caetano, diretor de marketing da empresa. A campanha, de caráter institucional, também oferece desconto de 7% para condutores que não tiverem pontuação na carteira de habilitação.

A Porto Seguro também focou suas ações nos dois extremos dos consumidores de seus produtos.

Donos de carros de luxo, acima de R$ 150 mil, têm tratamento VIP, como a entrega ágil do carro reserva. A marca é mais lembrada no Sudeste (20%), entre os mais escolarizados (20%), os mais ricos (22%) e nas classes A/B (18%).

Na outra ponta, em resposta à crise econômica, a seguradora aposta em produtos simplificados, com cobertura restrita, mas que, segundo o diretor de marketing, "cabem no bolso do consumidor".

Publicidade
Publicidade