Depois do digital

Vivemos na era da hiperconexão, e a tecnologia evolui de forma exponencial. Em um futuro próximo, não haverá barreira entre a vida física e a digital. A palavra "digital", que você tanto lê e escuta, perderá o sentido e ficará tão ultrapassada quanto o seu antônimo, "analógica".

O único conceito será o do Digital. Haverá quem celebre e quem discorde. O consenso é que é inevitável. O mesmo vale para a conexão: não existirá algo ou alguém desconectado.

Essa transformação é veloz, e os benefícios de uma sociedade digital são inegáveis e incontáveis. A conexão tornou, por exemplo, a educação mais democrática, facilitando o acesso à informação e conectando as cidades mais remotas ao resto do mundo.

Na medicina, a evolução do diagnóstico e dos tratamentos nos permite afirmar que já nasceu o ser humano que viverá 150 anos. As cidades inteligentes serão mais seguras com câmeras de reconhecimento facial, terão energia limpa e transporte mais eficiente. Viveremos melhor.

Gabriel Cabra/Folhapress
São Paulo, SP, Brasil, 18-08-2017: Eduardo Navarro, presidente da Vivo. (foto Gabriel Cabra/Folhapress) ***NÃO USAR ANTES DA PUBLICAÇÃO DO TOP OF MIND 2017***
Eduardo Navarro, 54, é presidente-executivo da Telefônica Brasil

A pergunta é o que virá depois do Digital. Se tudo será digital e conectado, o debate estará em outras frentes e identifico pelo menos três delas: o trabalho, a ética e a privacidade.

O modelo de trabalho como conhecemos hoje se transformará ainda mais rapidamente. A automação vai aumentar a produtividade de forma impensável, e a economia de plataformas (Uber, Airbnb, Nubank), Deep Learning e Machine Learning nos levará a repensar mais profundamente a relação entre capital e trabalho.

Em breve, decisões que hoje estão sob nossa responsabilidade vão ser tomadas por robôs com capacidade de fazer previsões. Mas sabemos pouco sobre a maneira como elas serão. Como garantir os critérios usados? A discussão sobre ética estará cada vez mais presente, principalmente, porque envolverá ações que afetam diretamente a vida das pessoas.

E tem a internet das coisas, que já está aí, na cancela do pedágio que se abre sozinha para o seu carro passar, mas vai se ampliar muito além da nossa imaginação. Em um breve futuro, a sua geladeira vai "conversar" com a loja de delivery avisando que o leite acabou. A sua cafeteira saberá a que horas e que tipo de café você toma e poderá recomendar novas variedades ou deixá-lo pronto quando você acorda. A sua roupa terá dados como a sua transpiração e a temperatura do seu corpo, que poderão ser enviados ao seu médico.

As máquinas conhecerão a sua rotina para o trabalho, para a casa e oferecerão ajuda para lhe guiar até o próximo compromisso. Conhecerão o seu estilo de dirigir (prudente? arrojado?), por quais esquinas você caminha e o que faz nos fins de semana. Serão milhares de equipamentos registrando e enviando dados sobre você.

Daí vem a pergunta: se toda a minha vida será digital, quem será o dono dessas informações? O desafio será a análise desse Big Data e o uso que se fará dele.

O debate sobre a privacidade já existe, mas vai se intensificar à medida que estivermos todos conectados.

Na empresa que lidero, estamos absolutamente seguros de que o único dono dos dados deve ser o próprio usuário, a quem cabe conhecer o teor das informações coletadas, decidir se quer dividi-las e por qual valor.

Em meio a essa rápida evolução tecnológica, temos apenas uma certeza: no centro desta transformação estão as pessoas. A tecnologia só faz sentido porque trabalha a nosso favor e não o contrário. A conexão deve aproximar as pessoas, e temos a certeza de que a tecnologia irá potencializar as relações em nossa sociedade.

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